A educação tem o papel central no estabelecimento da igualdade de oportunidades dos alunos, assumindo-se como o melhor elevador social que conhecemos. É através da educação que qualquer criança, de qualquer estrato social ou económico, de qualquer região do país, dispõe das mesmas possibilidades de ascensão social que os seus pares.  

Se há coisa que a crise pandémica nos trouxe foi a excecionalidade. Podemos afirmar com razão, que nenhum organismo governamental estava verdadeiramente preparado para o desafio que ainda nos assola, porém esperamos desses organismos mais que uma navegação à vista, mais que uma intervenção de “tapa buracos”. Os jovens não podem esperar.

Seguindo o mote da preocupação com os jovens e o seu acesso ao ensino à distância, a Juventude Popular Distrital de Setúbal através das suas concelhias, elaborou um conjunto de questões relacionadas com o acesso aos conteúdos digitais, das aulas à distância. Os executivos foram questionados se tinham conhecimento do número de alunos que não tem um computador ou dispositivo semelhante, e qual a estratégia a adoptar para auxiliar esses mesmos alunos. A preocupação foi ignorada, e o silêncio daí resultante não poderia ser mais castrador da voz que estes alunos deixam de ter, do conteúdo que deixam aprender, do caminho que são impossibilitados de percorrer. 

Que os partidos que compõem a generalidade dos executivos camarários de todo o distrito de Setúbal se consideram donos e senhores dos direitos liberdades e garantias, isso não é novidade. Porém, esta propriedade de que se consideram detentores, serve apenas para propaganda e compor discursos muito arranjadinhos em efemérides como aquela que celebrámos no passado dia 25 de abril.

No objetivo de se considerarem proprietários desses conceitos, esqueceram-se daqueles que hoje, mais que nunca, esperam por esses direitos. Esperam por um computador, esperam por uma ligação de internet, esperam que não seja pela sua condição económica que sejam deixados para trás. Aqueles que esperam ir à escola, mesmo que isso só signifique ligar um computador. Que esperam ver os seus colegas e amigos, ainda que à distância. Esperam ser reconhecidos como iguais, ainda que os que se consideram donos dos direitos liberdades e garantias não lhes confiram essa igualdade de oportunidades.

Não se pedem ofertas indiscriminadas de material informático, não se pede despesismo. Pede-se solidariedade com aqueles que sendo privados deste material ficam em situação de desigualdade. 

Pede-se bom senso, pedem-se soluções. 


José Coutinho

Presidente da Juventude Popular Distrital de Setúbal