Vivemos uma era muito importante de adaptação no sistema de saúde. A COVID-19 veio trazer a necessidade de nos adaptarmos e de repensarmos as nossas práticas individuais e coletivas. Podemos todos ser parte ativa de uma mudança positiva e integrada, em que a comunicação entre o médico (e os outros profissionais de saúde) e o doente seja clara e muito eficaz. Mais: deve o doente, e a sua família, partilhar com a equipa de saúde a responsabilidade na gestão da sua condição clínica e, para isso, há que fazer uma aposta clara na Educação e na Promoção da Saúde.

Pensar que nesta pandemia por cada pessoa que morre com COVID-19, estão a morrer cinco vezes mais pessoas por outras doenças, é uma realidade dura mas que tem de ser enfrentada.

A prevalência de outras doenças, para lá da COVID-19, não diminuiu e os fatores de risco cérebro-cardiovasculares assumem, desde há muito, um espaço importante nas condições clínicas crónicas dos portugueses. A prevalência desses fatores de risco cérebro-cardiovasculares, nomeadamente da Hipertensão Arterial, está associado ao desenvolvimento e ao aumento da mortalidade por enfarte agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral, além de ser responsável por outros problemas de saúde. 40% da população europeia sofre de Hipertensão Arterial, em Portugal estima-se de cerca de 3,5 milhões de adultos tenha Hipertensão Arterial .

Como se diagnostica a Hipertensão Arterial?

A pressão arterial considera-se normal quando é inferior a 140/90mmHg. Um aumento isolado dos valores de pressão arterial não significa que a pessoa tenha Hipertensão Arterial, contudo, quando os valores ultrapassam 140/90mmHg em pelo menos duas medições, em duas ocasiões diferentes realizadas por um profissional treinado para a medição com um esfigmomanómetro (aparelho para medir a pressão arterial) calibrado e validado e uma braçadeira adequada ao tamanho do braço.

Quais as causas de Hipertensão Arterial?

Cerca de 90% dos casos de Hipertensão Arterial  são de causas genéticas ou ambientais (por exemplo, o consumo excessivo de sal). A obesidade, as doenças cardíacas e diabetes também contribuem para o aparecimento da Hipertensão Arterial. A prevalência de Hipertensão Arterial  aumenta com a idade.

Os restantes 10% de casos de Hipertensão Arterial surgem na sequência de outra doença, nomeadamente doença renal crónica, feocromocitoma, tumor, coartação da aorta, vasculites, síndrome de Cushing, consumos (álcool, tabaco, cocaína e outras drogas e medicamentos), hiper- ou hipotiroidismo, entre muitas outras. O seu médico ajudará a determinar se alguma destas causas se aplica ao seu caso em concreto.

Quais os sintomas da Hipertensão Arterial?

De um modo geral a pressão arterial elevada não causa sintomas na maioria das pessoas. Contudo, à medida que os valores aumentam, os sintomas começam a surgir e podem incluir dores de cabeça (cefaleias), tonturas, fadiga, zumbido nos ouvidos, visão turva e palpitações.

Se a Hipertensão Arterial não estiver a ser controlada adequadamente, o doente apresentará um risco maior de enfarte do miocárdio (“ataque cardíaco”), insuficiência cardíaca (em que a função de bomba do coração começa a ficar enfraquecida), acidentes vasculares cerebrais (AVC) e insuficiência renal (em que os rins começam a deixar de funcionar).

Como se trata da Hipertensão Arterial?

A primeira medida a tomar é alterar os estilos de vida e a alimentação, seguindo as medidas aconselhadas a seguir.

Contudo, por vezes, estas medidas são insuficientes e é necessário iniciar a toma de medicamentos que se dividem em vários grupos consoante a sua ação. Alguns destes fármacos podem ser combinados entre si para conseguir um melhor controlo de pressão arterial, especialmente em pessoas com maior risco de complicações.

A medicação deve ser cumprida conforme prescrita.

Como se previne?

• Realizar exercício físico – evitar o sedentarismo

• Reduzir a ingestão de sal e de bebidas alcoólicas

• Ingerir menos gorduras saturadas e diminuir a LDL (colesterol “mau”) – fazer uma alimentação saudável com recurso a mais frutas e vegetais

• Não fumar

• Diminuir o peso corporal

Existe a possibilidade real de poder controlar a pressão arterial com alterações do estilo de vida! O stress por si só pode aumentar momentaneamente a pressão arterial, contudo não existe uma relação direta entre o stress e a Hipertensão Arterial. Não obstante, sabemos que quem está sujeito a maior stress, tem habitualmente comportamentos e estilos de vida menos saudáveis que poderão influenciar o risco de Hipertensão Arterial.

Não deixe a Hipertensão Arterial passar despercebida, siga as recomendações do seu médico assistente.

Independentemente do contexto de pandemia, não deve evitar procurar ajuda médica perante os sintomas de Hipertensão Arterial – o diagnóstico deve ser precoce, evitando outras complicações da doença. As unidades de saúde já estão a retomar a atividade clínica programada com medidas de segurança reforçadas.

Pedro Correia Azevedo

Coordenador da Medicina Interna e do Serviço de Atendimento Permanente de Adultos da Clínica CUF Almada

Diretor Clínico dos Cuidados Domiciliários da CUF