Não é o Governo que decreta se um vírus terminou, talvez como não devia ser O mesmo a definir quem são os portugueses de primeira e de segunda porque afinal não os há.

Estamos a assistir a dois fenómenos preocupantes atualmente. Um é o regresso à normalidade que ainda tem pouco de normal. O outro é assistirmos à abertura de exceções absurdas, para algumas pessoas, que devem, portanto, ser superiores a todas as outras.

Vivemos num período conturbado, em que a escolha entre ajudar a economia ou a saúde pública está infelizmente em cima da mesa. E se percebemos um lado percebemos o outro. Mas, não percebemos os critérios de muita coisa.

Saímos do Estado de Emergência, mas não saímos da pandemia. Há pessoas, pelo que vamos observando que devem crer que é o Governo que decide: agora não há mais vírus, saiam de casa! Mas, desconfinamento não significa fim do distanciamento social. Sair do confinamento obrigatório, não significa que podemos estar em grupo, nem que nos estão a mandar sair de casa como antes. Sair do confinamento obrigatório é uma tentativa de a economia não ficar num ponto sem retorno, tão derrubada como outrora teve e que a todos fará mal. E todos sabemos que o PS é demasiado bom a iniciar crises e demasiado mau a solucioná-las. 

Ninguém esperava viver tempos tão conturbados como os de hoje. E é por isso que, mesmo pós-Estado de Emergência e, reforço, com o vírus ativo e bem ativo, há medidas de contingência em vigor, que devem por todos ser cumpridas. Não é novidade o uso de máscaras e a higienização das mãos. Para uns também não é novidade que não são permitidas festas, festivais e afins… Exceto para o PCP.

Depois do triste, vergonhoso e insultuoso episódio do 1º de Maio que permitiu que membros da CGTP andassem a festejar pelas ruas de Lisboa, independentemente do concelho de residência, como se nada fosse, chega a polémica dos camaradas pró-avante.

Quando numa primeira instância se soube que até 30 de setembro todos os festivais de música estavam cancelados, e muito bem, o PCP fez questão de dizer que o Avante não é só um festival de música. Numa segunda instância o Governo alterou a lei. Agora, todos os festivais de música e equiparados estão impedidos de se realizar, até à mesma data. Não há desculpas. A Festa do Avante! não se pode realizar. 

Para surpresa de muitos, ainda assim o PCP não quer recuar e, lastimavelmente o Sr. Primeiro Ministro António Costa, está a pôr em hipótese essa autorização. Mas afinal, os comunistas não apanham o vírus, é isso? Afinal, uns devem cumprir leis, mas outros podem contorná-las? É isto que querem que a sociedade retenha? Quando já poucos são os que realmente confiam nos partidos, e se sentem representados… Torna-se no mínimo confuso. Há falta de pulso aparente e submissão perante interesses.

Realmente a pouca vergonha que está instaurada nas ações governativas deste país, deixa muito a desejar. Uns sentem-se de primeira e outros de segunda. E a maioria é de segunda. Os que ficam em casa. Os que cumprem.

O problema da realização da Festa do Avante! é mais grave que a definição e discussão de conceitos, sobre se é um festival, uma festa, ou o que lhe queiram chamar. É uma questão mais complexa do que tentam fazer parecer. É uma questão de saúde pública, de respeito, de cumprimento legal, de preocupação. Pois se há coisa que o PCP faz e bem, é ter preocupação com o povo. Mas só no papel, só na teoria, só no passado. O PCP ao avançar com esta ideia, insulta novamente milhões de portugueses. O PCP ao querer levar a sua, pisando tudo e todos, mais uma vez, vai contribuir para o aumento de número de casos de covid-19 que, continuam a subir. Por muito que o Dr. António Costa afirme que o Avante só se realizará conforme regras da DGS, perguntar-lhe-ia porque é que tantos outros não podem então assim ser, e porque é que uns jovens podem ir ao que querem e outros nem por isso. Mas todos sabemos a resposta. Estão proibidos aglomerados de pessoas. 

Parece que o PCP, tão anticapitalista está a pensar demais nos ganhos que a festa traz. Devia antes pensar nos problemas que a sua realização evoca e esperar um ano. Nenhuma justificação será suficiente. A ganância veste sempre mal, e a hipocrisia ainda mais.

Desde que tudo isto começou que estamos a ser submetidos, sem culpa de ninguém é um facto, a ações que vão além da Democracia e da Constituição. Agora, não se aproveitem disso para pôr uns num patamar e outros noutro. Isto não é viver num país livre. Isto não é pertencer a um país que não quer viver em ditadura. Isto é assistir a um mínimo monopólio de pequeninos ditadores, cada vez com mais intensidade. Eles tudo podem, eles tudo fazem. Mas só e apenas eles. Tanta preocupação com o povo, mas só em teoria. 

Marta Raimundo

Juventude Popular Distrital de Setúbal