Começou esta semana a convenção anual, organizada pelo Movimento Europa e Liberdade. Com um painel recheado de protagonistas maioritariamente oriundos do espectro político da direita, o MEL tem sido uma ajuda para alguns opinadores que à falta de imaginação, durante dois ou três meses podem dedicar os seus espaços de opinião a libertar algum fel aos oradores e organizadores. É que ainda há, em certos setores da esquerda portuguesa, quem lide muito mal com a hipótese de haver gente com ideias contrárias às suas, a dialogar de forma organizada e em grande número. 

Apesar disso, um dia antes da convenção arrancar, houve uma desistência de última hora. Uma dirigente da Iniciativa Liberal, evocou desconforto com os moldes em que estão organizadas as intervenções e principalmente com a presença do presidente do Chega, que irá encerrar um dos painéis da convenção (apesar de em 2019 este ter dito que era uma vergonha participar na convenção).


É uma posição legítima que há quem goste e há quem não goste, como é habitual e desejável. O timing deste anúncio é que me leva a crer que a IL está a ficar expedita na criação de fait-divers. Tal como disse um dos organizadores do MEL, em reacção a esta desistência, a militante liberal podia ter recusado o convite ou pelo menos ter desistido há muitíssimo mais tempo, dado que o convite, segundo Paulo Carmona, lhe fora endereçado há três meses. A participação do líder do CH também não foi dada a conhecer há propriamente três dias.  

Mas nessa altura a desistência desta oradora teria o mesmo impacto que a umas horas do início do evento? Ou apenas recusar o convite, fazendo-o diretamente a quem a convidou? Logicamente que não. 

Relembremos o que se passou aquando do 25 de abril, quando a Iniciativa Liberal esteve “nas bocas do mundo” porque supostamente queria desfilar na avenida da Liberdade conjuntamente com outros partidos e movimentos, só que os organizadores desse desfile supostamente não queriam a companhia deles. A história foi-nos contada como havendo uma esquerda a proibir a direita de desfilar livremente. A IL veio prontamente dizer “não precisamos de autorização da esquerda para desfilar!”. Nada mais verdadeiro, mas então porque é que lhes foram pedir autorização? Talvez pelo mesmo motivo que Maria Castello Branco só a umas horas do início da conveção do MEL, decidiu revelar que está com alergia ao André Ventura. 

Se o objetivo for conseguir mais cobertura mediática para o partido, são formas excelentes de construir um isco para os jornalistas morderem vorazmente. Se a IL realmente premedita estes objetivos,há que assumir que afinal não é só o CH que aprende rápido. Neste caso os nossos partidos mais novos estão rapidamente a assimilar rotinas de partidos experientes, aqueles que eles simulam querer ser diferentes de. 

Podem ter sido, possivelmente, felizes acasos que geraram mais uns destaques jornalísticos, dado que a assessoria política e de imprensa em Portugal ainda está a descongelar para ir ao microondas.  

Nota final: A Bielorrússia, exemplo de democracia avançada, enviou caças para desviar um avião da Ryanair, cheio de passageiros de várias nacionalidades, entre os quais se encontrava um jornalista de 26 anos que o regime considera merecer uma possível pena de morte. 
O incidente gravíssimo gerou reprovações públicas de vários países, assim como outras represálias a nível diplomático como o cancelamento de todos os voos que passem pelo espaço aéreo bielorrusso. A União Europeia vai ter de dar uma resposta mais firme ou cairá no ridículo, após uma agressão direta de uma decadente ditadura comunista. 


O PCP, o único partido que apoia publicamente ditaduras um pouco por todo o mundo, esteve inicialmente calado acerca do assunto, mas acabou por corresponder ao esperado. Na RTP, Lúcia Gomes, esteve quase a dizer que, no limite, Lukashenko é um herói dos tempos modernos que atuou para combater os maquiavélicos planos de dominação fascista do jovem jornalista.
Clamar pela liberdade sim, mas só quando dá jeito. De resto, valem todas as piruetas necessárias para defender ditadores.  

João Conde