O livro

Somos um país cada vez mais envelhecido. Daqui a três décadas, quase metade dos portugueses terão mais de 60 anos. Daí a urgência desta pergunta: como vivem os nossos idosos? Porque estão tão sozinhos? A cidade é-lhes hostil? E o mundo rural? A família, os lares e os centros de dia tratam bem de quem ficou dependente dos cuidados de outros?

Alice alimenta pombos dentro de casa para estar entretida. Fernanda aceitou ir para um lar para não dar trabalho aos filhos. José voltou à aldeia onde nasceu, mas a distância do hospital fê-lo perder a fala na sequência de um AVC. Maria de Lurdes domina as redes sociais e é grande adepta dos programas culturais do centro de dia que frequenta.

Em Os pombos da senhora Alice: Envelhecer em Portugal relatam-se histórias de quem, ainda autónomo, é vítima da pressão imobiliária, da falta de afecto e da pobreza, ou de quem, por doença, vive num lar ou já não sai de casa. Retratam-se casos de solidão e discriminação, dificuldades e carências dos idosos em Portugal. Mas também se contam finais felizes, porque a esperança é a última a morrer.

A autora

Ana Catarina André é jornalista desde 2007. Cresceu em Sobral de Monte Agraço e licenciou-se em Ciências da Comunicação, na Universidade Nova de Lisboa. Concluiu um mestrado em Ciência Política e Relações Internacionais e uma pós-graduação em Direitos Humanos. Estreou-se na revista Sábado e desde então já colaborou com a Renascença, o Público, o Diário de Notícias e a Visão. É autora do livro Confrarias de Portugal e co-autora do retrato Peregrinos, editado pela FFMS.

De que trata este livro?

Em 2050, quase metade da população portuguesa terá mais de 60 anos. Como vivem os idosos em Portugal? Que problemas enfrentam? Por que é que muitos estão sozinhos? Tratamos os mais velhos como se fossem crianças? Os lares e centros de dias proporcionam uma resposta adequada para quem depois de uma vida longa ficou dependente dos cuidados de outros? Estas são algumas das questões que compõem este livro sobre o envelhecimento e as condições de vida dos portugueses após os 65 anos. Retratam-se casos de solidão e discriminação, dificuldades e carências, mas também se contam finais felizes.

Que histórias estão contidas neste livro? 

Uma vez que o processo de envelhecimento é heterogéneo, assim como a situação de vida de cada idoso, os protagonistas deste livro e as suas histórias seguem a mesma linha de diversidade. Alice não tem família, nem amigos e alimenta pombos dentro de casa para estar entretida. António encontrou numa república sénior uma solução digna de habitação, após vários anos a viver em quartos alugados. Maria de Lurdes domina as redes sociais e é adepta dos programas culturais do centro de dia que frequenta. Fernanda decidiu vender a casa e ir para um lar para garantir cuidados de saúde, caso o corpo e a mente lhe falhem algum dia. 

Como é que o livro está organizado? 

Considerando que o contexto em que envelhecemos condiciona o dia-a-dia, o acesso a hospitais e meios de transporte, afectando as relações pessoais e o bem-estar, as histórias aqui retratadas estão associadas a um espaço concreto. Há relatos de quem vive num lar, mas também de quem permanece todo o dia entre quatro paredes e nunca sai de casa por questões de saúde. Outros capítulos são dedicados aos que procuram conforto nos centros de dia, mas também aos que encontram nas repúblicas uma solução de habitação digna depois de anos a morar em quartos alugados. 

É um retrato circunscrito à realidade urbana?

Não. Este livro também dá voz aos idosos que vivem no interior, em regiões onde o acesso aos cuidados de saúde é moroso e onde o envelhecimento da população é mais significativo do que nas grandes cidades. A reportagem na Serra do Açor dá a conhecer a história de uma padeira que todas as semanas leva a medicação e as reformas aos idosos que moram nestas aldeias quase desertas. 

Sabia que as repúblicas seniores procuram replicar o conceito das repúblicas estudantis? 

Os idosos dividem as tarefas domésticas, assumem a gestão do quotidiano no apartamento e, caso haja algum problema, reúnem o conselho da república. O projecto social das repúblicas seniores, inspirado nas residências estudantis que surgiram em Coimbra no século XIV, foi criado pelo Centro Social Paroquial de São Jorge de Arroios, em Lisboa. A iniciativa procura promover a autonomia dos moradores, minimizando a solidão e proporcionando uma vida mais confortável a quem tem uma reforma baixa e um agregado familiar inexistente ou reduzido. Em 2019 este centro social era responsável por nove repúblicas, duas das quais femininas.

Informação :  Fundação Francisco Manuel dos Santos

Foto : Rui  Palha

Cláudio Anaia

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