Julho foi o primeiro mês de total desconfinamento desde o início da pandemia. Depois de um período de maior aumento de casos durante maio, junho foi relativamente mais calmo nos concelhos da margem sul, tendo as atenções na área metropolitana recaído sobre Amadora, Odivelas e Loures.

Durante este mês, assistimos a um aumento de 820 casos na margem sul, o que corresponde a um aumento de 34,68% que compara com 18,47% a nível nacional no mesmo período. Individualizando por concelho, Almada, Seixal e Moita destacam-se pela negativa, registando um maior aumento de casos na ordem dos 39% durante o mês, embora com tendência decrescente na última semana. Alcochete mantém-se como o concelho com menor número de casos, apenas 34 à data da última atualização.

Podemos dividir o impacto da pandemia em direto e indireto. Na dimensão direta, temos a parte mais mediática, com os novos infetados, internamentos e óbitos. Na dimensão indireta, surge o invisível impacto na produção hospitalar e cuidados preventivos. Na margem sul, assistimos a uma quebra de quase cinco mil vacinas administradas, menos 60 mil consultas e menos seis mil cirurgias efetuadas.

São dados bastante inquietantes, que nos incutem a procurar soluções e respostas. Precisamos de um urgente reforço de recursos humanos nas equipas de saúde pública, de forma a controlar a evolução pandémica, assim como nos contextos hospitalares e de saúde primários, para recuperar a atividade programada suspensa.

É necessário criar urgentemente sinergias que levem à construção do Hospital Seixal. A região precisa há largos anos de uma oferta que garanta a equidade no acesso aos cuidados de saúde. De forma bem planeada e articulada com a restante oferta na região, o hospital do Seixal poderia garantir o acesso à saúde e a recuperação da atividade programada de uma população carenciada e bastante atingida pela pandemia.

A articulação entre a proteção civil e as autoridades de saúde deve ser constante e ter em conta a melhor evidência disponível e a sua aplicabilidade prática. Mais vale ter poucas medidas tomadas, mas que sejam efetivas e compreendidas pela população, que tomar várias ações avulso que não saem do papel.

Instituir hospitais dedicados a Covid, de forma a libertar capacidade instalada para recuperar a atividade programada é uma ideia necessária e urgente. Os profissionais de saúde, sujeitos a maiores cargas de trabalho e com férias suspensas, têm agora pela frente uma nova e difícil tarefa. É de elementar justiça que algumas das suas reivindicações sejam revisitadas, como a revisão das carreiras ou a atribuição do estatuto de penosidade e risco.

Para manter os números com tendência decrescente, precisamos da colaboração de todos, seguindo três simples regras: lavagem frequente das mãos, usar máscara em ambientes fechados ou com elevada densidade populacional e manter a necessária distância social.

Autor: Mário André Macedo, Enfermeiro