Nos últimos tempos, o tema do momento, e não pelos melhores motivos, é a seleção nacional ou a seleção de todos nós, como antigamente era apelidada. Diz-se que a nossa participação no Mundial foi péssima, que não está a ser feita a devida renovação de jogadores, que o selecionador convocou demasiados atletas do mesmo empresário… E neste jogo do empurra, porque a culpa normalmente nunca mora sozinha, já rolam as primeiras cabeças, primeiro da equipa médica e, mais recentemente, da equipa técnica.

Começando pelo mundial, em que mais uma vez fomos apurados na última etapa, será que foi assim tão má a nossa participação?

Eu, sinceramente, considero que tivemos uma participação normal, e que os resultados espelham, de um modo geral, o valor da nossa seleção, uma vez que perder com a seleção alemã é, nos dias que correm, algo perfeitamente normal e empatar com os Estados Unidos da América não é, propriamente, nenhum escândalo, basta recuarmos até ao Mundial de 2002 em que com uma seleção bastante melhor do que esta, na qual, por acaso, também tínhamos o melhor jogador do mundo também saímos derrotados do encontro com os EUA. Ganhar ao Gana, uma das melhores seleções do continente africano, foi um excelente resultado, para mim o grande problema foi que antes do Mundial começar, alguns jogadores e quase todos os meios de comunicação portugueses, fizeram-nos acreditar que tínhamos uma grande seleção, que eramos uma das melhores equipas presentes na competição, algo que nem de perto, nem de longe, corresponde à verdade.

Fala-se agora muito da renovação, sim claro que a renovação é necessária, mas com que jogadores?! Depois de João Moutinho e Fábio Coentrão quantos jogadores de qualidade apareceram?! Além disso os convocados pelo Paulo Bento foram praticamente os mesmos que tiveram no último Mundial que tínhamos disputado e na meia-final do Europeu, devemos ter sido, inclusivamente, uma das poucas, se não a única, seleção que num espaço de quatro anos levou praticamente os mesmos jogadores e acredito que tal não se deve apenas à teimosia do selecionador, mas sobretudo porque os que não foram escolhidos são menos bons, para não dizer piores, dos que foram convocados.

Está na moda dizer-se que quem manda na seleção são os empresário, particularmente o Jorge Mendes. Provavelmente até é verdade, mas o Jorge Mendes não é o melhor empresário do mundo?! Então é perfeitamente natural que tenha, por isso, a melhor carteira de jogadores, sendo assim não percebo o espanto que gerou os escolhidos. Para além disso, temos os casos de Ricardo Carvalho, Danny e Tiago que, de uma forma ou de outra, autoexcluíram-se de dar o seu contributo à seleção nacional.

Meses depois de ter terminado o mundial, o presidente da Federação Portuguesa de Futebol veio a público dizer que não tinham sido competentes. Mas afinal houve alguns menos competentes do que outros, porque primeiro caiu a equipa médica e agora a equipa técnica. Será que o presidente e os vice-presidentes, profissionais e muito bem pagos, não têm culpa nenhuma?!

Há ainda alguns que defendem que a culpa do fracasso da seleção é das equipas portuguesas que constituem os seus plantéis com jogadores estrangeiros. Mas se analisarmos bem será que a maioria dos jogadores portugueses tem valor para jogar nos três grandes?! Eu penso que não, e que no caso do Sporting aposta-se nos jogadores portugueses porque, infelizmente, não têm verbas suficientes para investir em promessas estrangeiras.

Por fim pode-se perguntar: o que se pode fazer para alterar esta situação?!
Muita ou pouca coisa, não sei é se irá resultar, nomeadamente naturalizar alguns jogadores estrangeiros que ainda não tenham representado os seus países de origem ou limitar a inscrição de jogadores estrangeiros na liga. Contudo, para mim, limitar o número de jogadores estrangeiros nas equipas portuguesas só vai originar, a curto prazo, que as nossas melhores equipas não consigam sequer ultrapassar a fase de grupos da Liga Europa.

Quanto à seleção, tem de haver coragem para dizer às pessoas que nos próximos anos dificilmente estaremos presentes nas fases finais dos Europeus e dos Mundiais, seja com o selecionador Paulo, Fernando, Manuel, Jesus ou, até mesmo, com Mourinho.