Os debates presidenciais começaram no passado dia 2 de janeiro, com um Marcelo Rebelo de Sousa versus Marisa Matias e um João Ferreira versus André Ventura. O primeiro foi uma conversa, o segundo um encontro de pinschers em noite de trovoada. Se aqueles debates servissem de trailer para os que viriam a seguir, seria um péssimo trailer porque revelava o filme todo.
Seria o filme de umas eleições presidenciais cada vez mais desprestigiadas, com candidatos que ou não têm qualidade ou nunca tiveram como objetivo real a candidatura à presidência da República. Os debates são apenas o clímax de todo o enredo, onde a inutilidade se torna ensurdecedora e a falsa intenção de esclarecer o eleitorado uma anedota.
Os canais de televisão predispuseram-se a despender 30 minutos, 15 para cada candidato, do seu precioso tempo para ouvirmos duas pessoas que se candidatam ao mais alto cargo da nação, debaterem as suas ideias. Se o Manuel Luís Goucha, a Júlia Pinheiro ou o Herman José convidassem os candidatos para os seus programas, estes teriam mais tempo para expor as suas ideias que nos debates.
Não sendo suficiente a fraca qualidade dos adversários de Marcelo, a própria sabotagem que estes fazem à eleição usando-a apenas para propagandear os programas dos respetivos partidos, temos a comunicação social a preferir cada vez mais a abordagem à política como um reality show. Após cada debate aparecem as votações dos comentadores, com bolinhas, estrelinhas ou bonequinhos, escolhendo o seu vencedor. Em 30 minutos, conseguem decidir com toda a exatidão quem foi o melhor.
Temo que daqui a 5 anos, os debates presidenciais sejam feitos num registo “Política Got Talent”, com expulsões ao domingo ou numa plataforma de streaming “Políticaflix” onde se pode fazer binge watching a todos os debates.
Brincadeiras à parte, esta erosão da importância do conteúdo em política só favorece a demagogia, as soluções fáceis, mas erradas, pois essas são excelentes para despejar em 15 minutos sem consequências.
Os debates entre políticos, em período eleitoral, caminham para a total irrelevância, sendo que só servem para entretenimento numa noite aborrecida, ficando os espectadores a ouvir candidatos que estão a falar apenas para os seus apoiantes. Basta fazer uma pequena expedição pelas redes sociais para notar que a seguir aos debates, os seguidores do candidato A ficaram felicíssimos porque ele triturou o candidato B, e os apoiantes do B em festa porque o seu candidato esmagou o A.
Ninguém convenceu ninguém, ninguém conquistou ninguém. Todos ganham e todos perdem ao mesmo tempo. Se for muito notório que um determinado candidato não se destacou minimamente, o seu partido dirá sempre, tal e qual um treinador de futebol, “independentemente do resultado fomos fiéis a nós próprios e fizemos um bom jogo”.
Marcelo Rebelo de Sousa anda novamente a cumprir calendário, tal como há cinco anos atrás, acompanhado por uma mão cheia de candidatos que partiram para a disputa eleitoral, uns para fazer fretes ao partido, outros para recolherem mais notoriedade. Todos eles com uma postura de Miss Universo, prometendo coisas que nada têm a ver com a posição a que se estão a candidatar, embrulhadas em frases ocas e que muitas vezes demonstram que nem sabem muito bem o que faz um Presidente da República, acabando por gerar desinformação nos portugueses que assistem.
João Conde