Distrito
   
  Carácter Político - 2004-10-22
   
 
“O mal só prospera quando os homens de bem se calam”
Edmund Burk

Segundo o dicionário de português, a política é uma arte. A arte de governar.
Será assim? Ou será que a política é uma disputa de poder em que os que nela intervêm, normalmente, se esquecem do que nos diz o sempre fiel dicionário?

Vejamos... Em períodos eleitorais são sempre feitas um rol de promessas para acabarem com os problemas dos eleitores que, na maioria das vezes, durante o mandato, são esquecidos, ou seja, ficam por resolver. Os mesmos períodos são usados até à exaustão, para passar uma mensagem precisa e meticulosamente pensada para uso exclusivo da campanha eleitoral.

O objectivo é claro. As informações transmitidas nesse período são para a denominada “caça ao voto”. O alvo é específico. Os analfabetos, os menos esclarecidos, os pobres e dependentes que, por ignorância, não questionam.

Como diria Espinosa “A forma mais eficaz de controlar o povo é continuar com a ignorância”. Talvez por isso a aposta na educação e na formação seja tão escassa. Um povo esclarecido não seria mais difícil de controlar?

A influência no eleitor é passada através de mensagens curtas e simplistas, nos meios de comunicação social. Principalmente na televisão onde têm direitos de antena, períodos gratuitos para propaganda política.

Cada um em dez portugueses não sabe ler ou escrever, sendo um alvo fácil de levar a comprar “gato por lebre”. Assim, o político, pode continuar a manipular aproveitando-se de conhecer os desejos e necessidades do eleitorado para ganhar o precioso voto. Utilizando o ingénuo em prol dos seus interesses e dos grupos económicos que os patrocinam.

Oferecem-se bonés, canetas e porta-chaves, sorrisos e promessas. Muitas promessas deste mundo e do outro... O povo deixa-se manipular pelo marketing político, que consegue fazer passar um desgraçado por um herói e vota inconsciente, “anestesiado” pela terra dos sonhos prometida.

Razão pela qual se justifica este “milagre”, que me incomoda, de indivíduos débeis e fracos, candidatos a pseudo políticos, continuarem a subir.

Assim funciona o aparelho político e talvez por isso, os mais inteligentes e esclarecidos não se metam na política.

É uma pena. Este factor leva a que os medíocres e mesquinhos, sem formação ou actividade, encontrem na política um óptimo lugar para chegar e vencer, com o único propósito de obter protagonismo – carreirismo político. São estas as mentes políticas que temos. Assim se justifica o desinteresse do povo pouco informado, como revelam as elevadíssimas taxas de abstenção.

A política é uma arte que está a ser constantemente violada. Quem tem poder, garante não só os jobs for the boys, como os grandes grupos económicos que os apoiam. Será esta a arte de servir e bem prestar?

Caro leitor, poderá questionar, então, por que estou envolvido no meio político?? Esclareço, primeiro, não tenho qualquer ambição de poder. Segundo, porque presto serviço social, em prol dos mais pobres. Através da política consigo mais apoios. Por último, encontro-me dentro do aparelho político para denunciar situações erróneas, como as que acabo de vos descrever que, apesar das muitas pressões, não temo.

Mesmo assim acredito que, no meio da promiscuidade política, ainda existam pessoas

Deixo um conselho. Guarde os programas eleitorais, acompanhe de “olhos bem abertos” os mandatos e verifique o que foi cumprido e o que foi “esquecido”. Para a próxima estará mais informado, elucidado, preparado para questionar.

Era esta a realidade esperada pós 25 de Abril?

Cláudio Anaia

 
Diário de Notícias
 © Copyright Distrito Online 2003