Pedro Passos Coelho afirma não ser um cidadão perfeito. “Porreiro, pá!”; como diria outro político da nossa praça, entretanto caído em desgraça. Mas o problema não reside na imperfeição de Passos Coelho, até porque já todos suspeitávamos disso há algum tempo. O problema está no facto do atual primeiro-ministro português não ser um cidadão cumpridor! E isso, lamento, não pode ficar enclausurado na esfera da vida privada, porque falamos de alguém que ocupa o cargo político mais relevante a nível nacional. Uma coisa é saber que o primeiro-ministro toma de manhã um comprimido para controlar a tensão, informação que eu muito sinceramente dispensava, prestada pelo próprio em frente às câmaras de televisão numa qualquer feira em ambiente de pré-campanha. Outra é saber se cumpriu ou não os seus deveres e obrigações enquanto cidadão. Não podemos, no caso concreto, estabelecer realidades paralelas.

Tudo isto deriva de uma situação que não pode ser considerado inocente. Já no passado o folhetim Tecnoforma tinha ficado muito mal explicado. Adivinha-se uma sequela. E eis que ela surge, consolidando a ideia de que havia pertinência nas dúvidas então levantadas. Estas estranhas malhas de que se tecem entre interesses económicos de iniciativa privada, mas que vivem numa eterna subsidio-dependência, e as elites políticas, não podem dar bom resultado. Já era mau os ordenados, que depois eram despesas de representação, que não deveriam ser acumulados devido ao regime de exclusividade, que entretanto foi requerido, bem como o respectivo subsídio de reintegração… E por aí fora. O não pagamento da segurança social ou os atrasos no pagamento das obrigações fiscais são verdadeiramente inqualificáveis.

A atitude lamurienta e piegas tomada por Passos Coelho após o conhecimento destas notícias é de um desespero confrangedor. A tentativa de apelar ao “lado mole” do eleitorado é ridícula e totalmente despropositada. Até porque este governo colocou-nos a todos “mais tesos”. Estamos todos fartos dos lapsos governativos e de pedidos de desculpa.

Alguns iluminados defendem que não se pode pedir mais a uma figura política do que a um cidadão comum. Errado. A um primeiro-ministro não se exige nada por aí além. Apenas que seja impoluto. E isso não é pedir demais! Porque um primeiro-ministro traz na sua bagagem a legitimidade de milhares de votos, de pessoas que lhe transmitiram as suas esperança e anseios, atribuindo-lhe a governação de um país. Bem sabemos que o primeiro-ministro não é eleito, antes indigitado pelo presidente da república, que normalmente nomeia o partido com mais votos para formar Governo. Mas na prática, os eleitores sentem que seu voto constitui uma legitimação do cargo de primeiro-ministro. Não é pedir demais que o primeiro-ministro tenha uma relação honesta com os eleitores e cumpridora com o Estado. Pedir demais é aumentar brutalmente as contribuições e impostos e nesse mesmo ano fazer vista grossa a uma dívida para com a Segurança Social…

A única saída digna para todo este folhetim seria a demissão. Clara e irrevogável. Mas a dignidade significa muito pouco nos tempos que correm. O seu “rating” anda pelas ruas da amargura…

Miguel Dias

Membro do LIVRE e Promotor da candidatura cidadã – Tempo de Avançar

9 de Março de 2015