Baixa da Banheira, a Saúde da Sua População Primeiro
Quando acabada a 2ª Guerra Mundial, na segunda metade da década de cinquenta do século passado e com a implantação da industrialização na margem sul do estuário do Tejo, começaram a chegar a esta área geográfica muitas e muitas famílias que, procurando dias melhores para a sua vivência, deixaram as terras natal e procuraram por aqui instalar-se. Era uma nova fase da sua vida, muito trabalho nas empresas da química pesada, da metalurgia e metalomecânica, dos caminhos-de-ferro, da cortiça, da siderurgia, da construção civil… muitas vezes com jornadas de trabalho de sol a sol, quase a rondar a escravidão humana. Mas era preciso trabalhar para ganhar o sustento da família e mais alguns tostões para alugar ou construir a sua própria casinha. Os novos banheirenses deram tudo de si, para os seus, mas também para a comunidade, pois era necessário construir a sua terra, as redes de abastecimento de água potável e as de esgotos pluviais e domésticos, as redes de abastecimento de energia eléctrica, os arruamentos que eram de terra. Muitos banheirenses sofreram ainda as agruras de participar na guerra colonial que lhes foi imposta pelo regime fascista. Sempre a trabalhar, também na construção das colectividades de cultura, recreio e desporto, para que os seus filhos e netos pudessem ter uma melhor educação e um outro olhar sobre o mundo. Nunca se negaram ao trabalho as populações desta terra singular de gente simples e honesta.
Hoje, uma grande parte da população está envelhecida, desgastada, a necessitar de cuidados de saúde que procura, no único equipamento de cuidados primários que foi instalado provisoriamente, no actual equipamento existente na estrada nacional. Equipamento construído no início da década de setenta para habitação, com cave e cinco pisos, em altura, sem condições de segurança, quer para quem ali trabalha diariamente, quer para todos os utentes que ali acorrem às centenas, todos os dias. Se houver um incidente num dos pisos, todas as pessoas que se encontrarem nos pisos superiores, não têm acesso a qualquer sistema de segurança, a não ser que se atirem por uma janela, se a ela conseguirem ter acesso, já que na escada interior apenas passa uma pessoa de cada vez e ao elevador terá que ser cortada a corrente eléctrica. Para Satisfazer as reivindicações da Comissão de Utentes de Saúde, já ali foram feitas algumas adaptações e melhoraram-se as condições ao nível do rés-do-chão, mas todos os pisos superiores sofrem de instalações totalmente precárias que obriga a uma substituição do equipamento, por um outro construído de raiz para o efeito, com todas as normas exigidas pelos padrões comunitários e pelas regras de salubridade, higiene, segurança e acessibilidade a todos os utentes.
Por outro lado, a quantidade de clínicos e de outros profissionais de saúde é muito inferior ao necessário, para que se prestem os cuidados de saúde primários necessários a toda a nossa população. Primeiramente faltavam muitos enfermeiros, mas sob o aspecto reivindicativo constante, lá se conseguiu que estejam ao serviço os que se consideram quase suficientes. Mas faltam os médicos! E a situação diária das populações que querem obter uma consulta é caótica: os utentes chegam a vir para a porta do Centro de Saúde, às 2 e 3 horas da madrugada, para formar uma fila que chega a ter mais de 100 pessoas, à espera de conseguirem obter uma inscrição para consulta e muitas vezes veem os seus esforços e os seus sacrifícios tornarem-se infrutíferos, pois quando vem a abertura do equipamento, logo na secretaria os informam que não há vagas, ou só um número muito limitado de vagas que não contempla a maioria dos que esperaram. Desde Janeiro de 2016 que esta situação existe e mesmo os esforços reivindicativos da Comissão de Utentes têm sido em vão. Já fomos falar com os responsáveis do Ministério da Saúde logo no dia 07/01/2016. Falámos com os responsáveis da Administração Regional de Saúde em 06/06/2016, fizemos 3 exposições ao Senhor Ministro, aos Secretários de Estado e à Administração Regional, reunimos por diversas vezes com a Direcção Executiva do Agrupamento dos Centros de Saúde. Reunimos por 4 vezes com as Populações em Sessões Públicas, aprovámos uma Resolução que foi enviada a todos os Orgãos de Poder, exigindo Medidas de Excepção, para a colocação de novos médicos na Baixa da Banheira e até aqui, sabemos apenas que a situação se tende a agravar com a aposentação dos médicos que estão ao serviço e que só com o seu esforço, abnegado, tem sido possível que alguns utentes tenham ainda algum atendimento.
Os Componentes da Comissão de Utentes de Saúde continuarão, voluntariamente, com toda a sua disponibilidade, contrariando os tempos que deveriam dedicar a suas famílias e aos seus familiares, a lutar para que as reivindicações dos utentes sejam atendidas de imediato, para que todos os utentes de saúde da Baixa da Banheira, sejam tratados como cidadãos de corpo inteiro, com todos os seus direitos, já que em toda a sua vida não regateiam o cumprimento integral dos seus deveres, para que possam ser atendidos condignamente e em tempo útil, pelo Serviço Nacional de Saúde como aponta a Constituição da República Portuguesa.
Baixa da Banheira 29 de Dezembro de 2016
José Manuel Lopes Fernandes