Barreiro
   
  Os Exames Nacionais e o Princípio da Igualdade - 2006-06-23
   
 
Sendo Portugal uma República, daí decorre que se rege constitucionalmente pelo Princípio da Igualdade, isto é, aos cidadãos deve ser proporcionada igualdade de oportunidades.

Sendo os Exames Nacionais um modo a priori igualitário (sabendo nós que de facto assim o não é), de aferir conhecimentos e seriar candidatos ao Ensino Superior, poder-se-ia pensar, segundo legítimas expectativas, que a todos os examinandos deveria ser proporcionada uma igualdade inicial de circunstâncias para a prestação de provas; provas essas de que vai depender o seu futuro, não apenas imediato, mas até, a sua vida profissional com tudo o que isso implica.

Também nesta matéria me parece que a governação dita socialista enveredou por aquele tipo de “ Igualdade” que Orwell tão bem descreve em “ O Triunfo dos Porcos”, cujo lema era o de que “ todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros”, é que mutatis mutandis, aos alunos do 4º Agrupamento do 12º ano ( Humanidades), coube em “ sorte” a realização de uma Prova de Exame por dia , entre segunda-feira, 19 de Junho e sexta-feira, dia 23 de Junho; pormenorizando: Português A – dia 19, Sociologia - dia 20, História – dia 21 , Filosofia – dia 22 e Inglês – dia 23. Atente-se que esta é uma série de disciplinas bastante comum entre os alunos do referido Agrupamento, pois, até se dará o caso de um aluno que tenha Introdução ao Direito e Inglês, por exemplo, ter de realizar ambas as Provas no mesmo dia, a primeira às 9 horas da manhã e a segunda às 3 da tarde.

Vejamos então o que se passa no 1º Agrupamento (Científicos) numa série igualmente bastante comum de disciplinas: Português B- segunda, dia 19 ; Biologia – quarta, dia 21 ; Química – sexta, dia 23 ; Matemática – terça, dia 27; Física – segunda-feira, dia 3 de Julho.

Ora, aquilo que os alunos de “Letras” vão ter que fazer numa semana, os seus colegas de “ Ciências” farão distribuído por três semanas; é óbvio que não me passa pela cabeça censurar a oportunidade dada aos últimos, mas tão só lamentar e protestar contra a falta de equidade, revelada pela ausência de igualdade de oportunidades que muito prejudicará os primeiros.

Bem sei que muita gente pensa (?) que “ letras são tretas”, o que não esperava, é que fossem capazes de passar ao acto, sem sequer terem a preocupação de salvar as aparências.

Para quem anda sempre a “encher a boca” com a ética republicana, haja vergonha, meus senhores!... (e sobretudo minha senhora, Ministra da Educação).

Post Scriptum: pelos vistos aquilo que o Ministério da Educação considera anti-pedagógico quando praticado pelas Escolas, mais de três testes na mesma semana, passa a não o ser, quando praticado pelo próprio Ministério, com a agravante de não se tratarem de simples testes mas de Exames Nacionais. Tão “preocupada” que a Sr.ª Ministra se tem revelado com as suas condições de realização no que respeita aos fenómenos contestatários que possam vir a perturbá-los.
Pois, pois, bem prega Frei Tomás …

*Professor e Encarregado de Educação


António José Carvalho Ferreira

 
Diário de Notícias
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