A primeira pedra do convento franciscano da Madre de Deus de Verderena, foi lançada no dia 18 de Dezembro de 1591, com o intuito de este convento vir a substituir o convento de Nossa Senhora da Consolação, em Palhais, que lhe era próximo, e onde os frades ‘arrábidos’ adoeciam. 

De linhas sóbrias e pequena escala, o convento da Madre de Deus de Verderena ainda possui o seu claustro, igreja e algumas dependências conventuais. Edificado sobre linhas ortogonais, conforme era costume fazer-se na Arquitectura Clássica, todas as dependências são paralelas ou perpendiculares à igreja. Destaca-se pela sua beleza e simplicidade o claustro, os tectos abobadados, e as velhas lajes que cobrem praticamente todo o piso térreo.

CLAUSTRO FRANCISCANO – O claustro é pequeno, de planta quadrada com cerca de 12 metros de lado, e é rodeado por galeria com cerca de 1,50 metros de largura, sendo a galeria coberta por abóbada de canhão que descarrega sobre arquitrave apoiada em colunas toscanas de pedra, e nos ângulos em pilares de pedra. O pátio claustral possui quatro canteiros e ao centro um poço, ou boca de cisterna. É possível que o claustro tenha tido no seu subsolo uma cisterna onde eram recolhidas as águas das chuvas. E é também possível que tenha havido sepultamentos tanto ao longo das galerias claustrais, como na ‘sala do capítulo’, pois esse era o costume na Ordem dos Frades Menores. 

IGREJA- De nave única, com um vão de cerca de 6,00 metros, a igreja tem capela-mór profunda onde se adivinha ter existido um rico altar-mór em talha dourada, nas traseiras do qual e dissimulada estaria a sacristia. Nesse altar-mór teria havido o habitual acesso à sacristia por duas pequenas portinhas, como as há no convento também ‘arrábido’ de Loures. A igreja ainda tem no seu interior os umbrais em pedra que mostram onde eram os dois confessionários e o púlpito. Na capela-mór está a pedra tumular de Dona Francisca de Azambuja (+1621), e voltados para o oficiante perduraram felizmente dois nichos revestidos a azulejo, cada um dos quais representando um religioso franciscano, sobrepujado por anjos que seguram recados em latim. A linguagem destas figuras pintadas em azulejo, é igual à dos revestimentos azulejares da igreja do convento de Santo António dos capuchos de Lisboa, que também era de franciscanos. 

GALILÉ- A igreja possui galilé, espaço coberto que antecede a entrada, e que está pontuado por colunas toscanas em pedra, sobre as quais abre uma simples janela rectangular que dava luz ao coro-alto. No centro do frontão há um pequeno nicho, onde teria certamente estado uma imagem da Madre de Deus. A galilé dá acesso a uma pequena capela, que ainda mantém o seu altar, embora desprovido já de imagens.

CRONOLOGIA DAS CAMPANHAS DE OBRAS – Depois de construído, o convento teve pelo menos mais duas campanhas de obras, a primeira das quais em 1658, quando se fizeram as abóbadas do claustro, e a segunda em 1707, quando se fez novo dormitório no piso superior.

PATRIMÓNIO ARRÁBIDO – A sobriedade, simplicidade e escala pequena da arquitectura deste convento, espelha bem o franciscanismo e a Ordem dos Frades Menores à qual pertenciam os religiosos que o habitavam. O convento da Madre de Deus de Verderena, no Barreiro, fazia parte da ‘Província de Santa Maria da Arrábida’ à qual também pertenciam por exemplo o convento da Caparica, convento dos capuchos da serra de Sintra, o convento da Arrábida e o convento de Loures. 

Este convento ‘arrábido’ que se mantém de pé no Barreiro, distingue-se não apenas pela qualidade arquitectónica, simples e sóbria, como pelo facto de ter sido construído por iniciativa de uma padroeira, Dona Francisca de Azambuja, que nele se fez sepultar no dia 22 de Janeiro de 1621, há precisamente 400 anos.

PIEDADE, Espelho de Penitentes…, 1728, pp.723-727.  

 Ana Assis Pacheco