A Câmara Municipal de Alcácer do Sal, em colaboração com a Junta de Freguesia do Torrão, está a proceder a uma operação de limpeza do espaço arqueológico do Monte da Tumba, situado no Torrão. O Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal de Alcácer do Sal, com coordenação da arqueóloga Rita Balona, tem uma equipa no terreno a efetuar a limpeza daquele sítio museológico que pertence à Direção Regional de Cultura do Alentejo, para que aquele local receba no dia 29 de outubro uma visita de estudo e para que no futuro possa ser alvo de mais visitas.

Rita Balona refere que “qualquer zona arqueológica necessita de manutenção, de forma a evitar o crescimento de ervas que possam danificar ou até destruir algumas peças”, acrescentando que “aquele espaço encontrava-se com vegetação alta sendo impercetível e por isso a autarquia decidiu com os seus meios próprios limpar o espaço que conta com a preciosa colaboração da Junta de Freguesia do Torrão”.

O Monte da Tumba, localizado no Torrão, é um ponto de referência da arqueologia nacional, tendo sido “a primeira zona habitacional do Calcolítico descoberta em território nacional”, explica a arqueóloga Marisol Ferreira, responsável pelo Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal de Alcácer do Sal. Edificado entre 2500 e 2000 a.C., o Monte da Tumba é um exemplo do trabalho que se obtém através das parcerias entre entidades. “Temos de estabelecer protocolos deste género para assegurar não só a limpeza do espaço, mas também a preservação do património”, referiu a arqueóloga que, após a conclusão das limpezas e a realização da visita de estudo, começa já a pensar no futuro, referindo que o objetivo é “tornar o Monte da Tumba num sítio museológico para poder receber exposições e visitantes”.

Descoberto no inicio da década de 80, devido à construção de uma habitação no local, o Monte da Tumba foi alvo de escavações pelos arqueólogos Joaquina Soares e Carlos Silva do Museu de Arqueologia da Assembleia do Distrito de Setúbal que encontraram o núcleo habitacional, e vários objetos usados no dia a dia pelos habitantes do Monte da Tumba. O espólio já foi alvo de várias exposições.

Monte da Tumba:

Este vestígio arqueológico da Idade do Cobre foi identificado quando se construiu uma vivenda, em 1980, no cimo de uma elevação conhecida como Monte da Tumba. As escavações deixaram aparecer os restos do povoado ocupado durante o Neolítico final e o Calcolítico (2500 – 200 a.C.). Povoado raro para este período no Baixo Alentejo e ainda mais raro por oferecer boas sucessões estratigráficas e estruturas bem conservadas, o Monte da Tumba localiza-se numa mancha calcária o que permitiu a conservação de alguns elementos. Oferece informações imprescindíveis para o conhecimento, quer do meio económico-social, quer do meio natural, fauna, flora, carvões.

Acesso

O povoado situa-se seis quilómetros do Torrão, no Vale do Gaio, a 1100 metros para este da Ribeira do Xarrama (afluente do Rio Sado).

Calcolítico:

“Talvez um dos períodos mais interessantes, não da história da nossa comunidade como memória de Nação, mas da própria Humanidade, é aquele que se convencionou chamar de calcolítico. Em finais do IV milénio ou princípios do terceiro milénio, dá-se uma nova transformação baseada na introdução dos metais; o primeiro metal a ser introduzido na teia de relações comerciais e sociais foi o cobre. A par da existência de lugares abertos (como Barrada do Grilo), surgem povoados com condições naturais de defesa (Monte da Tumba e Castelo do Torrão), sinal do aparecimento de conflitos, pelo domínio dos recursos naturais e do território.
Alguns utensílios continuam a ser fabricados em pedra polida sem grandes alterações técnicas, como os machados, as enxós e as goivas, ou as mós, utilizadas para a moagem dos cereais; as formas cerâmicas diversificam-se, produto de novas necessidades, aparecendo, por exemplo, as queijeiras e os pesos de tear com forma de paralelepípedo ou crescente; surgem os primeiros indícios de metalurgia, cujo domínio técnico exige uma especialização e conduzirá à divisão social do trabalho. A introdução do cobre redefiniu todas as relações sociais, estabelecendo um novo tipo de hierarquia, agora baseado nas trocas comerciais, percetíveis no momento da morte. A inumação em grandes sepulturas coletivas perdura (megalitismo), sendo alguns artefactos de uso quotidiano, como os machados e as enxós, utilizados no ritual funerário.