A Unidade de Oncologia do centro hospitalar Barreiro-Montijo é vista como uma referência nacional. Para se ter uma noção basta dizer que, segundo dados de 2014, o serviço contava com uma taxa de sucesso de 90% no tratamento do cancro da mama e 63% no tratamento do cancro do cólon. E se chegou a esse patamar, muito o deve ao seu director clínico, o Dr. Jorge Espírito Santo, destacado oncologista da nossa praça. Homem cuja vida se confunde com o próprio serviço de oncologia do Barreiro, que completou recentemente 20 anos de existência. Resistiu ao negro período de gestão austera da área saúde por parte do anterior Governo e que agora, perante as dificuldades que teimam em não encontrar solução, bate com a porta. Segundo a LUSA noticiou o director aponta a falta de condições para manter o que devem ser os padrões de prática e assistência aos doentes – http://www.cmjornal.xl.pt/cm_ao_minuto/detalhe/oncologista_jorge_espirito_santo_demitiu_se_da_direcao_de_servico_no_hospital_do_barreiro.html. Provavelmente, Jorge Espírito Santo esperaria agora outra resposta do parte da gestão hospitalar e respectiva tutela, para um Serviço que se tem debatido com a má organização e falta de recursos, indispensáveis para o seu regular funcionamento. Compreendo que isto seja demasiado para um médico que afirmou “não permitimos a existência de utentes em lista de espera, apesar de grande crescimento da actividade” – http://www.rostos.pt/inicio2.asp?cronica=8000145.
A Administração do centro Hospitalar já afirmou que após ponderação aceitou o pedido de demissão do director de oncologia, ficando o mesmo a exercer funções até ser providenciado/a um/a substituto/a – http://www.distritonline.pt/esclarecimentos-acerca-da-demissao-do-responsavel-da-unidade-de-oncologia-dr-jorge-espirito-santo/. Claro que num serviço hospitalar que tem funcionado abaixo dos seus limites e que vê um dos seus elementos mais empenhados a demitir-se, os mais prejudicados serão, obviamente, os utentes. É urgente perceber o que está na base e o que conduziu a esta situação de ruptura entre o destacado médico e a administração hospitalar. E o próprio Ministério da Saúde deverá tentar averiguar o sucedido, esclarecendo se o caso é um mero desentendimento ou se tem raízes mais profundas, nomeadamente no modelo de gestão dos chamados Centros de Referência Nacionais, incutido pela própria tutela – http://www.publico.pt/sociedade/noticia/temos-82-centros-de-referencia-nos-hospitais-60-foram-chumbados-1725791.
Numa época em que não abundam os profissionais de saúde e em que existe um claro défice em todas as áreas, não podemos dar ao luxo de perder o contributo de alguém com a experiência e saber acumulados, como é o caso do oncologista Jorge Espírito Santo. A bem dos doentes e do Serviço Nacional de Saúde.
Montijo, 11 de Março de 2016