A calçada da Rua Arronches Junqueiro, na Baixa de Setúbal, está a ganhar nova vida com uma ação de pintura protagonizada por comerciantes e moradores no âmbito de um projeto inédito de valorização e dinamização daquele espaço da cidade.
Durante quatro dias, uma dezena de comerciantes e moradores está a dar mais cor e vida à rua com a pintura das pedras da calçada, numa extensão total de 277 metros. As primeiras pinceladas começaram a ser dadas ontem de manhã.
A ação é uma das intervenções do “Vamos Colorir a Nossa Rua”, projeto dinamizado com o apoio da Câmara Municipal de Setúbal com o objetivo de envolver as pessoas que vivem ou têm negócio nesta zona da cidade na valorização da atratividade do espaço público e na promoção do comércio local.
“O principal objetivo é dinamizar e revitalizar esta rua”, sublinhou a vereadora das Atividades Económicas da Câmara Municipal de Setúbal, Eugénia Silveira. “Apesar de criar desalento, porque tudo ficou parado, a pandemia reforçou a união das pessoas”, assinalou a vereadora, referindo-se ao facto de a iniciativa ter nascido dos próprios agentes económicos e moradores.
Além da vertente de promoção do comércio local, o “Vamos Colorir a Nossa Rua” aposta nas questões relativas ao melhoramento do meio ambiente.
“O facto de ficar estabelecido o corte de trânsito nesta rua ao longo dos quatro dias, retira o barulho e a poluição, além de permitir que venham para aqui atividades que normalmente não podem estar porque os carros estão sempre a passar. É o caso das esplanadas ou da pintura ao ar livre pelas pessoas que fazem artesanato”, sublinhou a vereadora do Ambiente, Carla Guerreiro.
Eugénia de Almeida, proprietária da oficina de reciclagem criativa ReBorn – Upcycled Jewelry&Handcraft, é uma das impulsionadoras do projeto, cuja ideia nasceu há cerca de dois anos e encontrou no período pós-confinamento uma alavanca, pela falta de turistas.
“Falava-se nisto entre meia dúzia de pessoas. Apresentámos o projeto à Câmara, foi bem-recebido e andou depressa. A situação crítica que se vive agora ajudou, uma vez que há pouco turismo estrangeiro e nacional”, refere.
De pincel na mão e tinta salpicada pela roupa, Mariana Ricardo, da oficina Imaginação com Arte, outra das comerciantes envolvidas no “Vamos Colorir a Nossa Rua”, está pronta para dar mais cor às pedrinhas da calçada por onde passa todos os dias há mais de uma década.
“Levo a vida a pintar e a dar aulas na minha loja”, conta.
Mas, desta vez a tela é outra. A calçada assume agora o azul, o verde, o amarelo, o laranja e o vermelho como mote. “No final, a rua vai parecer uma manta de retalhos”, refere a artista.
Igualmente com porta aberta na Rua Arronches Junqueiro, Rafael Piatkiewicz, filho dos artistas que criaram as cerâmicas Maria Pó, autores dos Pasmadinhos gigantes que alegram o Jardim do Bonfim, afirma que o mais interessante deste projeto é tornar a artéria mais visitável e visível.
Ao chegarem à Rua Arronches Junqueiro pelo Largo da Misericórdia, conta, “as pessoas pensam que é um deserto e já não sobem”.
Esta ação pretende “chamar a atenção” dos transeuntes e “mostrar que esta também uma rua viva e que também tem negócios e coisas interessantes para descobrir”.
Com um pincel impregnado em tinta amarela, Rafael avança a todo o ritmo na pintura da calçada e vai incentivando os vizinhos a pintar. “Vizinho! Já está a fugir? Então era para pintar e já está a fugir? Vamos lá!”
Entre as pessoas que por ali passam as opiniões são unânimes.
Para Roseli Costa, a rua está a “ficar lindíssima”.
O marido, José Costa, constata, com entusiasmo, que o trabalho está a ficar “fantástico”. A ideia é “maravilhosa, simples e funciona”.
A pintura da calçada, com início ontem de manhã, prolongando-se até ao final da tarde de domingo, é aberta à participação de todos os interessados, cumprindo as regras sanitárias de distanciamento físico, uso de máscara e higienização das mãos.
O município fornece os materiais necessários.
Além da intervenção artística na calçada, o projeto “Vamos Colorir a Nossa Rua” inclui um conjunto de atividades até domingo, designadamente animações de rua. Os moradores embelezam as varandas e janelas com floreiras.
A Rua Arroches Junqueiro faz a ligação entre o Largo Defensores da República e a Rua da Velha Alfândega.
Entre os espaços que se destacam contam-se ReBorn – Upcycled Jewelry&Handcraft, Maria Pó e Imaginação com Arte, além de restaurantes como Adega dos Garrafões, A Faca e U Tópico e alojamentos como o Day Off Hostel.
Ali perto, há a Porta do Sol, o Museu do Trabalho Michel Giacometti e o Miradouro de S. Sebastião para visitar.
Trânsito
Devido à realização desta intervenção na via pública, a Rua Arronches Junqueiro está encerrada ao trânsito automóvel até domingo.
A circulação rodoviária nesta via está totalmente encerrada durante este período, exceto no horário entre as 08h00 e as 11h00 para permitir a realização de operações de cargas e descargas.
Pelo mesmo motivo, a Rua Francisco Augusto Flamengo também está encerrada ao trânsito no mesmo período, no troço compreendido entre as ruas das Mosqueiras e Arronches Junqueiro.
Em alternativa, os automobilistas devem utilizar o percurso composto pelas ruas Dr. Vicente José de Carvalho e de Santa Maria, Largo António Augusto de Aguiar, Rua Pereira Cão e Avenida Luísa Todi.
Com o objetivo de garantir a segurança da intervenção, foram instalados na via impedimentos amovíveis.