Podemos estabelecer uma analogia entre a sociedade como a conhecemos e o mecanismo de funcionamento dum relógio. À primeira vista, não se observam as engrenagens em funcionamento, e como tal o entendimento da sua estrutura não é instintivo.

O nosso papel na sociedade varia e está interligado, como as cordas, molas, rotor e ponteiros dentro do relógio, fazendo-o funcionar normalmente. Das rodas dentadas maiores até às mais pequenas escondidas na sua sombra, a sua força motriz vem do nosso tempo, suor e sangue. Seguimos as normas de modo rotineiro. Trabalhamos para produzir algo para alguém, mesmo que o resultado do labor nunca chegue a passar por nós. Em troca dos nossos esforços, recebemos uma parcela que nos permite comer (nem todos) e entreter (uns em demasia, e outros sem esse luxo). Não nascemos iguais. Não somos iguais. O tempo é certamente diferente, variando de acordo com estratos sociais. Porém a falta de equidade e balanço no sistema mecânico causa uma pressão que se sente e acumula mas que tende a não se (querer) ver.

Os meses passam, os políticos mudam, os problemas repetem-se e as engrenagens giram. Todos nós oleamos a imperfeita máquina com o nosso silêncio. Damos robustez à corda gasta com o nosso conformismo. 

Mas terá de ser sempre assim? Tomemos consciência de que, por muito dinheiro que nos custe e do conforto que sacrifiquemos, se decidirmos parar o desempenho das nossas funções, a sociedade terá obrigatoriamente de parar para pensar. Mesmo que as nossas reivindicações não sejam seguidas à risca, terão de nos ouvir. Se não o fizerem, os ponteiros do relógio param e os sinos das igrejas cessam. Se o mundo fez uma pausa contemplativa e científica (q.b.) perante uma epidemia e várias nações repensaram perspectivas enraizadas face a uma injustiça filmada e à expansão dum movimento social; também o cidadão comum pode fazer frente ao sistema implementado. Sozinho seria impensável. Em grupos pequenos as probabilidades de se avançar são poucas. TODOS JUNTOS podemos fazer uma diferença abismal. Devemos gritar e dizer “basta”! Estas engrenagens movimentam-se através da nossa humanidade. Obriguemos o mecanismo social a mover-se não a favor, mas contra a injustiça, a desigualdade, a corrupção, e o lucro puro. Que este travão nas acções quotidianas e alavanca dos pensamentos críticos sejam o descalibrar para que os “relojoeiros”, sem nós, se perguntem: “afinal que horas são”?

Mauro Hilário