Conta a lenda que, numa determinada região, as árvores estavam a morrer e os frutos eram muito raros. Um profeta chamou um representante do povo e disse:

– Cada pessoa só pode comer uma peça de fruta por dia.
A ordem foi obedecida por gerações e a ecologia do local foi preservada. Como os frutos restantes davam sementes, outras árvores surgiram e toda aquela região se transformou num solo fértil, invejado pelas outras cidades. O povo, contudo, continuava a comer apenas uma peça de fruta por dia, fiel à recomendação que um antigo profeta tinha passado aos seus ancestrais. Além do mais, não deixava que os habitantes das outras aldeias se aproveitassem da farta produção que ali acontecia todos os anos. E o resultado era só um: a fruta apodrecia no chão.
Um novo profeta surgiu e disse ao representante do povo:
– Deixe as pessoas comerem a fruta que quiserem e digam-lhes que dividam esta abundância com os vizinhos.
O representante do povo chegou à cidade com a nova mensagem, mas acabou por ser apedrejado, já que o costume estava arraigado no coração e na mente de cada um dos habitantes. Com o tempo, os jovens da aldeia começaram a questionar aquele hábito bárbaro e, como a tradição dos mais velhos era intocável, resolveram afastar-se da região. Assim, podiam comer quanta fruta quisessem e dar a restante a quem necessitava de alimento.
No antigo local, só ficaram as pessoas incapazes de ver que o mundo se transforma e que nós nos devemos transformar com ele.

Esta história ajuda-nos a perceber que devemos estar menos presos psicologicamente a hábitos e rotinas já ultrapassadas, e mais abertos internamente para ouvir sugestões, permitindo a MUDANÇA. Quando temos algum padrão profundamente arreigado dentro de nós, devemos em primeiro lugar, tornar-nos racionalmente conscientes dele para podermos alterar a condição.
Tal como nesta história existia uma resistência psicológica que impedia a mudança, também na nossa vida, arranjamos várias resistências que nos impedem de alcançar a consciência do padrão existente, nomeadamente as nossas fugas aos assuntos; muitas vezes para justificar a nossa resistência, presumimos com frequência coisas acerca dos outros; crescemos com crenças que se transformam na nossa resistência psicológica à mudança; possuímos ideias acerca de nós mesmos que usamos como limitações a mudar; a nossa resistência manifesta-se frequentemente em desculpas (ex: não consigo pensar agora, faço-o depois); medo da mudança; entre muitas outras resistências que criamos como “antídoto” à mudança.
Muitas vezes, também utilizamos aqueles que nos são mais próximos como ”resistências”, achando que eles é que precisam de mudar algumas coisas e não nós.

Olhe para si! Permita-se a “comer mais de que um fruto por dia” e conheça-se internamente sem resistências psicológicas! Este é o primeiro passo para a transformação.

Dra. Débora Água-Doce
O Canto da Psicologia