Na passada 3.ª feira, o Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Telecomunicações e Audiovisual (SINTTAV) convocou uma greve para os trabalhadores de call-center da PT. Esta ação, que decorreu entre 10h e as 11h da manhã, tinha como objetivo o combate aos despedimentos indignos; contestar os objetivos inatingíveis que lhes são impostos pelas chefias; o excesso de horas extra; e até a forma como são tratados pelos supervisores. O Estapafúrdios do Quotidiano esteve lá e descobriu algo deveras preocupante. Ora veja só…

 

Queixas dos operadores de call-center:

 

1.º Queremos mais higiene.

Maria Belarmina, operadora de call-center há mais de 20 anos, disse-nos o seguinte: «O que se passa aqui passa-se em todo o lado. Isto é uma pouca-vergonha. Isto é uma nojice! Ninguém nos troca as esponjas dos auscultadores. Ninguém nos dá outro microfone. Ninguém nos arranja cadeiras novas… Fiquem vocês sabendo que há mais de 20 anos que eu me sento nesta mesma cadeira. Por várias vezes soltei uma ou duas pinguinhas (derivado à incontinência urinária que adquiri por trabalhar aqui) enquanto estava aqui sentada. Houve dois ou três meses que se me apareceu o período sem que eu estivesse à espera. Rebentaram-se-me as águas nesta cadeira. O meu mais novo nasceu aqui também! Olhem… Olhem, para esta cadeira e digam-me se isto está capaz?! Este assento tem mais nódoas que uma toalha de mesa depois do jantar de Natal. Já para não falar da outra… A tipa que faz o turno da noite. É uma badalhoca, é o que é. Ainda no outro dia cheguei aqui e o meu microfone sabia a… a… a batom do cieiro. BADALHOCAAA!»

(Ó Dona Maria Belarmina, depois de tudo isto que nos contou quer-nos cá parecer que a badalhoca não é bem a colega do turno da noite…)

 

2.º Basta de horas extra!

Assim que saímos de perto da D. Maria Belarmina encontrámos a sua colega, Geslaine Tosta, a dormir em cima do teclado. Assim que nos aproximámos dela, acordou e começou logo a insultar-nos… «SEUS CHULOS! BANDIDOS! EXPLORADORES! Vocês querem é dar conta de nós… Onde é que isto já se viu?! Dez… Dez horas a trabalhar! DEZ, ouviram bem… DEZ! Uma pessoa entra aqui às 9h da manhã, sai às 19h e mal tem tempo para se coçar… Vocês pensam que 2h de almoço, 30m de manhã e 30m à tarde de break, chegam para alguma coisa?! Julgam? E quando é que vou ao Facebook?! Pois… Isso não vos importa, não é?! Querem é que eu gaste os meus megas de Internet no telefone, não é? Pois… Se quero postar fotos, tenho de postar do meu telemóvel. Se quero ir à minha quinta, tem de ser com o meu telemóvel também… Até para falar com a minha tia da Suíça tem de ser no telemóvel. É UMA POUCA VERGONHA, É O QUE É! Ainda no outro dia vim quase sem bateria para o trabalho e passado 3h, de estar no Facebook, “PUFF”, foi-se. Depois tive que passar quase 4h a atender clientes… Ai, ai.»

(D. Geslaine, tem toda a razão. Achamos deveras aborrecido os seus chefes não permitirem o uso dos computadores para ir ao Facebook. Aliás, nós somos da opinião que, para além de vos deixarem ir à Internet, até vos deviam levar umas sandes ou umas tostas para que vocês não tivessem de sair do Facebook durante os break’s!)

 

3.º Chega de despedimentos sem justa causa!

Javandi Shuamba, um outro funcionário, queixou-se que tinha sido despedido sem qualquer motivo aparente. O Estapafúrdios do Quotidiano não podia deixar passar impune tamanha injustiça, por isso decidiu ir falar com ele para saber quais os motivos da sua demissão…
«Despidiram Shuamba, pá! Shuamba nunca, nunca, nunca fez nada de mal. Aliás, Shuamba nunca fez nada! Shuamba vê trefoni a tocar, a tocar, a tocar e ele num lhe toca porque têm meduuu. Trefoni é coisa do Demu. Ele inviou aquele bicho mau para afugentar os espíritos bons. Shuamba sabi, pois lá na tribo deli, em Uganda, o Chéfi da Tribu tinha um aparelho desses. Caiu dos céus. Chéfi disse que era maldição. Por isso é que Shuamba não atendi trefoni. Agora, dispidirem Shuamba só por causa disso não se faz…»

(Posto isto e, perante tais argumentos, a única coisa que podemos mesmo dizer é: QUÉÉÉÉÉ?!?!)

 

Texto escrito por: Gil Oliveira & Ricardo Espada

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