Esta semana estalou uma polémica ligada às novas decorações de Natal no edíficio da Câmara Municipal de Setúbal. A beleza das mesmas, aliada à aparente opulência, acabou por gerar uma sensação de ostentação para muitos setubalenses. A indignação tem-se feito sentir e já foram vários os jornais que abordaram a questão, que vai mais além da exuberância das decorações.

Todos reconhecemos que estas decorações natalícias nos Paços do Concelho não aconteceram somente este ano, no entanto, sentimos que desta vez é diferente. Desta vez há uma crise a despontar, há uma ameaça emergente de retrocesso na qualidade de vida para uns, ou de aprofundamento de falta de qualidade vida para outros.

Muito recentemente foi divulgado de novo na comunicação social, o caso da Quinta da Parvoíce, onde as dificuldades se agravam com a crise sanitária. Mas se andarmos um pouco mais para trás, são cada vez mais repetitivos os testemunhos de quem está à frente de instituições de solidariedade ou mesmo quem está na retaguarda, como voluntário, acerca do aumento exponencial nas famílias que pedem ajuda para se alimentarem e vestirem com dignidade.

O nosso concelho sempre foi um dos mais afetados com estes problemas, que se acentuam em momentos de crise. Não é um fenómeno localizado nem original: o mundo inteiro foi atingido por esta terrível pandemia, que trouxe consigo consequências económicas que se duplicam de dia para dia e, naturalmente, os mais vulneráveis, ou seja os mais pobres, os mais dependentes, são inevitavelmente os que mais sentem na pele.

É por isso que nos choca saber de algumas opções governativas como esta, em Setúbal. Para além desta ornamentação natalícia, segundo dados do Portal dos Contratos Públicos, desde o ínicio deste ano que já se despenderam cerca de 150 mil euros em decoração e design de interiores, entre avença ao decorador e contratos celebrados com a empresa do mesmo, sendo esta decoração dos Paços do Concelho, apenas o momento em que se despertou para o assunto.

Era esse o ponto que queria enfatizar quando escrevi numa rede social sobre o tema, e que veio a ser incluído numa peça de um orgão de comunicação social de âmbito nacional. Tanto dinheiro canalizado para algo tão fútil neste período, é chocante.

São opções deste tipo (muitas outras poderíamos abordar) que nos fazem questionar sobre a honestidade da Autarquia, quando nos respondem que não podem baixar um IMI, ou sobre a real vontade de ajudar, quando se recusam a aliviar a fatura da água aos mais necessitados, através de uma tarifa social, como propôs o CDS-PP em assembleia municipal.

Sendo estas decorações encaradas como um investimento, segundo resposta da autarquia à imprensa, e tendo em conta a rapidez de execução dos projetos, seria este, tempo de crise e dificuldades, o momento ideal para “investir” tanto em decoração de edifícios públicos?

João Conde