De 9 a 11 de Outubro, cerca de 300 cientistas do mundo inteiro vão estar reunidos no Centro Champalimaud, em Lisboa, para participar na edição 2017 do seu Simpósio Científico, que decorre este ano sob o mote “Fisiologia: do desenvolvimento à doença”.
“As palestras giram, a diversos níveis, em torno de uma narrativa comum que interroga o destino das células, dos tecidos, dos órgãos – e as suas interações, da nascença à morte e da saúde à doença” afirmam os organizadores científicos do certame. “À semelhança das anteriores edições do simpósio, a nossa intenção foi reunir um conjunto de oradores que representam o trabalho entusiasmante que está a ser feito [nestas áreas] em todo o mundo”.
Até aqui, o Simpósio Champalimaud era dedicado às neurociências. Mas este ano a fórmula muda para marcar o lançamento do Programa Champalimaud de Investigação em Biologia dos Sistemas e Metástases. Este novo programa vem enriquecer a investigação que se faz no Centro Champalimaud, fundindo-se com o inicial Programa de Neurociências (que, aliás, celebra este ano o seu décimo aniversário) sob uma única denominação: Centro de Investigação Champalimaud (Champalimaud Research).
Atualmente, são quatro os grupos de cientistas que fazem parte do novo programa, liderados respetivamente por Bruno Costa-Silva (Laboratório de Oncologia dos Sistemas), Crista Rhiner (Laboratório de Células Estaminais e Regeneração), Eduardo Moreno (Laboratório de Fitness Celular) e Henrique Veiga-Fernandes (Laboratório de Imunofisiologia).
O simpósio contará com a presença de 26 oradores, vindos de nove países (Áustria, Espanha, Estados Unidos, França, Israel, Japão, Portugal, Reino Unido e Suíça), que trabalham nas áreas da fisiologia do desenvolvimento, envelhecimento, imunidade e cancro, visando estabelecer a ponte entre a investigação fundamental de ponta em biologia e o estudo de doenças humanas.
A conferência inaugural será proferida pelo geneticista norte-americano Bob Horvitz, do Massachusetts Institute of Technology, e intitula-se “Controlo genético da morte celular programada no desenvolvimento animal e nas doenças humanas” Genetic control of programmed cell death in animal development and human disease”).
Horvitz recebeu o Prémio Nobel de Medicina, em 2002, juntamente com os britânicos Sydney Brenner e John Sulston, com quem trabalhara no Laboratório de Biologia Molecular em Cambridge, “pelas suas descobertas sobre a regulação genética do desenvolvimento dos órgãos e da morte celular programada”, como declarou na altura o Comité Nobel.
Em situações normais, os organismos controlam o número de células que os compõem ao longo da vida, mantendo o equilíbrio entre as células que vão nascendo e as que vão morrendo. Como é fácil perceber, quando isso corre mal surgem diversas doenças e em particular cancros. Como é que este
processo, que envolve uma vertente de “morte celular programada”, é controlado? Em 1986, Horvitz identificou, no verme Caenorhabditis elegans, os primeiros “genes da morte”, necessários para garantir que as células que devem morrer o façam em tempo e hora.
De destacar também, entre os oradores, a espanhola María Blasco, do CNIO (Centro Nacional de Estudo do Cancro, em Madrid), pioneira do estudo dos “telómeros”, que são sequências genéticas que protegem as extremidades dos cromossomas e que se vão encurtando à medida que as células se dividem e envelhecem. A sua conferência intitula-se “Os telómeros enquanto alvos para o cancro e o envelhecimento” (“Telomeres as targets for cancer and aging”).
Já o português Caetano Reis e Sousa, do Instituto Francis Crick em Londres, dará uma conferência sob o título “A deteção de infeções e de lesões nos tecidos” (“Sensing infection and tissue damage”). Reis e Sousa trabalha sobre as chamadas células dendríticas, que desempenham um papel chave na iniciação e na regulação das respostas imunitárias e apresentam um grande potencial em termos de imunoterapias do cancro.
Pelo seu lado, a conferência do austríaco Josef Penninger, do Instituto de Biologia Molecular, em Viena, tem um título algo misterioso: “Das células estaminais haplóides às árvores de açúcar balançantes” (“From haploid stem cells to swaying sugar trees”). Entre outras descobertas, Penninger isolou o gene da regulação do relógio interno do ratinho e mostrou que existe uma predisposição genética para a osteoporose. “Josef adopta uma abordagem holística para perceber as doenças ao nível molecular, da SARS [síndrome respiratória aguda grave, causada por um vírus] à osteoporose”, diz Carlos Ribeiro, um dos organizadores científicos do simpósio. “Por isso, é difícil dizer que trabalha nisto ou naquilo”.
O comité científico organizador do simpósio é composto por um trio de investigadores principais do Centro Champalimaud: o neurocientista Carlos Ribeiro (Laboratório de Comportamento e Metabolismo), o biólogo celular Eduardo Moreno (Laboratório de Fitness Celular) e o imunologista Henrique Veiga-Fernandes (Laboratório de Imunofisiologia).
Website do Simpósio (com lista de oradores e programa): https://symposium.research.fchampalimaud.org
Fonte: JLM&A
Fotografia: Fundação Champalimaud