Um dos aspectos mais fascinantes, relacionado à ciência do desporto na actualidade e, que tem sido motivo para o desenvolvimento de muitas pesquisas e publicações, é a relação entre o exercício físico e a longevidade. Esta é a mais irresistível de todas as panaceias prometidas por alguns “especialistas” em exercício físico e saúde.
Actualmente, milhões de entusiastas, seduzidos pelas promessas dos gurus do fitness e dos semideuses da bata branca, correm, dançam, alongam-se fervorosamente com as suas roupas, calçados e acessórios de marcas suspeitas, nos parques, praias, clubes e ginásios espalhados por todo o mundo, na esperança de se conseguir viver mais.
Mas, apesar da noção já bastante divulgada de que os exercícios físicos acrescentam “mais vida” aos anos, não há evidências demonstradas por estudos de que a sua prática possa prolongar a vida da nossa espécie.
O envelhecimento biológico é uma realidade. Embora alguns pesquisadores admitam a hipótese de que tenhamos um potencial genético para viver de 110 a 120 anos, a maioria é unânime em estipular um limite próximo dos 80 anos – devemos excluir desta teoria as mais recentes descobertas acerca do organismo humano e do seu processo de envelhecimento celular, até então pouco divulgadas.
Admitir um limite biológico para a longevidade, mesmo assim uma probabilidade em alcançá-lo, vai depender de vários factores. As doenças, o sexo, a raça, as condições sócio-económicas, a hereditariedade, a nutrição, o estilo de vida, o ambiente; alguns entre muitos, inclusive a prática do exercício físico, que todos reunidos irão influenciar a duração das nossas vidas. Nitidamente, a questão é bastante complexa.
São tantas variáveis – muitas das quais não compreendemos e são difíceis de mensurar –, que é virtualmente impossível prever o tempo de vida de um ser humano. Portanto qualquer promessa nesta direcção torna-se simplista e irresponsável.
Nesse emaranhado de elementos mal definidos e inqualificáveis, foi lançada a complicada questão dos exercícios físicos e o seu relacionamento com a longevidade.
Estudos sobre esta relação tratam quase que exclusivamente da morte por doenças do foro cardíaco e, com razão.
As doenças cardiovasculares são das principais causas de morte nas sociedades industrializadas e, qualquer impacto mensurável na expectativa de vida teria que afectá-la.
Além disso, a motricidade humana depende do sistema cardiovascular, pelo menos na medida em que o coração, artérias e veias distribuem os principais nutrientes até às células responsáveis pela contracção muscular.
A pesquisa nessa área é vasta e controversa. Estudos após estudos sobre o exercício físico e a longevidade apontam para resultados tão contraditórios que uma qualquer conclusão não passa de uma frágil opinião.
Ideias intuitivamente atraentes, outras impregnadas de qualidades e, ao mesmo tempo mágicas são difíceis de dissipar.
Ao se fazer uma retrospectiva, parece estranho que muitos “conceitos” e “pressupostos” não tenham passado por um olhar mais crítico e, que não se tivesse dado mais crédito a trabalhos semelhantes que não demonstraram nenhuma evidência entre o exercício físico e a longevidade, ou até mesmo que alguns revelaram que uma prática regular extenuante poderia levar à morte prematura.
Há uma explicação muito simples para o motivo da indefinição do relacionamento entre o exercício físico e a longevidade. Talvez não haja nenhuma relação entre elas.
Muito menos entre a quantidade de exercícios físicos que um adepto possa praticar e a quantidade de anos que poderá viver.
Quando se parte da crença de que os exercícios físicos prolongam a vida, os dados em contrário ou conflituosos certamente serão preocupantes e intrigantes.
Mas, quando admitimos a hipótese ou, acreditamos que será possível através da sua prática regular, proporcionar mais vida aos nossos anos, é seguro afirmar que o exercício físico prolonga a qualidade de vida.