Abaixo o stress, por um coração mais saudável!
Aqui há dias, vi um artigo no jornal O Público que me deixou a pensar. Ao ler o título “Estudo revela ligação entre o stress e os problemas cardiovasculares”, deixei instantaneamente escapar para mim própria um sarcástico “oh, a sério?! Não me digas”. Mas imediatamente depois, ocorreu-me que talvez seja bom saírem umas notícias destas de vez em quando, para nos relembrar (a cada um de nós e aos senhores que mandam no mundo…) que a forma como se tratam as populações muito provavelmente não tem consequências apenas para os próprios cidadãos. Através de um raciocínio simplista, chega-se facilmente à conclusão de que ignorar a saúde mental das pessoas pode sair caro (em todos os sentidos). Empiricamente, sabe-se que as doenças cardiovasculares não reduzem apenas a esperança média de vida e a sua qualidade. Elas são também responsáveis por quebras de produtividade, baixas de longa duração, internamentos hospitalares frequentes, intervenções cirúrgicas dispendiosas e medicação crónica pouco barata, reformas antecipadas por invalidez, etc. Ou seja, se uma população tiver uma grande prevalência de doenças cardiovasculares, isso traduz-se, para além do óbvio sofrimento para quem delas padece, em grandes encargos para as empresas sejam elas públicas ou privadas, para a Segurança Social, para o Serviço Nacional de Saúde e para a Sociedade em geral.
Existem muitos factores que nos protegem ou que, pelo contrário, aumentam o risco de virmos a sofrer os enfartes e os acidentes vasculares cerebrais. Isso torna complicado o estabelecer de comparações entre países de forma a perceber que “modelos” devemos copiar para melhorar o estado das nossas artérias. Já parecia mais ou menos óbvio que não basta seguir a tão famosa dieta mediterrânica, se ao mesmo tempo tivermos o hábito de fumar, não fizermos exercício ou tivermos uma pesada carga genética, existindo vários estudos relativamente antigos que o foram demonstrando ao longo do tempo. Quanto ao factor de risco “stress” propriamente dito, havia até há pouco a ideia de que este era bem capaz de influenciar a nossa saúde (todos sabemos que se andarmos mais tranquilos a tensão não nos sobe tanto). Este estudo do qual o artigo do Público fala veio dar mais uma força a esses argumentos, ao encontrar uma relação entre os níveis de stress crónico e o risco de sofrer problemas cardiovasculares.
Posto isto, fiquei a pensar com os meus botões que talvez aquela ideias que já vinha tendo faz bastante tempo sobre os perigos do stress em que se vive hoje em dia e de que formas se poderia inverter esta tendência podem não ser totalmente descabidas. Ideias sobre a importância do investimento dos estados no bem estar das suas populações e de como isso pode influenciar a riqueza de um país; ideias sobre um rendimento básico incondicional que permitisse a todos os cidadãos viver com dignidade; sobre um horário de 35 horas que permitisse a todos os trabalhadores ter tempo livre, para si e para a família e ainda para a participação cívica; sobre a equidade; sobre a desburocratização da vida em geral e do trabalho em particular.
Ana Raposo Marques