A presente reflexão representa mais um contributo positivo na construção de uma janela de Visão e esperança quanto ao futuro do Barreiro.
Esta é constituída por propostas que certamente representam o pensamento de muitos Barreirenses, afigurando as ambições de um coletivo que sabe pensar, que não deseja mudar-se para outro local atualmente mais dinâmico, mas antes prefere que o dinamismo aconteça na sua Terra.
É com estas pessoas, suas ideias, ambições e com seu apoio, que o Barreiro poderá ser melhor, mais amigável a quem reside, apelativo a quem visita, de modo a ser possível a criação de alicerces do tão almejado e falado desenvolvimento.
Temos a certeza que a maioria dos leitores já esteve numa conversa com amigos, ou simplesmente a refletir “com seus botões”, sobre o enorme potencial que o Barreiro tem em diversas áreas, concluindo apenas que há mais de 15 anos se repete a mesma conversa sobre o potencial existente no Barreiro, e que assim permanece sem alteração, apesar de muita conversa por parte dos vários responsáveis.
Quanto mais tempo se irá continuar passivamente à espera para transformar o Potencial do Barreiro numa realidade palpável?
De facto, o Barreiro possui um conjunto de particularidades interessantes reconhecidas por quem reside e por quem visita como a localização geográfica, que propicia relações diretas com o estuário do Tejo e proximidade a Lisboa e Setúbal que, potencialmente, pode ser determinante para a fixação de empresas, investimento, podendo até beneficiar dos efeitos de polaridade e atratividade turística da capital se, e apenas se, o Barreiro for capaz de modernizar as suas infraestruturas, sua imagem, trabalhar sobre o que possui e produzir produtos turísticos atrativos e evidenciar uma imagem urbana capaz de receber as pessoas de forma agradável, comoda e segura, começando, por exemplo, por uma sinalética apelativa, útil e eficaz, uma vez que quem chega de carro ou de Barco nem para o Centro da cidade saberá direcionar-se;
Possui disponibilidade de áreas para acolher empresas e serviços que, potencialmente, podem receber investimentos geradores de postos de trabalho qualificado se, e apenas se, existir uma aposta determinada na remediação do solo poluído de alguns territórios como a Quimiparque, se apostar na modernização de infraestruturas e criação de políticas de incentivos ao investimento e de melhoria da imagem do que existe para oferecer, pois as empresas de hoje também cuidam da eficiência, imagem e atratividade, procurando territórios que oferecem essas condições. Estas propostas também são válidas para outras áreas do concelho como, por exemplo, a área industrial e empresarial de Coina, Rebelas ou Sete Portais;
Possui diversidade de oferta à vivência urbana com potencial de fixar os residentes e captar visitantes se, e apenas se, existir investimento na conclusão de todas as obras inacabadas como o Centro do Barreiro e a Rua Miguel Bombarda, Alburrica, Rua Miguel Pais, Av. Bento Gonçalves, o Polis da Verderena, entre tantas outras coisas espalhadas, se existir uma aposta na criação de um tecido económico terciário forte para o centro do Barreiro que tem condições para se evidenciar com um núcleo de entretenimento e oferta diversificada da Margem Sul, Se existir uma verdadeira aposta na Regeneração Urbana que inverta a tendência de abandono e degradação que já não está contida apenas no Barreiro Antigo, mas prolifera nos principais acesso ao centro como são os cerca de 27 edifícios emparedados, abandonados ou em ruina que existem na Rua Miguel Pais, ao que se somam outros 19 na Rua Miguel Bombarda, sem referir a realidade dramática e visível do Barreiro Antigo e outras zonas do Concelho do Barreiro;
O Barreiro possui riqueza natural e ambiental, histórica e patrimonial capaz de criar uma identidade forte se, e apenas se, o património for trabalhado enquanto fator de identidade e orgulho local visível a todos através, por exemplo, de um museu da cidade, central, visitável por todos os que visitam o Barreiro, sejam residentes, turistas, pessoas que vêm consumir ao comércio local, ou pessoas que vêm usufruir a riqueza ambiental e paisagística;
Possui uma rede escolar que servirá melhor os seus objetivos se, e apenas se, fizerem investimentos para a qualificação do parque escolar que tem vindo a degradar-se com prejuízos para o sucesso do ensino, quer seja na qualidade do serviço prestado por quem ensina, quer seja pela atenção de quem aprende;
Possui uma extensa rede de equipamentos desportivos e complexos sub aproveitados, como é por exemplo o caso do Fabril onde, além das diversas iniciativas desportivas nas mais diversas modalidades, além da possibilidade de acolher estágios de atletas vindos de fora (e isto também é turismo, receita e geração de postos de trabalho, riqueza e promoção) podem ocorrer eventos culturais com impacto metropolitano, designadamente concertos de música, dança e teatro em estádio, ou outros eventos culturais de massa geradores de dinâmicas polarizadoras e com vantagens para o Barreiro, para o tecido económico, para os Barreirenses;
O Barreiro possui, entre tantas outras virtudes, pessoas dinâmicas, cultas e interessadas em ver o local onde vivem progredir que, como é o caso do leitor, desejam ver desenvolvido todo o potencial que o Barreiro possui, mas que só será concretizado se, e apenas se, se trabalhar mais sobre os aspetos referidos ao alcance dos atuais responsáveis das diversas forças partidárias, e um pouco menos sobre os assuntos que dependem de decisões externas sobre as quais nada podemos fazer paras as concretizar além de se concordar ou não.
