A Formação do sentido de pertença nas famílias adotivas não é imediato e antes do nascimento, como nas famílias biológicas. Por vezes, estas crianças já tinham um sentido de pertença em relação a outras famílias ou figuras de vinculação; algumas crianças têm comportamentos e sentimentos que dificultam o sentido de pertença: medos, desconfianças ou problemas de comportamento.
Riscos nas famílias adotivas
Existem alguns riscos nas famílias adotivas, como por exemplo o dobro da probabilidade de recorrerem a serviços de saúde mental (tendência dos pais adoptivos para recorrerem mais frequentemente) ou maior frequência de problemas: comportamento agressivo, comportamento de oposição, comportamentos anti-sociais, rendimento académico mais baixo, problemas na atenção, hiperactividade (…).
Estes riscos são influenciados por alguns factores tais como a idade em que foi retirada à família biológica; idade no momento de adoçao; experiências prévias (maus tratos, abusos sexuais, negligência, forte vinculação a um dos pais biológicos), institucionalizações repetidas, tempo de institucionalização (adoções falhadas); problemas psicológicos ou físicos.
Como as crianças compreendem a adoção:
Até aos 3 anos não percebem a diferença entre família adotiva e família biológica. É importante ir introduzindo o tema através de uma linguagem relacionada com adoção, de modo a começar a “preparação” para a compreensão da sua situação (através de livros, histórias, desenhos sobre a história da criança na família (…)).
Aos 3 anos gostam de ouvir histórias sobre a sua adoção. Colocam questões sobre o significado de adoção. Podem existir medos de separação ou de abandono quando as crianças se recordam da perda de uma família anterior.
Até à idade escolar percebem que os seus colegas não são adotados, alguns podem sentir-se responsáveis pela decisão de terem sido dados para a adoção.
Na idade escolar pensam sobre a condição de adotados; percebem que ganharam uma família adotada, mas perderam uma biológica. Fantasiam sobre a família biológica e sobre a vida que teriam se não tivessem sido adotados. Alguns comparam-se com as outras crianças e negam a sua condição de adotados. Por vezes apresentam uma baixa auto-estima.
Na adolescência continuam a fantasiar sobre as suas origens e sobre como seria a sua vida se não tivessem sido adotadas. Tentam identificar-se com a sua família biológica, através de mudanças na aparência física.
É importante revelar e explicar o mais cedo possível a situação de adoção. Guardar segredo até muito tarde pode fazer com que a criança se sinta traída e se questione sobre a existência de outros segredos. Ou pode acontecer que a criança venha a saber da sua situação de adoção por outras pessoas, o que também leva a uma quebra da confiança.
Transmitir a ideia de que a família “não desistiu” da criança, mas sim que se tratou dum plano de adoção com vista ao seu maior bem-estar.
Mesmo informações mais “difíceis” (condições da família biológica, situações de abuso físico ou sexual) podem ter de ser reveladas embora em contexto e idade apropriada e com apoio e aconselhamento.
As crianças necessitam de formar relações de vinculação seguras, é mais fácil para crianças colocadas (adoção/acolhimento) em idades precoces e com ambiente estável do que para crianças mais velhas e com história de maus tratos ou negligência. A tarefa de formar novas relações é muito mais difícil para crianças que aprenderam a usar estratégias defensivas na sua família biológica.
Características Disfuncionais das Crianças adotadas:
A nível comportamental algumas crianças apresentam dificuldade no controlo dos impulsos; comportamentos auto-destrutivos; agressão física e verbal principalmente contra membros da família; roubo; mentiras óbvias; atitudes e comportamentos sexuais inadequados; perturbação do sono. Apresentam problemas de enurese e encoprese; comportamentos de oposição desafiadores; hiperatividade, agitação, necessidade constante de estimulação e actividades que levam a comportamentos anti-sociais; por vezes agem como se os seus atuais “cuidadores” fossem responsáveis pelos abusos e maus tratos que sofreram no passado.
