A recente revisão em baixa do crescimento económico nacional mostra que as dinâmicas da economia interna e externa estão a baralhar as previsões dos economistas e dos sábios. A aposta no aumento de rendimento não se está a traduzir num aumento do poder de compra uma vez que o preço das matérias-primas começa a subir, e que o nível de incerteza acerca do futuro se mantém elevado. Um dos principais problemas da nossa sociedade tem a ver com a incerteza gerada em torno do futuro das pensões. A sustentabilidade da segurança social afecta substancialmente o consumo das famílias no presente, já que a perspectiva de uma pensão baixa ou insuficiente para pagar os gastos na terceira idade, é geradora de incerteza e potencialmente mais poupança. O problema da sustentabilidade da segurança social está a dois níveis – o demográfico e o da diferença de rendimentos entre gerações. O primeiro problema está na pirâmide etária que ao inverter, significa um envelhecimento da população. Quer isto dizer que serão menos a trabalhar para pagar as pensões de mais pensionistas. Actualmente existe um Fundo da Segurança Social que investe a maioria das duas disponibilidades em dívida pública, onde são capitalizados os excedentes, com o objectivo de garantir, que existirá um pagamento às gerações futuras. No entanto este Fundo está previsto esgotar-se em 2035, dentro de 19 anos, constituindo uma incerteza para a geração agora nos 45-50 anos. O segundo problema da Segurança Social está no diferencial de salários e descontos feito pelas gerações. A nova geração é a dos 1000 euros ou menos, enquanto que a geração que se irá reformar nos próximos anos aufere salários mais elevados. Esta diferença de rendimentos e descontos, para as mesmas taxas de imposto, pode representar uma diminuição de receitas para a segurança social, mesmo que a população activa se mantenha.
A incerteza, é o calcanhar que aquiles dos muitos estudos macroeconómicos publicados. Se o consumo está longe do seu potencial, então o investimento reagirá da mesma forma, sendo adiado por muitos empresários, que preferem aguardar momentos de maior sustentabilidade do crescimento e previsibilidade fiscal e política.
O BCE está a tentar combater este pessimismo com taxas de juro de depósito negativas e compra de activos. No entanto, não é por existir muito dinheiro que os problemas se irão resolver. É necessário quem assuma o risco, risco de perder, e este nem os Estados, nem entidades supranacionais, consumidores ou empresários parecem estar disponíveis para correr neste momento.
As taxas de juro negativas têm um duplo efeito nefasto na economia. Por um lado quem poupou uma vida inteira esperando ter um complemento de reforma através dos juros vê-se na contingência de ter de gastar parte do capital nas suas despesas diárias. Por outro lado, as taxas de juro negativas sinalizam aos empresários que estamos num período de baixo crescimento, onde é necessário ter cuidado com os sectores onde se investe, que que com uma rentabilidade expectável mais baixa do que o normal, qualquer erro pode ser fatal.
A decisão de reformas, de trabalho, da economia, sociais vêm associadas de custos políticos. A necessidade de um programa de estímulos europeu, que cônjuge uma maior integração dos Estados através de investimentos em infraestruturas nos transportes, na energia e nas telecomunicações é fundamental para manter a zona euro unida e forte. Nos próximos meses seremos novamente confrontados com desafios à escala global – o risco de saída da Grécia do euro, o referendo no Reino Unido, a fragilidade do sistema financeiro, o fraco crescimento económico, o baixo nível de investimento, a incerteza dos depositantes, e o elevado nível de endividamento.
Apenas alguns sectores escapam como sejam o hoteleiro e o da restauração, ou a venda de imobiliário em Lisboa, Porto ou no Algarve, graças ao crescimento do turismo e dos vistos gold. A pujança destes setores não é, contudo, suficiente para contribuir para um desenvolvimento sustentável de uma nação, pelo que urgem definir objectivos e estratégias de longo prazo, sem pensar em eleições ou sucessões. Este trabalho, o de voltar a conquistar a confiança dos cidadãos avizinha-se complicado, mas tem de ser feito. Só assim podemos ambicionar ter uma economia forte, sem incertezas.
Pedro Lino
CEO DIF Broker