Vivo na Charneca de Caparica desde 1997 e nestes dezassete anos vi esta terra crescer e evoluir no entanto não pude deixar de reparar que esta vila é constantemente “esquecida” pela Câmara Municipal de Almada.

Interrogo-me se será pelo facto de não termos um executivo do Partido Comunista nos últimos anos ou se é uma questão de génese. Talvez, nós, os fregueses não sejamos cidadãos dignos de atenção.

A Charneca é palco dos maiores fluxos de tráfego nos meses de Verão, as ruas enchem-se de carros, os cafés e as esplanadas de famílias e de grupos de amigos, mas o cenário não é de todo bonito. As ruas estão num estado apocalíptico, quem por aqui vive, ou tem um contracto de facilidades com a Michelin, ou precisa de pedir um subsídio para comprar um conjunto de pneus de mês a mês.

Somos detentores de carros com suspensões sobrenaturais caso contrário, o mecânico torna-se o nosso melhor amigo, afinal de contas, nem todos possuímos jipes 4×4, até porque a ideia não é ter uma experiência do Rally Dakar cada vez que queremos ir para casa. Situação ilustrativa desta situação é a antiga estrada nacional 377, que percorre todo a freguesia.

Se pensarmos na alternativa de utilizar os transportes públicos, encontramos outro problema – as carreiras são escassas e a maioria, que passa pela Charneca, é de hora a hora. Os jovens que entram na escola às oito horas ou apanham a camioneta antes das sete ou estão destinados a comparecer apenas na segunda aula da manhã.

Lembro-me que em 2008 estudava na Escola Secundária Daniel Sampaio, na Sobreda, e tinha que estar na paragem às seis e cinquenta e ir até à zona do de Palhais (perto da Clínica do Monserrate), onde esperava por um segundo autocarro, que vinha sempre cheio, tudo isto se quisesse comparecer na aula das oito. Posto isto, falar em acessos à freguesia utilizando os transportes públicos é no mínimo, uma provocação humorística.

Deixemos de lado os acessos e o estado das ruas, falemos do ambiente.
Os habitantes que vivem junto ao canil da Aroeira têm duas hipóteses, ou sofrem de uma patologia que lhes retira o olfacto ou estão condenados a viver num ambiente imundo. O cheiro que ali se sente é nauseabundo. Os moradores já entraram em contacto com a Câmara Municipal de Almada, alguns autarcas também, a resposta é sempre favorável. A Câmara está sempre a tratar do assunto, acontece que os anos passam e está tudo na mesma, ou pior ainda.Para além disso, aquelas não são as condições ideias mínimas para se abrigarem animais domésticos. O abandono da Charneca deverá prender-se com o facto de sermos “terra de ninguém”, os moradores da Herdade da Aroeira ainda não perceberam se as suas ruas são privadas ou camarárias, eu continuo a achar que é de quem chegar primeiro.

Quando se falar nestes problemas s respostas dadas em reuniões, Assembleias de Freguesia e Assembleias Municipais começam a parecer-me meras falácias, talvez uma tentativa (mal-sucedida) de calar os cidadãos.

Em 2013, após eleições autárquicas e com a junção das freguesias, a União de Freguesias da Charneca de Caparica e Sobreda, democraticamente elegeu um executivo do PCP, caras conhecidas sobretudo na Sobreda, onde anteriormente tinham sido eleitos, recebemos uma espécie de caixa da Pandora.
Por algumas semanas pensei que, talvez agora, por ser o mesmo partido da CMA, a situação fosse melhorar mas não aconteceu. Aliás tornou-se tudo muito mais interessante, deixámos de ser a freguesia bastarda da câmara para passarmos a ser do executivo da Junta também, o filho amado é a antiga freguesia da Sobreda, a Charneca mais uma vez, fica de lado. Curiosamente se separarmos os resultados, na Charneca o PCP não venceu as eleições, será por isto? Não sei!

Outro factor interessante é que nas Assembleias de Freguesia os autarcas colocam questões sobre a Freguesia e as responsabilidades são atribuídas na maioria das vezes à Câmara por parte do executivo, os nossos eleitos nunca têm poder de decisão, é um aborrecimento. Parece aquela brincadeira do “toca e foge” que as crianças fazem nos parques infantis…esperem…quais parques infantis? Deve ser aquele junto às piscinas da Charneca que nem iluminação tem ou o da

Urbanização Sol & Mar que era suposto ser um campo de treino e nada mais é do que um conjunto de máquinas partidas.

É uma zona animada para se viver, agora até temos uma rotunda onde os autocarros quase não têm espaço para passar, isto num ponto central de transportes públicos. Outra peculiaridade desta rotunda é que se encontra a uns cinquenta metros de uns semáforos, o que faz com que o trânsito seja infernal, a estrada principal (aquela cheia de buracos já retratada acima) enche-se de carros e a fila é imensa. Os automobilistas que vêm da rua onde fica a nossa Junta de Freguesia e querem aceder á avenida no sentido da Aroeira não conseguem passar porque a rotunda está ocupada por quem vai no sentido oposto e ficou parado pelos semáforos. Conclusão, é uma zona de grande tranquilidade por volta das oito da manhã ou das sete da tarde.

Não quero continuar a descrever este cenário até porque gosto de dizer aos Lisboetas que a Charneca é um local óptimo para se viver.

Deixo só a pergunta, Quem é que tem responsabilidade sobre a nossa terra? Talvez sejamos nós, os moradores. Em 1974 era assim, era preciso uma estrada, cada um pegava numa enxada, entrando a sociedade evoluiu e recuso-me a pensar que a nossa freguesia ficou parada no tempo.

 

Rute Sousa

A Comissão Política da Concelhia

JSD Almada