Chega no próximo dia 8 de Julho às livrarias portuguesas o novo livro de Bagão Félix em que reflete sobre o mundo em que vivemos e o futuro da humanidade.
Entre circunstâncias e singularidades do nosso viver, António Bagão Félix aborda neste que é o seu quinto livro, alguns dos temas fundamentais da sociedade atual, tais como a preocupação por uma economia mais humanizada, as imperativas questões de natureza ética, o futuro da instituição da família, a apreciação da velhice e o desafio da demografia.
Em Um dia haverá, dedicado às suas netas, Bagão Félix procura o porquê e o para quê das coisas infinitas do mundo e alerta para que não confundamos o ser-se feliz com o estar-se feliz. Trata-se de um livro em que o autor partilha o seu amor pelas palavras e pela natureza e o fascínio por uma árvore no meio de todas as outras – a Ginkgo biloba -carinhosamente chamada «árvore do avô e do neto», solidária expressão geracional de crescimento, maturidade, longevidade e partilha.
“Um dia haverá em que as minhas netas irão contar aos seus filhos e netos que jamais devemos perder a liberdade de chorar e o encanto de sonhar.
Um dia haverá em que as minhas netas irão contar aos seus filhos e netos que só amando a natureza nos tornamos dignos da nossa condição humana.
Um dia haverá em que as minhas netas irão contar aos seus filhos e netos que a mudança no mundo, para ser renovadora e esperançosa, tem de unir a lucidez da velhice com o sonho de criança.”
Na sua visão de católico, o autor aborda ainda questões como a fé, a espiritualidade e o travejamento doutrinário e social da Igreja.
Num mundo em mudança acentuada, o que ontem era importante, hoje passou a ser dispensável. O que ontem era urgente, diluiu-se na sua quase sempre falsa pressa. É preciso pensar para além do mero e descartável atualismo e despertar para valores referenciais da vida, defende Bagão Félix.
Ficha Técnica:
Um dia haverá, de António Bagão Félix
312 Págs.
Editora: Clube Do Autor

INTRÓITO
Um dia haverá é uma seriação e aggiornamento de um conjunto de reflexões que fui fazendo ao longo dos últimos anos. Neste livro, ainda que os pontos tratados se entrecruzem, ao menos implicitamente, entendi sistematizá-los em cinco capítulos. Começo pela minha observação de circunstâncias e singularidades do nosso viver em sociedade, para, de seguida, abordar temas que me têm vindo a despertar acrescida atenção, como são os ligados a uma economia mais humanizada, às questões de natureza ética, à instituição da família, à consideração da velhice e ao desafio da demografia. Na minha visão de católico, o último capítulo incide sobre a fé, a espiritualidade e o travejamento doutrinário e social da Igreja.
Afastei assuntos ou factos que, pela natureza mais efémera ou descartável, se esvanecem rapidamente na febre do actualismo e perdem valor referencial. Em todo o livro, procurei, sobriamente, ter presente a ideia de Aleksandr Soljenítsin, pela qual “a linha que separa o bem do mal, cruza o coração de cada ser humano”. Esta linha imaginária e diferenciada não obedece, porém, a regras próprias das ciências exactas ou de qualquer “econometria moral”. Antes reflecte uma busca incessante dentro de cada um, com o acervo que a história da humanidade nos disponibiliza e o maior ou menor discernimento ético que saibamos ter.
Em Um dia haverá está parte do que sou, da desilusão do que não consegui ser e da força interior do que, ainda, posso ser. Escrito neste tempo, tem a idade completa do meu viver. Não sei se mais afastado do mundo, se mais prisioneiro de mim.
Não se trata de um livro de certezas, mas de um livro de algumas das minhas certezas. Não se trata de dar respostas, mas sobretudo de, através das minhas respostas, compreender as minhas interrogações. Não se trata de convencer ninguém, mas de dar o meu testemunho das convicções que fui decantando ao longo dos anos de vida, e de muitos embates e cogitações. Não se trata de almejar unanimidade, mas de me ver enriquecido entre a concordância e a divergência.
Seja-me permitida uma metáfora botanizada para expressar como fui delineando este herbário de palavras. Peguei numas sementes soltas de pensamento e lancei-as na terra húmida e calorosa das palavras. Muitas lá jazeram, sem me oferecerem a energia e a luz da sua fotossíntese. Outras surgiram na madrugada do meu sono acordado. Esperei, por vezes horas, por vezes dias, até mesmo anos, até que ideia semeada e palavras adubadas se fundissem num pequeno caule de letras, ainda herbáceo, e, depois, em generosos ramos entrelaçados de frases. Fertilizei os nascituros com o meu dedicado silêncio reflexivo, até que brotassem proposições em forma de flores. Algumas, conservei-as na estufa do meu pensar, à espera de vez, ou no desconsolo de por lá ficarem até ao fim dos meus dias. Outras, foram polinizadas pelas borboletas de verbos que imaginei, pelo vento de conjunções que me desafiaram, pelas formigas de adjectivos que me abraçaram e pelas exemplares abelhas de pronomes que me fortaleceram. E, assim, cheguei ao pomar de frutos nascidos, que saboreei no prazer de os escrever, como também de frutos espontâneos que me iluminaram na desinspiração. Não só de frutos se fizeram as muitas linhas do livro, porque não esqueço a graciosidade de giestas, cardos, estevas, alfazemas e rosmaninhos, nascidos no húmus do humor das palavras que frutificaram (e como eu preciso do humor!). Assim concluí o livro, com um genuíno sentimento de gratidão para com as palavras que se fizeram nascidas em mim, embora com a angústia partilhada de não saber as que resistirão às estações do meu tempo. Neste itinerário de vida de palavras juntas, tive sempre presente uma frase que li de Shakespeare, mas que aqui adapto à minha condição de escrevedor: “o meu desejo é um jardim, a minha vontade o seu jardineiro”.
Um dia haverá foi quase totalmente escrito antes de nos vermos confrontados com a pandemia da COVID-19. Perante as suas consequências a todos os níveis da nossa vida, ainda fui a tempo de, em jeito de post scriptum, juntar algumas observações e interrogações que se nos colocam agora tão mais cruamente. Peço a indulgência ao leitor para as considerar como algumas notas breves, ainda que ligadas aos vários capítulos do livro, seja quanto à sua abordagem geracional, ao contexto familiar e institucional ou, ainda, aos imperativos de uma nova normalidade económica.
António Bagão Félix
Alto Alentejo, em Maio de 2020
Cláudio Anaia
www.relances.blogspot.pt
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