Os cerca de 240 hectares do Parque Empresarial da Quimiparque, que correspondem a 10% do território do concelho do Barreiro, viviam da, efetiva, azáfama industrial que tornava o complexo químico-industrial barreirense um dos mais importantes da Europa em meados do século XX. Contudo, os tempos mudaram, fecharam-se as fábricas, mas nasceram novos negócios, designadamente a Quarkson, uma empresa ligada ao ramo da tecnologia que promete colocar Portugal na linha da frente da construção de veículos aéreos não pilotáveis que poderão substituir, em breve, satélites de comunicação e observação.
Quem passa na rua 46 do Parque Empresarial da Quimiparque – propriedade da Baía do Tejo – e não conhece a Quarkson, jamais poderá imaginar que por de trás de um dos muitos portões azuis que compõem aquela rua está o Sky Orbiter LA25, um protótipo funcional, pioneiro em Portugal e único no mundo, que coloca a empresa barreirense, de poucos recursos, à frente dos grandes “tubarões” como o Google e o Facebook que estão muito mais atrasados na construção deste tipo de veículos.
A startup foi fundada em 2010, com outro nome, e tem evoluído ao longo do tempo. Atualmente, a equipa, 100% portuguesa, é composta por dez pessoas que trabalham no desenvolvimento de dois tipos de plataformas: aeronaves que voam, através de combustível fóssil, a baixa altitude, cerca de 3500 metros de altitude (LA) e aeronaves que operam em grande altitude, a cerca de 22km de altitude, acima da aviação comercial (HA) e trabalham a energia solar. As HA conseguem, em teoria, ficar num ponto do espaço entre cinco a 15 anos, porque não precisam de combustível, de dia recolhem a energia do sol e de noite utilizam baterias.
No entanto, as atenções centram-se, sobretudo, no Sky Orbiter LA25, um protótipo de um drone com 22 metros. De acordo com Miguel Ângelo, mentor do projeto e líder da Quarkson, em declarações exclusivas ao Distritonline, o LA25 poderá ser utilizado para diversos fins, nomeadamente na “monotorização da orla costeira, em missões de busca e salvamento, na observação da fauna e flora”, em Portugal ou em qualquer outro ponto do mundo, designadamente em locais inóspitos, como o Polo Norte e o Polo Sul, uma vez que o LA 25 poderá “ser lançado em Portugal e encontrar-se em missão durante duas semanas e regressar”.
O Sky Orbiter tem ainda a capacidade de responder a um dos grandes problemas mundiais das telecomunicações, uma vez que é capaz de levar Internet a todos os locais do mundo, inclusivamente a locais remotos onde é difícil ou demasiado caro construir infraestruturas, sendo este um dos seus principais trunfos.
“Cada Sky Orbiter tem uma cobertura total em diâmetro de cerca de 400km. Por exemplo, em Portugal são necessários cinco drones para levar Internet a todo o país, incluindo as ilhas”, explica o líder da startup barreirense, salientando que o “recomendado é existir uma situação híbrida, ou seja, comunicação com Sky Orbiter’s, satélites e torres de comunicação, de forma a garantir uma maior eficácia do sistema de comunicação”.
Em relação às multinacionais, como o Google e o Facebook, Miguel Ângelo explica que estas empresas “encontram-se, atualmente, a desenvolver um protótipo” e as “fases de testes devem começar, de acordo com o que foi divulgado, para o meio do próximo ano”. “Nós já temos o protótipo e o software desenvolvido e pronto para a próxima fase: os testes de voo”, realça o mentor do projeto, acrescentando que “o protótipo da Quarkson apresenta semelhanças, mas também diversas vantagens quando comparado com os que estão a ser desenvolvidos pelo Google e o Facebook, designadamente menores custos de desenvolvimento e facto de estar mais vocacionado para executar missões de maior proximidade”.
Contudo, para que este projeto seja uma realidade são necessários “parceiros, nacionais ou internacionais”. “Sozinhos não conseguimos concretizar o projeto”, salienta Miguel Ângelo.
Para avançarem para a próxima fase – os testes de voo – a empresa portuguesa está pendente de uma autorização do Governo português para poder abrir o portão azul e colocar o Sky Orbiter LA-25 no seu habitat natural: o céu.
De acordo com Miguel Ângelo, a Quarkson já teve várias reuniões com o Governo e já estão agendadas outras reuniões em vários Ministérios, uma vez que não existe legislação em Portugal que permita testar em pleno um drone desta envergadura.
A primeira opção para o responsável da empresa sedeada no Barreiro, devido à proximidade geográfica, é testar o LA-25 na Base Aérea do Montijo, caso não seja possível estão disponíveis para fazer os testes noutra pista nacional ou, caso a resposta do Governo seja negativa, numa pista de aviação internacional.