O monumento é constituído por três tetrapodes de ferro, idênticos aos que são utilizados na protecção das zonas portuárias e costeiras, que serão amarrados com centenas de metros de cordas e correntes, pesa mais de 10 toneladas e tem cerca 12 metros de altura.
O projecto, elaborado há 37 anos mas nunca concretizado, foi oferecido pelo escultor José Aurélio à Câmara Municipal de Setúbal na sequência do interesse manifestado por uma comissão pró-monumento, que se propôs homenagear os anti-fascistas setubalenses que lutaram contra o antigo regime do estado novo.
Para o autor, José Aurélio, os tetrapodes, que resistem ao avanço da mar nas zonas costeiras, simbolizam a resistência ao regime totalitário e as cordas e correntes representam o elemento humano, essencial a essa resistência.
Questionados pela Lusa, a maior parte dos munícipes que passava na avenida Luísa Todi não só não conseguiu estabelecer qualquer relação entre o monumento e a luta anti-fascista antes do 25 de Abril de 1974, como também se mostrou bastante crítica da dimensão e da estética do monumento.
"Estou envergonhado. Com tanta coisa que há para fazer, vão gastar o dinheiro dos contribuintes nisto", disse à Lusa João Barroso, considerando que o novo monumento da avenida Luísa Todi é "o maior escândalo na cidade de Setúbal nestes últimos anos". Opinião idêntica manifestaram os munícipes Armando Salgado, que preferia ver o dinheiro dos contribuintes gasto na saúde e em melhores hospitais, e Idalécio Costa, que considerou o monumento como um exemplo de "dinheiro mal gasto".
A favor do monumento à resistência anti-fascista, pronunciou- se Afonso Malão, que lembrou a importância da luta anti-fascista e da revolução de Abril de 1974.
"Acho muito bem. Setúbal merece um monumento destes. E há outro mais importante e de grande significado histórico, na Praça de Portugal, que foi feito pelos trabalhadores da Lisnave em 1975 e oferecido à Câmara municipal", disse Afonso Malão, salientando que o "simbolismo é mais importante que a beleza do monumento".
O presidente da Câmara de Setúbal, Carlos de Sousa, reagiu às críticas dos munícipes em conferência de imprensa, começando por esclarecer que a autarquia pagou apenas 7.500 euros ao escultor José Aurélio por um conjunto de três projectos - monumento à resistência anti-fascista, ao pescador e ao salineiro -, acrescidos de mais 16.000 euros para trabalhos complementares. Carlos de Sousa confessou também que se apaixonou pelo monumento desde que viu a maqueta numa exposição no museu do trabalho, e justificou as manifestações de descontentamento com o desconhecimento do significado da obra do escultor José Aurélio e com o facto de haver "pouca arte pública em Setúbal".
"Sempre houve um desfasamento muito grande entre os artistas e as pessoas", corroborou o escultor José Aurélio, acrescentando que "ficaria mais preocupado se não houvesse nenhuma polémica em torno do monumento".
"Não me sinto desesperado por ter uma polémica em cima desta peça. Esperemos que as pessoas entendam uma forma de comunicar diferente de outras a que estão mais habituadas", concluiu José Aurélio.
Foto: José Miguel
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