Futebol de formação: Verdade ou Mito?
Já todos ouvimos, em diferentes circunstâncias, directores de futebol a encher a boca para falar do futebol de formação. Para mim, o futebol de formação é, actualmente, um efectivo negócio rentável – leia-se bastante rentável – para clubes, orientadores técnico e treinadores, mas com muito pouca rentabilidade no que toca ao surgimento de novos jogadores de qualidade para o futebol sénior, ou seja, naquilo que deveria ser verdadeiramente o seu grande objectivo.
Senão vejamos: Aos três anos os pais inscrevem as crianças numa escola de futebol, à mensalidade (raramente inferior a 25 euros), soma-se o preço do Kit, da inscrição, do seguro, etc. Durante cerca de três anos, o jovem atleta pratica futebol de recreação com jogos de manhã e ao final do dia, chegando inclusivamente a competir quatro vezes num fim-de-semana, um ritmo bastante elevado e com uma grande exigência para as crianças, para os pais, mas também para os técnicos.
Aos seis anos, chega o futebol 7, o futebol federado e a competição na verdadeira essência do termo. Nesta altura enganam-se os que pensam que ainda é “uma simples brincadeira”, uma vez que os treinos e, sobretudo, os jogos são marcados exaustivamente pelo rigor táctico, acabando assim a oportunidade dos jogadores divertirem-se, efectivamente, a jogar, uma vez que os técnicos preferem que em vez de os atletas darem azo a sua criatividade cumpram rigorosamente as marcações e não “inventem” porque o importante são os resultados e as classificações.
Para os resistentes, para os que ainda não se saturaram do futebol e, sobretudo, para aqueles que os pais ainda acreditam que vão tornar-se jogadores profissionais e que conseguem continuar a pagar as mensalidades, aos 14 anos chega o futebol de 11 e cinco anos depois o futebol sénior.
Todavia, a verdade é que muitos dos atletas que começaram aos três não chegaram aos seis, dos que chegaram aos seis muitos não chegaram aos 14 e dos que chegaram aos 14 só 50% chegaram ao segundo ano de juniores e destes apenas 5% acabam realmente por entrar no futebol sénior federado.
Em relação ao distrito de Setúbal, actualmente há 26 equipas a disputar os campeonatos de juniores da A.F.S. e quatro equipas a competir nos escalões nacionais, o que dá uma média de 600 jogadores. No entanto, na próxima época estarão provavelmente – e assumo que estou a ser muito optimista – apenas cerca de 15 a 20 desses jogadores inscritos em equipas seniores federadas. E, sinceramente, estes números deixam-me seriamente preocupado com o futuro do futebol distrital.
Desportivamente, assumo que nos escalões de futebol de 7 têm existido grandes resultados no distrito de Setúbal, abrilhantados com a conquista de diversos títulos, mas a verdade é que a maioria desses jogadores quando chegam ao futebol de 11 não é aproveitada.
Se olharmos com mais atenção, facilmente chegamos à conclusão que hoje em dia contam-se pelos dedos os jogadores naturais do distrito de Setúbal que jogam na 1.ª liga portuguesa, quando antes de existirem as tão aclamadas escolas de formação e com jogadores a começarem a jogar futebol aos 14 anos o distrito de Setúbal era, sem qualquer dúvida, o grande viveiro de jogadores dos grandes de Lisboa e da selecção nacional.
Cada jogador custou aos pais durante todo o período de formação – entre os três e os 19 anos – entre 6000 a 8000 euros, um valor demasiado alto para tão pouco aproveitamento futebolístico. Até quando?!