O 5G, para quem acompanhe não muito mas o suficiente, notícias relacionadas com tecnologia, no sentido mais popular da palavra, é a dupla número/letra do momento.
A nova geração de rede, foi debatida há uns dias no Parlamento, com vários partidos a apresentar propostas (que foram todas recusadas) e sem grande eco na comunicação social.
O timing para que o 5G tivesse surgido novamente foi particularmente interessante, pois surge no momento em que se digladiam exércitos acerca da, graças a António Costa, mal-afamada App “Stayaway Covid“.
O primeiro-ministro, talvez achando que a aplicação estava mal divulgada ou, como dizem as más línguas, querendo desviar atenções do Orçamento de Estado, decidiu lançar a ideia de sermos obrigados a instalar a app no telemóvel.
Isto gerou uma falsa sensação de democracia, que dividiu as opiniões como Moisés dividiu o mar vermelho: de um lado, os que se insurgiram contra a obrigatoriedade, ou seja, quase toda a população que sabe o que é uma app; do outro, António Costa e Rui Rio, sendo que o último não sabe muito bem como funciona a aplicação que o primeiro quer obrigatória, mas tem dúvidas quanto à sua eficácia.
Dentro daqueles que são contra a obrigação de instalar a Stayaway Covid existem ainda várias facções como os “salvem os meus dados” ou os “em mim ninguém manda”. Não querendo ficar preso em reflexões sobre qual das facções a mais razoável, é sempre interessante ter, numa semana, tanta discussão à volta de como e quando se usam as tecnologias – 5G, app – e mais uma vez relegar para segundo plano quem consegue efetivamente utilizar o quê.
A nossa relação com as tecnologias faz-se a várias velocidades, em alguns casos em ponto morto e resume-se muito bem se a chamarem de esquizofrénica.
Se desenterrarmos o tesourinho deprimente dos Magalhães, da época socrática (é o Sócrates Mau sim), e contrapusermos com um Governo a prometer que todos os alunos terão um computador no início do ano letivo, promessa que de resto não se cumpriu, verificamos que num período de sensivelmente uma década, pouco mudou e ainda curiosamente continuamos a ter primeiros ministros socialistas a prometer um computador para todos.
Só que não basta um computador para todos. É preciso que haja alguma literacia digital, e, se não for pedir muito, rede que chegue a todo o país.
Há muita gente, especialmente na capital, que acha que é impossível alguém não ter um computador ou internet em casa. A pandemia, para além de ter prejudicado muitas famílias, conseguiu a proeza de revelar que existem mesmo famílias não só sem internet, mas também sem computador. Uns porque não tem dinheiro, outros porque não têm cobertura de rede nas zonas onde vivem, no que à internet diz respeito.
Estes problemas não eram difíceis de imaginar, tendo em conta que, mais uma vez desenterrando um “tesourinho” neste caso muito deprimente, tivemos há 3 anos o episódio do SIRESP que funcionava mal maioritariamente por culpa da rede.
Se nem para nos salvarmos temos uma rede decente, quanto mais para nos educarmos.
Torna-se então muito caricato ouvir falar em 5G quando, fazendo uma pequena viagem entre Setúbal e Santiago do Cacém, por exemplo, ficamos sem qualquer sinal no smartphone durante uns bons pares de minutos, pelo menos umas 5X ao longo do trajeto. Ou quando se conhecem casos, continuando no exemplo do distrito de Setúbal, durante esta pandemia, em que estudantes não podiam a assistir a aulas on-line porque não tinham cobertura de rede suficiente.Talvez alguém ache que estes locais não merecem sequer 1G.
A União Europeia queria que tivéssemos em 2020, pelo menos uma cidade com rede 5G. Esse objetivo, devido à pandemia, terá de ser adiado para o próximo ano.
Em 2021 continuaremos com população com uma rede muito deficitária ou até mesmo sem nenhuma, seja por motivos socioeconómicos ou de falta de investimento em infraestruturas, mas teremos algures uma cidade com a mais moderna rede do mundo. Vão-se acentuando desigualdades e continuará Portugal a ter cada terra com o seu “G”.
João Conde
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