Após estas evidências é apenas natural que surja a seguinte pergunta: – Com tanto potencial, dito, pensado e afirmado por todos, responsáveis e cidadãos, porque será que não se vê o Barreiro a acompanhar o desenvolvimento que se verifica em outros locais?
A resposta é simples, é necessário olhar mais para o Barreiro!
Diríamos até que é necessário olhar para o Barreiro, uma vez que todos andam distraídos a olhar o que os outros (administração central) podem decidir (Terceira Travessia do Tejo, Porto de contentores, Novo Aeroporto, Lisbon South-Bay, etc…), fazendo perdurar uma persistente estagnação, um permanente avançar de iniciativas que não veem o seu fim e, por esse motivo, não cumprem o seu propósito.
É necessário trabalhar com eficiencia e eficacia!
Goethe traduz bem o que se tem passado no Barreiro na última década:
“A altura atrai-nos, mas não os degraus que para lá conduzem; Com os olhos postos na lua, andamos de bom grado pela planície.”(Goethe, 1749-1832)
Será que existe a perceção que o Barreiro continua a ser gerido com instrumentos de gestão territorial pensados há quase 30 anos?
Será que existe a perceção que este fator condiciona o desenvolvimento de todo o território municipal?
Porque estas questões não são levantadas da mesma forma que se fala sobre os fatores externos (Terceira Travessia do Tejo, Novo Aeroporto de Lisboa, Terminal de Contentores, Lisbon South-Bay, etc…) sobre os quais não temos qualquer poder?
O Plano Diretor Municipal do Barreiro, o Instrumento de Gestão do Território que fixa a política do solo para o concelho, a visão de futuro, foi pensado antes da Internet se tornar global, antes de todos sonharmos em ter telemóvel ou tablet, antes da revolução tecnológica das comunicações e da energia, num contexto industrial que hoje não existe nos mesmos moldes.
Hoje estamos perante novos desafios numa sociedade diferente, existe uma nova geração, mais instruída, mais atenta a preocupações ambientais e energéticas, atenta à eficiência e eficácia, exigente quanto aos compromissos assumidos, capaz de construir e expressar ideias e capaz de dar suporte a uma Visão de Futuro, quando esta existir.
Ninguém pergunta qual o impacto que a falta de um instrumento desta natureza tem no município e nos Barreirenses?
Quantas oportunidades já se perderam, e continuam a perder, por o Barreiro não ter feito o trabalho de casa?
Quantos potenciais investidores olharam para o Barreiro, leram este documento nestes 30 anos, e viram que nada mudou decidindo investir em outro local?
É esta a imagem, a visão, a estratégia que queremos para o Barreiro que aparece há anos em 17º lugar na lista de atratividade dos 18 Municípios da Área Metropolitana de Lisboa?
http://www.bloom-consulting.com/pdf/rankings/Bloom_Consulting_City_Brand_Ranking_Portugal.pdf
Melhorar está ao nosso alcance!
O potencial do Barreiro deve acompanhar os tempos através da criação de instrumentos e politicas adequados à realidade económica e social de forma a propiciar o aproveitamento de oportunidades geradas.
As oportunidades têm que ser criadas de dentro para fora! O investimento externo será consequência da atratividade que criarmos.
“O ambiente urbano não só reflete a ordem social como constitui, na realidade, grande parte da existência social e cultural. A sociedade é tanto constituída como representada pelas construções e pelos espaços que cria. (Innerarity, 2006, p.108)
Quando se fala em potencial de captação de empresas é necessário saber para onde, que empresas e que condições se oferece. Tomando como exemplo o território da Quimiparque, cujo potencial é cansativamente falado, até este deve ser trabalhado em diversos aspetos antes de se tornar verdadeiramente atrativo ao investimento.
