O debate, que teve como eixo a competitividade da plataforma portuária-industrial de Sines para o desenvolvimento da área da logística, foi integrado nas actividades da Rede Corredor Azul, iniciativa de cooperação inter-urbana em que Sines e mais nove localidades do Alentejo (Santiago do Cacém, Vendas Novas, Montemor-o-Novo, Évora, Elvas, Estremoz, Arraiolos, Vila Viçosa e Borba) se juntaram com o objectivo de agregar massa crítica e meios para se tornarem mais competitivos e desenvolvidos.
Os trunfos de Sines
Manuel Coelho, presidente da Câmara Municipal de Sines, abriu a discussão na perspectiva do desenvolvimento global de Sines e da região. O autarca reiterou a sua convicção de que será a dinamização do Terminal XXI, enquanto porto de mercadorias com uma componente de logística associada, que poderá conduzir à diversificação do tecido empresarial de Sines, abrindo caminho a actividades mais geradoras de emprego e com menos stress ambiental do que as baseadas nas energias fósseis, hoje dominantes.
Dotado de grande margem de expansão e condições naturais únicas (como as boas condições climatéricas, que lhe permitem operar 365 dias por ano, e os fundos capazes de receber navios de grande calado), o Terminal XXI tem potencialidades únicas no quadro portuário português. De acordo com dados transmitidos no fórum por Lídia Sequeira, presidente da APS, é já o terceiro terminal mais importante do Porto de Sines, com 11% do total de carga movimentada. Também de acordo com informações da presidente da administração portuária, a Zona de Actividades Logísticas (ZAL) ligada ao porto de contentores, cuja primeira fase de infra-estruturação foi concluída em 2007, encontra-se neste momento em fase de comercialização, com os primeiros clientes a instalar-se.
O porto é o principal factor competitivo de Sines, mas é-o sobretudo quando associado à grande bolsa de terrenos que lhe está adjacente. Miguel Borralho, director da Zona Industrial e Logística de Sines, lembrou as condições excepcionais do parque industrial de Sines, com 2500 hectares de terreno neste momento disponíveis para a instalação de empresas, a possibilidade de receber incentivos fiscais através da aicep Global Parques e a integração da componente económica à componente social e urbana: “Sines é um todo: um local para viver, um local para trabalhar e um local para descansar”.
Ganhar mercado e massa crítica
Mas a capacidade da plataforma portuária-industrial de Sines ter um efeito reprodutivo, diversificando o tecido empresarial e promovendo a formação de empresas mais exigentes em mão-de-obra, conta ainda com algumas limitações.
Um dos calcanhares-de-Aquiles mais frequentemente apontados ao projecto de Sines voltou a estar em evidência no debate do Fórum Logística e Tecnologia: as acessibilidades. Para Fernando Nunes da Silva, professor do Instituto Superior Técnico, os governos não têm feito uma aposta verdadeiramente estratégica em Sines e o atraso na conclusão de obras como o IC33 (Sines - Évora) é disso sintoma. Jorge Costa, presidente da Associação Portuguesa de Logística, também considerou “difícil de explicar” que, no contexto das potencialidades de Sines, os acessos ferroviários ainda não estejam resolvidos. Lídia Sequeira manifestou-se em desacordo com estas visões, afirmando que nos últimos 10 anos se concretizaram muitos projectos importantes nesta área, nomeadamente a ligação ferroviária Lisboa - Faro.
A qualidade das acessibilidades é ainda mais importante no quadro de um mercado pequeno como o desta região, facto considerado por alguns intervenientes como causa directa do fraco desenvolvimento do sector da logística e da pouca diversificação do tecido empresarial em Sines. “A logística só funciona com um mercado muito maior. Enquanto ele não existir, a logística não aparece”, disse Nunes da Silva, para quem deve ser promovida uma maior articulação entre os centros urbanos de Sines, Santo André e Santiago do Cacém e uma inserção mais profunda no “hinterland” da Área Metropolitana de Lisboa.
A assunção, enunciada por Miguel Borralho, de que a falta de pessoal é ainda uma debilidade de Sines foi contrariada pelo presidente da Câmara. “Não há dificuldade em atrair trabalhadores para Sines, nem problemas de alojamento. A questão é atrair as empresas, não os quadros, porque Sines é uma cidade com qualidade de vida e atractividade”, disse Manuel Coelho, descrevendo o trabalho que a autarquia tem vindo a desenvolver para dotar Sines de bons equipamentos públicos, habitação a custos controlados e planeamento.
Do ponto de vista das pequenas empresas de Sines, grande parte delas prestadoras de serviços às empresas-âncora do complexo portuário-industrial, o desafio é ganhar massa crítica. “Estas microempresas de serviços cresceram muito para as grandes indústrias e não se desenvolveram”, reconheceu Micael Raposo, presidente da Associação Empresarial de Sines, para quem a formação dos quadros das PME’s de Sines é fundamental. “O Sines Tecnopolo terá um contributo para esta formação. É preciso massa crítica para desenvolver, procurar novos mercados, exportar o ‘know-how’ que as pequenas empresas foram criando nestes anos de suporte do sector petroquímico”.
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