A caminho da 13.ª Jornada da 1.ª Distrital da Associação de Futebol de Setúbal a palavra a destacar é, definitivamente, equilíbrio. Na minha opinião, o campeonato está – como era espectável – muito nivelado e, felizmente, nivelado por cima, com várias equipas a lutar para cortar a meta em primeiro lugar.
É engraçado que das cinco equipas que estão nos lugares cimeiros, quatro delas foram as que vaticinei – no início da época – que iriam lutar até ao sprint final pelo pódio. Contudo, tenho que destacar o Grandolense, que está a fazer um excelente campeonato e está por mérito próprio no primeiro lugar.
Do quinto-lugar ocupado, atualmente, pelo União de Santiago – que assumiu que iria lutar pela subida de divisão – ao 11º, o União Banheirense, estão apenas seis pontos, o que demonstra que o campeonato está muito competitivo e é uma grande montra não só para os jogadores, como também para os técnicos.
Lamento a pouca assistência nos jogos desta competição, acredito que tal deve-se, em grande parte, ao preço dos bilhetes, provavelmente demasiado alto para a maioria das famílias. No entanto, os clubes estão neste caso entre a espada e a parede, dado que a bilheteira ainda é uma das poucas fontes de rendimento e tendo conta os encargos da realização de um jogo sénior, se não cobrarem bilhetes não sobra sequer verbas para conseguirem dar uma sandes e um sumo no final do jogo aos atletas.
Em relação à segunda distrital, o Vasco da Gama está em primeiro seguido, de muito perto, pelos Pescadores, tal como na 1.ª Distrital, também neste caso a luta pelo título promete ser até às últimas jornadas. Mais atrás, mas sem perder de vista os da frente, está o ADQC e o Paio Pires, acredito que com a redução de 50% dos pontos, na segunda-fase, ambos os clubes vão intrometer-se, ainda mais, na luta pelo primeiro lugar.
Ainda sobre a 2ª Distrital, não posso passar sem referir uma equipa que pessoalmente me diz muito: o Grupo Desportivo de Lagameças que conseguiu em Alcácer do Sal, depois de largos meses, voltar a ter o prazer de vencer uma partida que foi, e bem, dedicada ao meu grande amigo Francisco Mestre. Por isso, cabe-me parabenizar o atual treinador, o meu amigo Nuno Passos, e toda a estrutura deste clube humilde e de gente boa.
Relativamente à Taça da Associação Futebol de Setúbal, disputou-se, na quadra natalícia, os quartos-de-final. Destaque para o tomba-gingantes Vasco da Gama de Sines que apesar de militar na 2.ª Distrital derrubou o Sesimbra, nas grandes penalidades, e conseguiu, consequentemente, um lugar nas meias-finais.
Sem surpresas, o Amora venceu o Santo André e irá também disputar as meias-finais. O Almada conseguiu repetir a façanha do ano passado e apurou-se para as meias-finais depois de ter eliminado o Grandolense. E o Alcochetense, num grande jogo de futebol e depois de 120 minutos de emoção, eliminou, nas grandes penalidades, o Banheirense que tinha ido à final da Taça A.F.S. na época passada.
O futebol é, sem dúvida, uma das modalidades desportivas que tem mais adeptos e que consegue convergir mais etnias, religiões e credos em todo o mundo e, por norma, quem entra nesta modalidade é sempre bem recebido. Contudo, espera-se que os recém-chegados à modalidade respeitem os que já estão na modalidade há vários anos e, sobretudo, as instituições desportivas, uma vez que são os clubes que suportam o futebol.
No entanto, há algum tempo vejo que muitas pessoas estão entrar no futebol, não para servirem a modalidade, mas sim para servirem-se dela. Digo isto, porque cada vez mais surgem pessoas no futebol que se autoapelidam de “empresários”, mas que na verdade não passam de angariadores e de vendedores de sonhos, uma vez que passando por cima dos clubes, contatam os jogadores e prometem-lhes um mundo de fantasia, designadamente carreiras brilhantes, contas bancárias recheadas e que dentro de um ano estão a jogar na Liga de Honra, daqui a dois na Primeira Liga e que, num instante, estarão com as quinas ao peito.
Nada mais triste, porque o que maioritariamente acontece, salvo casos raros, é que os jogadores iludidos pelas promessas viram as costas aos clubes que lhes deram a mão e que, muitas vezes, os formaram, para irem, muitas vezes, viver a mais de 200km de casa, por vezes a dormir num colchão – as camas são consideradas um luxo -, sem privacidade e, ainda por cima, mal nutridos. E, por 150 euros abandonam a escola, o emprego, as famílias e daqui a uns anos muitos arrependem-se de ter largado tudo em busca de um sonho que os tornou profissionais do bolso vazio. E, nessa altura, os que hoje prometem-lhes, se for preciso, a lua, passam por eles na rua e fingem que não os conhecem.
Confesso que ainda não entendi, ainda em relação aos supostos “empresários” quais são na verdade os direitos dos jogadores. Uma vez que os jogadores são levados a assinar documentos, que tornam os empresários responsáveis de carreira, no entanto são levados para um clube, mas se esse clube não cumprir com as obrigações, o empresário habitualmente desvia-se do assunto, o mesmo acontece quando ficam sem clube, durante o período em que não recebem qualquer salário quem é que os sustenta?! Não devia ser o suposto empresário?! Não devia ser o suposto empresário a custear as cartas de desvinculação quando os jogadores não estão felizes nos clubes em que foram inscritos?! Não devia ser o empresário a custear os tratamentos que impedem o jogador de exercer a sua profissão?!
Sinceramente, cada vez estou mais convencido que os jogadores só têm deveres e a outra parte só tem lucros (quando os há). O meu conselho é que os jogadores tenham muito cuidado com esses vendedores de sonho, no entanto, como em tudo na vida, a carapuça não serve a todos.
Sobre o futebol nacional, praticamente sem darmos por isso já passou um ano sobre o desaparecimento de Eusébio e quase um ano sobre Coluna, dois monstros sagrados do futebol português. É a eles e mais alguns que devo, inteiramente, a minha paixão por futebol, que foi alimentada pela rádio e pela forma como o jogo era relatado naquele tempo, uma vez que as transmissões televisivas naquele tempo eram raras.
Como curiosidade, guardo na memória a primeira equipa do Benfica que ouvi jogar: Costa Pereira, Cavém, Raul, Jacinto, Cruz, Coluna, Jaime Graça, José Augusto, Torres, Eusébio e Simões.
Relativamente a estrelas planetárias, tivemos esta semana uma notícia que encheu provavelmente todos os portugueses de orgulho: o nosso Ronaldo ganhou, pela terceira vez, a Bola de Ouro. Acredito que este prémio, apesar de ser individual, é também um prémio para o futebol português e, como agora é moda dizermos que somos isto ou aquilo, eu digo que se fossemos todos Ronaldo Portugal seria, certamente, muito mais competitivo e, consequentemente, melhor.
Bom ano a todos.
Amândio Jesus
Diretor Desportivo