Se a realidade tem sido uma perda permanente de empresas, postos de trabalho, pessoas e investimento, porque não se questiona se o território está preparado para acolher o tão desejado investimento?
Será que não surgem empresas porque os solos necessitam de remediação devido ao fato de estarem poluídos?
Será que necessita de novas infraestruturas adequadas às necessidades das empresas contemporâneas, seja em comunicação, energia ou até na acessibilidade e imagem que se propicia?
Porque não se conclui o Plano de Urbanização previsto para esta área, estruturando o solo verdadeiramente através da definição de usos e atividades, critérios, cenários claros e objetos de investimento que possibilitem cenários realistas aos potenciais investidores?
Que política local pode ser criada de incentivo ao investimento?
Estas são questões importantes ver respondidas e resolvidas que não dependem de fatores externos, mas simplesmente do trabalho interno sobre fatores locais/ internos.
Tornando mais claro o que se está a dizer, será fácil perceber que o desenvolvimento não constitui um objetivo, mas sim uma consequência de trabalho direcionado para resultados, para o atingir objetivos, metas intercalares, as quais fazem parte de uma visão de futuro. Se assim é, será também fácil entender que a aposta em ganhar, em transformar, em concretizar deverá ser acompanhada de instrumentos e politicas atualizadas, adequadas permanentemente à transformação da realidade social e económica do momento, respondendo a ambições e expetativas dos cidadãos e empresas.
A nossa proposta, como já foi referenciado, vai no sentido de, em primeiro plano, serem concluídas as obras inacabadas por todo o concelho, que se modernizem infraestruturas e se criem politicas de incentivo ao investimento, criação e fixação de empresas, que sejam investidos os escassos recursos financeiros da autarquia em politicas solidas, ativas de regeneração urbana que qualifiquem os espaços de vivência da cidade tornando-os confortáveis, seguros, atrativos, e adaptadas a pessoas com mobilidade reduzida e a critérios de sustentabilidade, mobilidade e comunicação, Que se aposte na dinamização e qualificação do tecido económico e do comercio local, que se invista na identidade, na cultura, na educação e nos equipamentos escolares degradados, que se termine a elaboração de instrumentos de gestão do território como o PDM e o Plano de Urbanização para a Quimiparque, entre outros instrumentos, que sejam terminadas e concluídas todas as obras, espaços e projetos há anos por concluir!
Tudo isto por uma afirmação da imagem e visão que se pretende para o futuro, tornando o território atrativo a empresas e investidores criativos, inovadores e com vontade de criar algo novo, um Barreiro renovado.
O que se ganha com estes exemplos?
Uma cidade com espaços de qualidade e atrativos a pessoas e empresas capaz de propiciar experiencias positivas transportadas além das fronteiras do município para conhecimento de outros que terão curiosidade de visitar, ou investir, assim como nós sentimos curiosidade de visitar outros sítios cujas particularidades locais nos são transmitidas por amigos e familiares que por lá passaram; uma cidade com produtos turísticos adaptados à sua realidade e contexto de proximidade a Lisboa e ao estuário do Tejo; Um município preparado para fixar e receber pessoas e empresas com consciência de um trabalho que oferece confiança e qualidade a quem opta pelo Barreiro; Uma cidade que acompanha a mudança dos tempos e assim reflete a imagem da sociedade que a vive.
O Barreiro tem o potencial de vir a constituir uma referência na AML, e por isso propomos que se consolide e qualifique o que temos, com os olhos postos na transformação da indústria energética, investigação e da comunicação.
Que o Barreiro possa ser o meu, o teu, o nosso lugar e o lugar de muitos no Sec.XXI.
Por: Arqt.º Emanuel Santos, responsável de Urbanismo da Plataforma 2830
Hall, Stuart – A identidade cultural na pos modernidade – Rio de Janeiro, DP&A Editora , 1993
ISBN 85.7490.402.3
Innerarity, Daniel – O novo espaço público – Teorema, 2006
ISBN 978-972-695-906-9
Miles, Malcom – Cities and Cultures – Rotledge, 2007
ISBN 0-203-00109-5
Mongin, Olivier – O futuro das cidades pelo filosofo, entrevista por António Gonçalves Filho – Estadão: Consulta [21 Out. 2015]
Disponível em : http://www.estadao.com.br/noticias/geral,o-futuro-das-cidades-pelo-filosofo,469755