A Humana Portugal, associação sem fins lucrativos que trabalha, desde 1998, a favor da proteção do meio ambiente, promovendo a reutilização têxtil e levando a cabo programas de cooperação para o desenvolvimento em África e de apoio local em Portugal, recolheu cerca de 1 017 toneladas de têxtil usado no distrito de Setúbal no ano de 2019. Este valor corresponde a cerca de 2 milhões e 3 mil peças de roupa que têm uma segunda vida graças à reutilização e à reciclagem.
Ao tratar-se de um dos setores mais poluentes do mundo, a moda necessita de soluções sustentáveis para garantir o correto fim do seu ciclo de vida ou, em alterativa, promover a sua reutilização. Considerando que por cada quilo de roupa reutilizado e não incinerado evitamos a emissão de 3,169 kg de CO2 de acordo com um estudo da União Europeia, é essencial dar destaque ao tratamento dos recursos têxtis como combate às alterações climáticas. Por conseguinte, ao recuperar 1 017 toneladas de têxtil significa que se deixou de emitir mais de 3 223 toneladas de CO2 para a atmosfera.
Os portugueses deitam fora aproximadamente 200.000 toneladas de roupa usada anualmente, parte da qual vai parar aos caixotes do lixo indiferenciados. Apesar de, na sua totalidade, os resíduos têxteis perfazerem cerca de 4% de todos os resíduos produzidos no nosso país, tem se verificado nos últimos anos uma subida do seu volume, devido a uma realidade que não é exclusiva a Portugal, mas comum a todo o mundo ocidental como resultado da fast fashion – moda acessível que segue tendências muito efémeras e que, por isso, se torna obsoleta num curto espaço de tempo.
Segundo Filipa Reis, promotora nacional da Humana em Portugal “é fundamental a consciencialização da população, sobretudo dos mais jovens, já que estará futuramente nas suas mãos a proteção ambiental e este passo só pode ser dado através da educação”.
Componente social
O trabalho da Humana desenvolve-se em estrita relação com os municípios para a instalação de contentores que garantem uma segunda vida a cada peça de roupa desperdiçada. A associação terminou o ano com 826 contentores verdes distribuídos por todo o país através de mais de 142 parceiros públicos e privados. Trata-se de um modelo de gestão sustentável dos resíduos que apoia as administrações locais a atingir o objetivo da recolha seletiva de têxteis obrigatória em 2025 por parte de todos os estados membros, imposta pelas diretrizes da União Europeia.
De acordo com Filipa Reis, “todas as partes implicadas devem redobrar os esforços para aumentar os valores de recolha seletiva, não só para respeitar o objetivo imposto por Bruxelas, mas também para potencializar o benefício ambiental e social da roupa usada”, acrescenta.
O serviço de recolha de têxteis é gratuito e representa uma poupança significativa nos gastos de recolha e tratamento dos resíduos urbanos, fomenta a economia circular e o emprego verde.
O benefício ambiental
A reutilização e a reciclagem têxtil são essenciais ao combate contra a mudança climática, uma vez que reduzem o desperdício em depósitos controlados e usinas de incineração e, consequentemente, a emissão de gases de efeito estufa.
No total, a Humana recolheu 3.400 toneladas de têxtil em Portugal, em 2019, o que preveniu a libertação de 10.775 toneladas de CO2 para a atmosfera. Este valor equivale à emissão anual de 4.064 carros (que circulem 15.000 km/ano) ou a absorção de CO2 por parte de 80.407 árvores durante um ano.
A roupa como motor de cooperação para o desenvolvimento, apoio local e sensibilização
A gestão sustentável dos resíduos têxteis permite-nos obter os recursos necessários para investir em iniciativas sociais. Depois de mais de duas décadas de atividade e graças ao apoio dos parceiros locais, dezenas de milhares de pessoas beneficiaram dos programas de desenvolvimento da Humana nos países do Hemisfério Sul, sobretudo as zonas rurais e com elevados índices de pobreza da Guiné-Bissau e de Moçambique.
Todos os anos, a Humana destina fundos para a formação de professores de educação primária, o fomento da agricultura sustentável ou a luta contra o HIV/SIDA, entre outras ações. A valorização da roupa permite igualmente criar recursos, que em conjunto com as entidades públicas e privadas com quem estabelecemos parcerias, são destinados a iniciativas de sensibilização e de apoio local em Portugal.