Vivemos tempos difíceis, em tempo de pandemia. Difíceis porque podemos ser infectados pelo vírus; porque a situação económica só parece poder piorar; e talvez associado a ambas, porque a nossa saúde mental também pode sair prejudicada. Quanto ao primeiro, parece que só nos resta esperar que os cientistas descubram uma vacina, ou um tratamento que nos consiga livrar do bicho; mas nos outros dois, ainda que de forma limitada, talvez seja possível a cada um de nós fazer qualquer coisa.
Antes do estado de emergência havia duas coisas que eu não fazia com muita frequência; uma que passei nesse período a fazer quase todos os dias, e a outra quase todas as vezes quando era necessário: a chamada caminhada higiénica, e as compras na mercearia do bairro. Era o que eu podia fazer para manter a minha saúde, para não perder tanto tempo em filas, e também para ajudar o comércio local. Foi o que pude fazer, e acho que me fez bem, e que fiz bem aos outros.
Entretanto acabou o estado de emergência (esperemos que definitivamente) mas o bicho não foi embora. Alteraram-se um pouco as circunstâncias, e já se voltaram a poder ter outra vez alguns comportamentos, mas no entanto havia coisas que eu não gostava que se voltassem a alterar, pelo menos totalmente. No estado de emergência via outras pessoas também a caminhar, e a fazerem compras na loja do bairro, e isso deixava-me contente; ver outras pessoas a fazerem bem a elas próprias, e também aos outros, deixa-me contente.
Foi por isso que também fiquei contente quando soube que se ia realizar o 37º Festival de Almada. Gosto de teatro, e vai-me fazer bem ir assistir, e ver outras pessoas a assistir; e este ano vai ser como se fôssemos todos à loja do bairro buscar quase tudo aquilo que precisamos. Em tempo de pandemia, das 17 produções que vão estar presentes, apenas 3 são estrangeiras, duas de Espanha e uma de Itália. As salas em que vão ser exibidas também estão todas em Almada, à excepção do pequeno auditório do CCB, onde se poderá ver a Viagem de Inverno.
Faz-me bem estar em contacto com a arte, e ao mesmo tempo estar a ajudar os nossos artistas; mas não quero estar em contacto com nada que me faça mal, nem contribuir para que isso se espalhe pelos outros. Por isso vou com todos os cuidados, e respeitando naturalmente as indicações das autoridades de saúde.
Daquilo que vou ouvindo, as previsões dos cientistas apontam para que só daqui a um ano é que talvez tenhamos uma vacina; pode ser que entretanto apareçam tratamentos que atenuem o problema, mas de qualquer maneira parece que o vírus ainda vai condicionar a nossa vida durante muito tempo. Durante esse tempo acho que temos de encontrar um equilíbrio que preserve a nossa saúde, física e mental. Neste caso específico foi o que pude fazer, mas há tanto que se pode fazer, e que faz bem tanto a nós como aos outros.
João Gonçalves
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