O Barreiro recebe no próximo dia 3 de dezembro, na Escola Superior de Tecnologia do Barreiro do Instituto Politécnico de Setúbal, o “Inspira Barreiro – Conferência Anual de Empreendedorismo”.

Uma iniciativa destinada, de acordo com os organizadores, “a todas as pessoas com motivação para o desenvolvimento de projetos ou empresas, estudantes do ensino secundário e superior, jovens à procura do primeiro emprego, desempregados que procuram a reinserção no mercado de trabalho, empresários, gestores de PME e empreendedores…e ainda todos as pessoas que simplesmente…tenham curiosidade em participar”. O evento pretende, acima de tudo, “agitar consciências, inspirar talentos e desvendar competências”.

Em exclusivo ao Distritonline, o diretor da Escola Superior de Tecnologia do Barreiro, Pedro Ferreira e Frederico Rosa, mentor do Inspira Barreiro, explicaram como surgiu a ideia de desenvolver o Inspira Barreiro , de que forma é que esta conversação pode ajudar a revitalizar o Barreiro e a aproximar a Escola Superior de Tecnologia da comunidade.

 

Distritonline [DO]: Como é que surgiu a ideia de desenvolver o Inspira Barreiro?

Frederico Rosa [FR]: Não é uma ideia nova, é uma ideia que já andava latente não só na minha cabeça, mas também na cabeça de outras pessoas. No entanto, pensávamos sempre em fazê-la um dia e esse dia nunca mais chegava. E, chegámos a uma altura que assumimos que não há momentos perfeitos e que não é possível reunir todas as condicionantes que garantam que a iniciativa seja um sucesso, por isso o melhor tempo é, sem dúvida, o agora. Queremos que o Inspira Barreiro seja um evento intensivo de conhecimento e concluímos que o melhor sítio para realizá-lo seria no grande centro de conhecimento do Barreiro: a Escola Superior de Tecnologia.

DO: Qual é o grande objetivo da iniciativa?

FR: Pretendemos trazer empreendedores nacionais de referência ao Barreiro que ajudem, através das suas apresentações, a desmistificar a ideia que o empreendedorismo ou é algo muito pequeno em que abrimos o nosso micro-negócio ou é algo, maioritariamente, inacessível, ideias que estão, na nossa ótica, erradas. Acima de tudo esperamos que seja um momento de partilha de experiências entre pessoas do mundo académico, pessoas que frequentaram a escola e, posteriormente, criaram os seus próprios projetos e pessoas do Barreiro e de outros concelhos. Acredito, inclusivamente, que podemos ter na conferência – como já aconteceu noutras iniciativas – duas ou três pessoas com a mesma ideia de negócio, mas que não se conhecem e que a iniciativa sirva para fazer essa ponte.

DO: Sente que o conceito de empreendedorismo tornou-se por um lado uma moda e por outro lado um chavão associado intrinsecamente ao ato de criar uma empresa?

FR: Esses são, efetivamente, dois dos mitos que queremos ajudar a derrubar. Sinceramente, gosto cada vez menos da palavra, porque transformou-se numa palavra vazia e redonda, contrariamente ao conceito original. Empreender não é, necessariamente, criar administrativamente empresas, é criar produtos e servidos de valor acrescentado.

Por exemplo, mais de 95% das empresas do Barreiro são micro e pequenas empresas que já estão no mercado há vários anos. No entanto, muitas vezes reparamos que essas empresas têm poucos fatores de competitividade e é, por isso, cada vez mais importante incorporar conhecimento nessas empresas, nomeadamente novos produtos e novos serviços. Por isso é que o Inspira Barreiro não é um ato isolado ou uma moda, é o início de uma conversação.

DO: Como é que essa conversação pode ajudar a revitalizar o Barreiro?

Não vamos conseguir revitalizar o Barreiro através desta conferência, mas acredito, sinceramente, que pode ajudar e ser um importante contributo nesse caminho. Nós temos um lema: mais do que incubar empresas, temos que incubar pessoas e dar assas para que essas pessoas possam desenvolver o seu talento.

Evidentemente, que para haver mais pessoas no Barreiro vai ter que, necessariamente, a médio e longo prazo existir mais emprego no concelho. Não há nenhum determinismo que o Barreiro tenha de perder habitantes e, principalmente, que tenha de perder jovens habitantes.