A nível emocional apresentam descargas intensas de fúria, raiva, mesmo violência, contra “cuidadores”, particularmente os “cuidadores” femininos; episódios de tristeza inconsolável, desamparo e depressão; respostas emocionais inadequadas; mudanças abruptas de humor; exigências ou birras inadequadas; ressentimento, confusão, desilusão; sentimentos de culpa; sentimentos de rejeição e abandono; baixa auto-estima; ambiguidade de sentimentos face aos pais biológicos e alguns padrões inseguros de vinculação.
A nível cognitivo apresentam dificuldade em reconhecer e perceber consequências das suas acções (ex: não se sentem responsáveis pelas suas escolhas e acções, preferindo culpar os outros). Tem uma percepção de si mesmos como não indesejáveis, maus, desamparados e, por vezes, poderosamente perigosos e uma percepção dos “cuidadores” como indisponíveis, hostis e incapazes de amar.
A nível social são superficiais e sedutores com estranhos, tem dificuldade em olhar nos olhos; Fracas relações com pares; Relações manipulativas e controladoras com os outros tem uma Consciência ou remorsos fracos face à dor que causam nos outros.
A nível físico e de desenvolvimento têm pouca higiene pessoal e auto-negligência; confusão sobre os seus próprios estados fisiológicos; padrões alimentares inapropriados; evitamento do contacto físico.
A nível da Intervenção, existem vários pontos a trabalhar com as crianças e a família:
Gestão de Relações
Criança:
- Identificar e expressar os próprios sentimentos e necessidades;
- Lidar com medos relativamente à proximidade sem recorrer ao evitamento.
Resolver perdas passadas
Pais adotivos:
- Trabalhar as próprias perdas;
- Ajudar as crianças a expressar o luto;
- Aceitar o significado de vinculações anteriores;
- Promover interações positivas com a criança;
- Responder às necessidades das crianças reconfortando e acalmando;
- Ter expectativas realistas relativamente à capacidade de vinculação das crianças e aceitar que as expectativas actuais podem ser irrealistas, dadas as experiências passadas da criança.
Identidade
Criança:
- Ligar passado, presente e futuro através da reconstrução da sua história de vida;
- Reconhecer o que ganharam de positivo com outros e reconhecer a capacidade para ultrapassar experiências difíceis;
- “Normalizar” a adoção conhecendo outras crianças adotadas e falando sobre os seus sentimentos.
Pais adotivos:
- Comunicar abertamente sobre adoção, respeitando o interesse da criança pela família biológica, e ajudando-a a integrar as suas heranças na família adotiva;
- Estabelecer um clima de abertura sem segredos, e partilhar informação com a criança sem serem excessivamente protectores.
Conhecer outras famílias adotivas
Sentido de auto-eficácia
Criança:
- Aprender a ter controlo sobre a vida e a ter um maior sentido de escolha e poder;
- Identificar e expressar sentimentos e reconhecer quando reagem de forma negativa;
- Aprender formas positivas de exercer poder e controlo em vez de o fazer através de comportamentos oposicionais e negativos, de modo a gerir os sentimentos de modo construtivo;
- Compreender o significado dos acontecimentos nas suas vidas.
Pais adotivos:
- Reconhecer a diferença entre sentimentos e comportamentos, e gerir a sua própria fúria e frustração;
- Abandonar lutas pelo poder;
- Reconhecer que nem sempre conseguem eliminar a dor dos filhos.
Capacidade de auto-regulação
Criança:
- Identificar sentimentos;
- Apreender a diferença entre sentimentos e comportamentos;
- Regular os próprios comportamentos;
- Dominar a impulsividade e ter auto-controlo.
Pais adotivos:
- Compreender as necessidades da criança;
- Facilitar a expressão de sentimentos e necessidades;
- Reconstruir a história da criança e a interpretação da sua história;
- Garantir à criança a sua segurança;
- Estabelecer uma relação de confiança;
- Estabelecer regras e definir fronteiras.
Psicóloga Clínica Margarida Alegria
Clínica Médica Dentária Nuno Alegria
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