Arrábida 
Chegado o mês de Junho, viram-se os setubalenses com as suas rotinas alteradas e todos os que amam a Arrábida francamente limitados no acesso às praias e circulação na zona costeira. Se dantes uma família inteira podia ir à praia com 3 ou 4€ de combustível, hoje tem de contar, pelo menos, com outro tanto de estacionamento ou com bilhetes de autocarro que rondam os 4€ por pessoa. Também o típico passeio de carro pela beira mar que culminava em Azeitão a comer uma torta, está agora vedado com cancelas e guardas nacionais.

 

É óbvio para todos nós que algo tinha de ser feito para ordenar aquela estrada. Mas também é óbvio que nada foi feito. Colocou-se uma cancela até Setembro e, onde não passam carros não há problemas de estacionamento. Quando a cancela abrir, ainda sobrarão muitos dias de praia e de calor (quiçá Outubro inteiro) e não terá havido qualquer intervenção na estrada e o caos será exatamente igual ou pior.

 

Nem o inalienável direito de circulação numa estrada nacional foi assegurado. Não fizeram o que devia ter sido feito: o levantamento das zonas em que se podia ou não estacionar em segurança e a criação de medidas que assegurassem que se cumpriam os lugares delimitados (recorrendo a pinos, blocos de betão, câmaras de vigilância, etc). Nem sequer se limitaram sequer a proibir o estacionamento em todo o troço (uma medida já de si excessiva e desnecessária). Não. A decisão da Câmara Municipal de Setúbal foi a de proibir toda e qualquer circulação automóvel naquela via entre as 7h00 e as 20h00 (apesar de ninguém ter nunca visto problemas naquele troço às 7h00).

O argumento da falta de meios humanos para garantir o cumprimento do código da estrada cai imediatamente por terra a partir do momento em que estão 3 oficiais da GNR em permanência a guardar cancelas. Esses mesmos efetivos, a fiscalizar o estacionamento, controlavam sobejamente um troço definido com pilaretes e reforçado com câmaras de vigilância. Na verdade, com as condições adequadas bastava um GNR e um patrulheiro para controlar o troço.

 

Também o estacionamento foi tratado com uma perspectiva questionável. Face a um problema de falta de estacionamento o natural seria o estudo e a planificação de novas zonas de estacionamento. Mas também não foi essa a escolha da Câmara Municipal de Setúbal. A escolha foi cobrar o pouco estacionamento existente para fomentar a rotatividade. Numa praia. Num sitio a que vamos para estar relaxada e descontraidamente sem preocupações com o tempo.

O argumento de que a construção de mais estacionamento ia prejudicar a serra é simplesmente ridículo, em pleno século XXI e com uma cimenteira a escavar diariamente a serra. Não se pode fazer coincidir a zona escavada com os novos estacionamentos? Não se podem contruir eco-silos de estacionamento que aumentassem, inclusivamente, a mancha verde da serra, comparativamente ao que lá temos agora?

 

Não bastando tudo isto, todas estas opções foram tomadas forçando os utentes a recorrer aos transportes públicos duma empresa conhecida por prestar um mau serviço, caro, insuficiente e pouco fiável, que já no ano passado tinha deixado passageiros na praia sem transporte.

 

E, não bastando ainda, após a implementação das medidas e face ao desespero dos concessionários – que vêem as praias desertas e os negócios a afundar – somos moralmente agredidos por uma equipa que insiste em que a medida está a correr muito bem e que as praias até têm mais gente do que em anos anteriores.

 

Pessoalmente não sei como é possível uma equipa chegar a um tal ponto de descaso e desrespeito pelos munícipes. Só espero que tudo isto não passe de um pesadelo e que possamos acordar em breve com soluções reais para o caos.

Vanessa Alexandra Sequeira

Praia na Praça