As cidades sonham com o Ensino Superior. Competem entre si pela fixação de polos universitários ou politécnicos. Confrontam-se com o intuito de oferecer à população jovem mais uma razão para ficar. Digladiam-se pela possibilidade de crescimento que advém da fixação de uma entidade de Ensino Superior dentro dos limites do seu poder. Todas, menos o Barreiro.

Não, não estou a dizer que o Barreiro não quer Ensino Superior no Concelho. Estou a dizer, isso sim, que a Câmara Municipal nada faz para que este se mantenha cá, para que cresça e para que se torne numa verdadeira opção para os jovens que terminam o Ensino Secundário.

A Escola Superior de Tecnologia do Barreiro, um polo do Instituto Politécnico de Setúbal na Quinta dos Fidalguinhos, representa tudo o que de errado se pode fazer ao nível autárquico para a fixação de jovens e para o aproveitamento de infraestruturas públicas para a promoção da cidade.

Dispondo de condições de excelência, ao nível das melhores universidades e politécnicos do país, a EST-Barreiro sofre de um problema de desertificação que parece dar razão às mal-amadas palavras de um ex-Ministro.

O Estabelecimento de Ensino está dotado de salas, anfiteatros e auditórios de fazer inveja a um Instituto Superior Técnico. O Estabelecimento de Ensino está dotado de laboratórios e materiais de fazer tremer um Instituto Superior de Engenharia de Lisboa. O Estabelecimento de Ensino está dotado de um corpo docente com uma qualidade enorme e resultados demonstrados nos seus currículos. Mas então o que é que o Estabelecimento de Ensino não tem? Estudantes.

A EST-Barreiro faz lembrar aqueles westerns mal-amanhados em que se ouve o som do vento e se vislumbra molhos de plantas rolantes a percorrerem toda a imagem. Vazio é o adjetivo correto.

O que poderia ser um núcleo aglutinador de estudantes, um fixador natural de jovens na cidade, um polo de difusão científica e académica, não é mais que um edifício onde direções, corpos docentes e não docentes e estudantes batalham todos os dias pelo não encerramento de cursos e pela melhoria da imagem do Politécnico.

Todos parecem remar para o mesmo lado. Todos menos a Câmara Municipal do Barreiro, que assobia para o lado refugiando-se na lei, que diz que o Ensino Superior não é da sua competência.

E a lei tem razão, não cabe à Câmara Municipal do Barreiro construir, preservar e desenvolver a EST-Barreiro. Ma a Câmara não tem razão. Porque cabe-lhe, enquanto garante da qualidade do serviço público, promover a EST-Barreiro.

Cabe à Câmara Municipal do Barreiro estabelecer parcerias com a instituição para a realização de eventos. Cabe à Câmara Municipal do Barreiro estabelecer parcerias com a instituição que resultem na atribuição de bolsas de estudo (pelo mérito e condição social) a estudantes das cinco escolas secundárias do concelho, para que estes se fixem na cidade enquanto estudam no Ensino Superior. Cabe à Câmara Municipal do Barreiro evitar, como é conhecimento geral, que os docentes do ensino secundário desencorajem os seus estudantes a candidatar-se à EST-Barreiro. Cabe à Câmara Municipal, em colaboração com a direção do estabelecimento de ensino, promover feiras de emprego e conduzir as turmas finalistas das escolas secundárias a dias abertos na EST-Barreiro.

No fim de contas cabe à Câmara Municipal do Barreiro suprir as falhas que o mercado do Ensino Superior tem e que promovem quase a “alergia” ao ensino politécnico e particularmente à Escola Superior de Tecnologia da nossa cidade.

Porque o bom Poder Local é aquele que se move para além das suas competências com o intuito de melhorar a condição de vida das suas populações. E o refúgio na legislação, enquanto desculpa para a inação junto de um polo que pode muito bem vir a dinamizar o Barreiro como nenhuma outra realidade, é mera incompetência política e alienação da realidade dos milhares de jovens barreirenses. É, em boa verdade, oferecer-lhes um livre trânsito para a outra margem ou concelhos limítrofes, dizendo-lhes que não são bem vindos na terra que os viu nascer.

 

Tiago Sousa Santos