Através desta partilha de conhecimentos e de outras ações que pretendemos desenvolver, posteriormente, de forma a manter esta conversação viva ao longo do ano, a nossa principal intenção é fomentar a interação entre pequenas e médias empresas, estudantes da Escola Superior de Tecnologia do Barreiro, estudantes que apesar de estudarem noutros estabelecimentos de ensino residem no barreiro, pessoas que estão no desemprego, pessoas que têm a sua ideia de negócio apesar de ainda não a terem colocado em prática e empresas que procuram novos serviços e novos produtos, ou seja, ao fim ao cabo não é inventar a roda, mas sim ajudar a manter a roda fechada e manter todos estes quadrantes em conversação e o ponto de ligação tem de ser a Escola Superior de Tecnologia do Barreiro.

DO: Que papel poderá assumir a escola no desenvolvimento do concelho?

Pedro Ferreira [PE]: Eu acredito que a Escola terá um papel fundamental. O tema do empreendedorismo, apesar de estar fora da área de conhecimento predominante dos cursos lecionados na Escola Superior de Tecnologia, é um tema transversal a todos os cursos, por isso, quisemos, imediatamente, abraçar a iniciativa. O que o Inspira Barreiro vai trazer para a cidade não depende apenas dos organizadores, o evento vai criar sinergias, depois cabe à comunidade ser participativa e dar continuidade a esta ideia.

DO: Ao abraçarem esta iniciativa, pretendem também incutir este espírito de ação nos vossos alunos?

PF: Pretendemos, acima de tudo, chamar à atenção para a importância deste tema. Inicialmente, quando a escola foi formada, estas temáticas eram unidades curriculares de opção, mas com o tempo fomos apercebendo-nos que os alunos escolhiam frequentemente esta opção como temática e, por isso, atualmente é uma unidade de formação obrigatória.

DO: Esta é uma forma de abrir as portas da Escola Superior à comunidade barreirense?

PF: Claro que sim, o nosso objetivo é sermos, cada vez mais, um foco da comunidade do Barreiro. A aproximação à comunidade leva o seu tempo, já não estamos no nível que estávamos há dez anos atrás quando tínhamos apenas cinco anos de existência e acredito, seriamente, que daqui a 15 anos estaremos num patamar completamente diferente.

DO: Quais são as vossas expetativas para a conferência?

PF: Elevadas. Apesar de a Escola ter contribuído naquilo que conseguiu, grande parte do trabalho vem da parte do mentor Frederico Rosa.

FR: A minha grande expetativa é realizar-se, tenho a certeza que no dia 3 de dezembro vou ser uma das pessoas mais felizes do mundo. Porque não há condições perfeitas, a tempestade perfeita nunca vai surgir, o melhor dia para começar vai ser no dia 3 de dezembro. O Inspira Barreiro é um trabalho contínuo, que não se esgota nesta iniciativa e que depende do envolvimento da comunidade. Relativamente à conferência, queremos que o público interaja com os convidados, que exista dinâmica, que seja interativo, que haja espaço para perguntar “onde errou?”, “como conseguiu?”, “que obstáculos ultrapassou?”, normalmente assuntos que não são abordados nos livros, nem nas apresentações.

 

DO: Na conferência Ignite afirmou que o Barreiro é geoestratégico, porquê?

FR: Há uma expressão que todos nós usamos, adaptada à realidade em que vivemos, que o melhor do Barreiro são as pessoas. Mas, se o melhor do Barreiro são as pessoas, não podemos permitir que as pessoas tomem como um facto consumado que no final da universidade vão ter de ir para fora do Barreiro procurar um emprego. Relativamente ao facto de sermos geoestratégicos, a verdade é que estamos a 10 minutos de uma cidade que recebe 15 milhões de turistas por ano e que temos custos de contexto intra-cidade que podem ser aproveitadas, nomeadamente o facto de termos uma Escola Superior no nosso concelho, de termos um reconhecimento de capital humano ao longo da história, principalmente ao longo do século XX, e temos de capitalizar esses fatores.

DO: De que forma é que pode ser travado o decréscimo populacional?

FR: Penso que terá de ser sempre travado com a criação de emprego e criar emprego não é apenas criar novas empresas é também fortalecer as que já temos, bem como aproveitar. Por exemplo, existem muitos académicos que têm patentes que não estão transpostas para o mercado e há muitas empresas que querem patentes de forma a criarem produtos proprietários. Temos que ligar essas pessoas e é com essa ligação que vamos criar emprego. Temos é, acima de tudo, que saber promover-nos, mas isso é um percurso que envolve todos, não é um percurso de uns contra outros. Quanto mais forte for o Barreiro mais solidificados no Barreiro estarão os barreirenses.