Se já antes da pandemia a SARS-CoV-2 eram muitos os doentes sem controlo clínico da sua asma/rinite/rinossinusite, actualmente, dado o receio de infecção em ambiente hospitalar pelo SARS-CoV-2, muitas consultas ficaram em suspenso e com elas o controlo dos doentes.
Mas não tem de ser assim….
Com o retomar gradual das actividades programadas (consultas, exames médicos, cirurgias programadas) as unidades de saúde públicas e privadas adoptaram estratégias/protocolos em concordância com recomendações da Direção Geral de Saúde para minimizar o risco de infecção e manter a segurança da deslocação às unidades de saúde.
Esta estratégia é variável de instituição para instituição, e passa por medidas de rastreio de temperatura a todos os doentes, fornecimento de máscara cirúrgica de proteção individual a todos os doentes e profissionais à entrada dos edifícios, a par de criação de circuitos e de alterações nas zonas comuns, de forma a garantir a máxima segurança a todos os profissionais de saúde e doentes.
Também na Consulta de Imunoalergologia se verificou uma diminuição do número de consultas de seguimento.
A doença alérgica, da qual os exemplos mais comuns são a rinite, asma e a rinossinusite caracterizam-se pelo aparecimento mais ou menos prevalente de sintomas associados a eventual existência de um ou mais desencadeantes.
A rinite alérgica, doença alérgica mais prevalente (cerca de 20% da população portuguesa segunda dados divulgados pela Sociedade Portuguesa de Alergia e Imunologia Clínica), caracteriza-se clinicamente por um quadro de comichão nasal, crises de espirros, congestão e obstrução nasal e corrimento aquoso. Associa-se frequentemente, especialmente em situações arrastadas e não controladas, a sinusite, polipose nasal, otite ou asma brônquica.
A rinossinusite é uma inflamação dos seios perinasais e da cavidade nasal, uma vez que a sinusite está quase sempre acompanhada de inflamação da mucosa nasal adjacente. Os doentes apresentam dois ou mais dos seguintes sintomas: obstrução ou congestão nasal, corrimento nasal anterior e ou posterior, dor ou pressão facial/cefaleia e redução ou perda do olfacto. Pode ainda ocorrer mau hálito e tosse com expectoração (de predomínio durante a noite). A sinusite associa-se com frequência à rinite alérgica, verificando-se de acordo com um artigo publicado na Revista Portuguesa Pneumologia que 53 a 70% dos doentes com rinite tem sinusite e 56% dos doentes com sinusite sofrem de sintomas de rinite.
A asma, doença inflamatória crónica das vias aéreas, é na maioria dos países desenvolvidos a doença crónica mais prevalente na infância. A tosse, o aperto no peito, a dificuldade em respirar e a pieira ou chiadeira no peito são os sintomas típicos desta doença. Há vários estadios de gravidade de asma, desde as formas ocasionais e esporádicas, até às formas crónicas que variam de ligeiras a graves. Num doente com este diagnóstico são frequentes períodos de estabilidade clínica, de maior ou menor duração.
Todas estas patologia, contudo, têm em comum que os sintomas podem ser desencadeados por exposição a alergénios, a irritantes como produtos de limpeza, produtos químicos, tabaco, poluição, poeiras ou mesmo produtos com odores muito fortes. Da mesma forma, o esforço físico mais intenso e súbito pode ser um fator determinante, assim como a exposição a temperaturas extremas.
Um dos factores comuns de agravamento, para além da exposição a alergénios passa também pelas infecções respiratórias.
As infeções respiratórias a qualquer nível da via aérea (do nariz ao pulmão) são um fator de agravamento agudo muito frequente e durante o inverno há, tipicamente, um agravamento associado a estas doenças.
Assim é fundamental a vigilância da doença alérgica quer seja pela manutenção das terapêuticas prescritas quer seja pelo acompanhamento em consulta de modo a minimizar o risco de agravamento no Inverno.
No caso de suspeita de alergia será importante uma consulta de Imunoalergologia para diagnóstico e medidas terapêuticas (quer seja no controlo/evicção de alergénios, quer seja pela instituição de terapêutica farmacológica). Nas situações infecciosas a utilização de terapêutica preventiva (vacinas bacterianas/vacina da gripe/imunomoduladores) tem revelado bons resultados.
A definição do melhor tratamento para cada caso será sempre feita pelo médico Imunoalergologista.
Nesta fase de pandemia a SARS-CoV-2 em que nos encontramos podemos de alguma forma antecipar e preparar o melhor possível um inverno que se prevê incerto. Por consulta presencial ou teleconsulta, o ideal será no verão ou início do outono agendar uma consulta de Imunoalergologia de modo a manter o controlo clínico quer seja pela otimização de terapêuticas, prescrições para um maior período temporal quer seja pela reavaliação da própria doença e eventuais prescrições de terapêuticas preventivas adjuvantes.
É importante reforçar a prevenção das agudizações pois estas situações, bem estudadas, evitam-se e controlam-se. A pandemia a SARS-CoV2 poderia ser uma oportunidade para os doentes se preocuparem mais com a sua doença alérgica crónica e o seu controlo. Vamos ver se assim será.
Teresa Gomes Moscoso, imunoalergologista na Clínica CUF Almada e no Hospital CUF Descobertas
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