O Pinto da Costa não se incomoda com as opiniões do presidente do FC Pedras Rubras.
O que se segue é uma metáfora simples, pelo menos para quem gosta de futebol, e que se aplica ou se devia aplicar à política.
Observamos atualmente um fenómeno de especulação eleitoral face ao partido Chega, como nunca antes visto. A responsabilidade disso, a meu ver, é repartida entre o bom trabalho da equipa do partido em questão, o amadorismo aparente dos restantes partidos e a capitulação do jornalismo face ao entretenimento.
Temos 1 partido, com 1 deputado eleito por Lisboa, a autointitular-se de terceiro maior partido de Portugal.Com a conivência dos restantes partidos, até mesmo do partido que até à data é realmente o terceiro maior, que não são capazes de “puxar dos galões” e comportarem-se como partidos maiores.
A comunicação social, por uma lógica de entretenimento precisa de fazer sondagens de 2 em 2 meses e empolar o seu significado, pois quanto mais a sondagem se assemelhar a uma eleição, mais influência e audiência tem o meio. Isto não é nenhuma novidade. Assim como não o é, o facto de procurarem quem lhes dá mais audiências, quem se torna mais apetecível para atrair leitores/espectadores/ouvintes. Para este último facto, é importante recordar a primeira frase deste texto.
Se o Pinto da Costa se incomodasse com aquilo que diz o presidente do Pedras Rubras, veríamos muito mais vezes o presidente dessa equipa aparecer nos jornais desportivos. Se o Presidente do FC Porto se incomodasse com a opinião do presidente do Pedras Rubras e ainda por cima ambas as equipas tivessem um jogo marcado para a Taça de Portugal, este último presidente teria destaque nos jornais, telejornais, rádios e sites que tratassem do tema.
Os adeptos do Pedras Rubras estariam inchados de orgulho e os jogadores motivados. Os do FC Porto, pelo contrário, estariam entre o desprezo e a fúria, pois se o próprio presidente do clube se incomoda como é que eles poderiam ignorar?
Decorresse o jogo onde decorresse, o FC Porto partiria para o mesmo com muito mais a perder. Não só porque é favorito e candidato ao título, mas porque perder seria agora uma dupla humilhação tendo em conta a picardia entre os presidentes.
É por isso que no mundo real isto não acontece. O presidente do FC Porto é experiente e tem plena noção do lugar que ocupa e em que instituição o ocupa.
Se o presidente de um clube muito mais pequeno quiser opinar sobre o FC Porto, muito provavelmente essa opinião nem sequer chegará aos ouvidos de Jorge Nuno Pinto da Costa e, mesmo que chegasse, não lhe mereceria 5 segundo de atenção. Não são da mesma liga, não têm o mesmo peso e o único a beneficiar da resposta seria o presidente do clube pequeno, que teria assim o seu pequeno momento de fama.
No mundo real os adeptos do FC Pedras Rubras ou de outro clube qualquer mais pequeno, os jogadores e outros membros do clube, ficam radiantes por lhes calhar o FC Porto num jogo para a Taça de Portugal. Especialmente se o jogo for em casa. É uma festa, como se costuma dizer. Essa equipa nunca perde, pois seja qual for o desfecho do jogo, vai ter mais atenção e mais bilheteira que nunca.
O mesmo se passa no panorama político nacional. Só que parece que todos os presidentes das “equipas grandes” estão empenhados em discutir as opiniões do presidente do “Pedras Rubras”, em vez de cumprirem o calendário de falar com e sobre ele uma vez por ano e prosseguirem na discussão de uma visão para Portugal com os partidos que lhes fazem realmente competição nesse campo.
Esquecem-se que o Chega (CH) nunca perde porque não tem nada a perder, e ganha a dobrar por cada vez que os outros partidos despendem mais tempo que o necessário a falar nas opiniões do seu presidente.
Os média já repararam que ninguém se nega a opinar sobre o que diz ou faz o CH e em resultado disso, vemos em entrevistas cujo assunto por vezes não é sequer a política, o tema ser introduzido à força ao entrevistado. É o tema “polémico” e ainda por cima André Ventura dá sempre resposta a toda a gente. Perfeito para se ter sempre algo novo para noticiar.
Só que é verdadeiramente deprimente e de certo modo incrível, ver políticos e partidos experientes sem conseguirem detetar o óbvio e a não terem capacidade de centrar a atenção no essencial, ignorando o acessório. Nesta altura é mesmo legítimo que nos perguntemos sobre o nível de amadorismo da política portuguesa, contrastando com a ideia de que os partidos são máquinas de jogos maquiavélicos, jogadas de bastidores e com estrategas implacáveis, pois afinal de contas andam às aranhas para marcar minimamente a agenda mediática.
Senão como é que um Rui Rio se põe a tecer considerações sobre possíveis acordos com um partido de 1 deputado?
Como é que a equipa de João Ferreira, com um orçamento de quase meio milhão, e o PCP, acharam que seria boa ideia espalhar pelas suas redes sociais que o seu adversário provocou um entupimento dos sites tanto do partido como da candidatura?
Serão as assessorias um mito?
Estes exemplos de ações e reações precipitadas por parte de partidos e líderes partidários face a um partido cujo poder assenta em sondagens só nos podem merecer indignação. Afinal, critica-se tanto o Governo por agir com base em resultados de focus group, mas temos tido os nossos partidos a dançar ao som das sondagens, em vez de agirem conforme o real poder que os portugueses lhes conferiram através do voto, e a vincarem isso mesmo.
Por esta altura, os 60 mil portugueses que votaram no Chega, devem estar inchados de orgulho, como os adeptos do Pedras Rubras, por saberem que partidos com 10x mais votos, andam empenhados a debater as opiniões de André Ventura.
Enquanto assim for e não ganharem consciência e respeito pelos próprios eleitores, há um pequeno partido que vai ganhar todos os debates, todas as sondagens e todas as eleições independentemente do resultado, pois está a ter mais atenção e bilheteira que nunca.
João Conde