Num destes dias seguia com um amigo pela auto-estrada fora, quando tivemos de parar para abastecer. 15€ de gasóleo simples, um ficou a tratar do combustível e o outro, que neste caso fui eu, foi pagar. Voltei para o carro e fiquei agarrado ao talão, enquanto passava na rádio Every Breath You Take dos The Police. Com 15€, pusemos 9 litros de gasóleo que vinha contaminado com IVA e ISP. Do valor total, 7,75€ foram impostos, e refletindo sobre o assunto ficámos na dúvida se fomos injetar combustível no carro ou dinheiro nos cofres do Estado. Atualmente estes postos de abastecimento de combustível tornaram-se pontos de abastecimento de impostos, dado que a maior fatia do dinheiro que ali gastamos vai para isso.

Quando se fala em diminuir estas contribuições sobre os combustíveis, o Governo responde que tendo em conta a conjuntura de política ambiental atual, não faz sentido tomar medidas de incentivo à utilização de transportes que utilizam combustíveis fósseis. Até podiamos considerá-la uma excelente explicação, pois estamos todos cansados de ouvir que se está a tentar gerar um clima entre as nações para a dita transição energética, que supostamente vai salvar o planeta. Acontece que um cidadão português terá muita dificuldade em acompanhar este esforço por muito louvável que seja. Sem viatura própria, tem a fraca oferta dos transportes públicos, e digo fraca porque só nas grandes cidades é que existem várias alternativas, com as condicionantes que todos conhecemos (atrasos por razões várias, localização das paragens, horários incompatíveis). Se quiser optar por uma viatura própria alegadamente mais amiga do ambiente, como as viaturas eléctricas, para além dos preços pouco acessíveis que são um empurrão para nos tornarmos “inimigos” do ambiente, ainda não estão suficientemente espalhados pelo país pontos de carga e muitas vezes o tempo que se leva a carregar também não compensa.

Para a maioria dos portugueses, participar no plano de ajudar o ambiente aquando da escolha da forma de se deslocarem, passa pela sorte. Se tiver a sorte de viver perto do local de trabalho, pode ir a pé. É por isso que quando se fala em diminuir a carga fiscal nos combustíveis não se pretende bater de frente com as políticas ambientais, mas sim aliviar as contas que as famílias fazem ao final do mês.

Os comportamentos ambientalmente sustentáveis ainda não estão ao alcance da maioria de nós, pois não são sustentáveis para a nossa carteira. Por isso, muito dificilmente se pode aceitar que não se baixem os impostos sobre os combustíveis do meio de transporte mais utilizado em Portugal, enquanto não se disponibilizam alternativas financeiramente viáveis para todos. O ambiente será sempre a menor das preocupações para quem faz o que pode para não ter a barriga vazia. A inversão desta situação pode começar com o alívio do nó dos impostos nas nossas gargantas. Continuarmos encurralados entre preços incomportáveis e uma carga fiscal insensível também não ajudará ao ambiente e essa é uma escolha política deste Governo. Por este caminho, a música dos The Police já merecia uma adaptação para Portugal: Every breath youtake/Every move you make/Every bond you break /Every step you take
I’ll be taxing you.



João Conde