“O que é que o Barreiro tem? Um ambiente experimental urbano, festivais, música, uma zona industrial com inúmeras possibilidades de reconversão e uma identidade assentes no associativismo. O que é que o Barreiro não tem? Talvez a capacidade para estimular o potencial que tem entre mãos”. O texto de Vítor Belanciano deu mote à Tertúlia “A música e o futuro do Barreiro”, que contou com a presença de diversos agentes locais.

Rui Pedro Dâmaso, presidente da Direção da OUT.RA – Associação Cultural – que organiza o OUT.FEST – Festival Internacional de Música Exploratória do Barreiro – defendeu que “a música pode ter um papel relevante para resolver uma série de questões no Barreiro, designadamente o envelhecimento da população, a reabilitação urbana, a promoção do turismo e a revitalização da vida nocturna e do lazer no concelho”, enaltecendo que “nos últimos anos a imagem externa do Barreiro tem melhorado significativamente devido à multiplicidade de eventos que ocorrem na cidade”.

Para Carlos Ramos, da Hey Pachuco, director do festival Barreiro Rocks, a cidade “precisa de uma programação contínua de música ao longo do ano que faça renascer a dinâmica que caracterizava o Barreiro sobretudo nos anos 80 e 90 e de uma estratégia global que ajude a cimentar a identidade que já existe e a dar-lhe uma dimensão maior”.

Já Jorge Moniz,  director pedagógico da Escola de Jazz do Barreiro, defendeu que o Barreiro já tem “eventos e iniciativas culturais capazes de diferenciar a cidade e ajudar a lançar o nome do município para além das fronteiras do próprio concelho, em termos regionais e em termos nacionais”. No entanto, alertou que “actualmente essas iniciativas estão estranguladas por diversos motivos e sem capacidade de expansão e de crescimento”.

Rui Pedro Dâmaso corroborou as palavras do responsável da Escola de Jazz do Barreiro. “Nós fazemos o melhor que sabemos, mas sempre com um espartilho apertadíssimo que nos impede de sonhar e, consequentemente, de crescer”, lamentou o responsável do OUT.FEST.

O OUT.FEST, de acordo com Rui Pedro Dâmaso, tem um orçamento de cerca de 50 mil euros, cinco mil euros são assegurados pela Câmara Municipal do Barreiro, sete mil euros por entidades locais e a maior fatia pela Direcção Geral das Artes.

No caso particular do Barreiro Rocks, Carlos Ramos não tem dúvidas: sem o apoio público o festival não existia.

A música, no sentido lato, foi referida pela unanimidade das pessoas que intervieram na Tertúlia como um factor que poderá ajudar ao desenvolvimento da marca “Barreiro”, mas o presidente da Direção da OUT.RA – Associação Cultural  foi mais longe e sugeriu que a cultura poderá ser a alavanca para “vender” a cidade fora de portas. “Nós temos rendas muito mais baixas do que Lisboa, temos uma série de espaços que precisam de reabilitação e, sobretudo, de vida, por isso, penso que poderia existir uma estratégia mais global que procurasse atrair as pessoas das áreas criativas e das áreas artísticas, permitindo, desta forma, criar uma massa crítica que faz falta ao Barreiro”, explicou.

De acordo com Bruno Vitorino, a Tertúlia, organizada pelo movimento Dar Futuro ao Barreiro, surgiu da vontade de “abrir à sociedade civil a discussão de temas que dizem respeito à cidade”.

Em relação ao tema, o promotor da iniciativa defendeu que o Barreiro “não deve continuar a apostar em tudo”, mas sim “encontrar factores diferenciadores capazes de colocar a cidade no mapa por bons motivos”.

“Temos que ter a coragem de escolher rumos, sendo certo que não vamos concordar todos com os caminhos escolhidos”, rematou.