Depois de terminada a Fase de Grupos da Taça A.F.S. restam oito equipas e é já na próxima segunda-feira que o sorteio vai ditar os encontros do “mata-mata”, como diria o antigo selecionador nacional, Luiz Felipe Scolari.

A Fase de Grupos serviu, na minha opinião, de aperitivo ao campeonato, foi uma espécie de Lua-de-mel entre dirigentes, técnicos e jogadores. Depois da fase de grupos e a caminho da terceira jornada do Campeonato, o dirigente já considera que o treinador afinal não era bem aquilo que ele pensava quando o contratou e o treinador, por sua vez, pensa que o dirigente, tal como os políticos em período eleitoral, prometeu muito mas está a cumprir pouco e que os jogadores, escolhidos por ele, não são tão bons como pareciam na pré-época, resta-lhe por isso a convicção de que com tempo vai conseguir moldá-los à sua imagem. Contudo, esse “tempo”, nem sempre é concedido pela direção e, prova disso, é que esta época, que ainda vai no adro, já aconteceu a primeira “chicotada” num dos clubes que está, presentemente, a disputar a 1ª Distrital, outras se seguirão.

Em relação aos jogadores, os que são opção estão felizes pelo passo dado, os que apesar de não serem sempre opção vão entrando mantêm a esperança de agarrar o lugar na equipa e, por último, os que não são opção ficam com a moral em baixo e já começam a pensar que o treinador dificilmente vai dar-lhes o devido valor. Aos jogadores menos utilizados, o meu conselho é que não desmoralizem, as épocas são muito longas e todos, sem exceção, vão ter oportunidade de, mais cedo ou mais tarde, mostrar o seu valor. Todavia, para isso é preciso mostrar em todos os treinos a ambição de ser um dos onze e a vontade de ajudar o grupo na conquista dos seus objetivos. Como um treinador que trabalhou comigo dizia, “são os jogadores que têm de dizer se querem jogar ao domingo”.

Eu, nos anos que levo disto, o que mais gosto de ouvir é um treinador dizer, antes da convocatória, é: “Estou com uma enorme dor de cabeça, nem dormi a pensar que jogadores ia escolher para os dezoito e quais desses ia colocar no onze inicial”. Normalmente, estas frases surgem perante bons grupos que realizam, consequentemente, bons campeonatos e quando é assim, podemos dizer que, temos meia-vitória antes do início de cada jogo.

Falando agora, em concreto, da 1ª Distrital, estas duas jornadas vieram confirmar aquilo que eu pensava antes de a época começar, este campeonato vai ser muito mais competitivo que o anterior, as equipas que eram fortes estão ainda mais fortes e, por isso, acredito, seriamente, que vamos ter um campeonato de luxo e uma verdadeira montra para os jogadores que estão nesta prova.

Relativamente à 2ª Distrital, os resultados das primeiras jornadas levam a crer que vai ser um campeonato muito equilibrado sendo por isso prematuro, nesta altura, apontar o grande favorito ao título, uma vez que com o novo figurino da prova o campeonato vai ser muito longo e muitas coisas podem acontecer durante o decorrer da época e, consequentemente, desequilibrar a balança da luta pelo primeiro lugar.

Começa também esta semana a Intel – Taça Fundação que será disputada por 23 equipas. Fiquei curioso com o grande número de participantes e fui ver quais eram e confesso que fiquei, realmente, espantado quando constatei que a maioria tem no seu passado recente passagens pelos campeonatos distritais da AFS que abandonaram por razões de várias ordens mas principalmente por razões financeiras, porque é cada vez mais difícil “aguentar” os encargos de competir numa prova da Federação. A maioria dos clubes da distrital não pagam qualquer subsídio aos técnicos e atletas e mesmo assim por época precisam, no mínimo dos mínimos, de 12 mil euros para conseguirem aguentar com as despesas das inscrições, seguros, organização de jogos e policiamento.

Perante isto o que é que faz a Associação Futebol de Setúbal para inverter o estado das coisas?! Nada, ou melhor ajuda a que as pessoas que andam nisto por pura “carolice” sejam cada vez menos. Temos uma direção que, infelizmente, prefere estar em pedestais do que no terreno, prova disso é que raramente se vê um dirigente associativo num jogo da distrital, independentemente dos escalões, muito menos num treino, desta forma como é que podem dar valor ao que fazemos e às dificuldades que temos no dia-a-dia?! É impossível.

As inscrições dos jogadores têm um valor desproporcionado em relação à realidade financeira dos clubes, valor ao qual acresce o preço das transferências – que não vai para o clube que o jogador representava mas sim para os cofres da Federação – e, ainda, um seguro que, definitivamente, não segura nada, mas que teve um aumento de quase 100% já para não falar no aumento brutal da franquia.

Depois ainda temos um conselho de disciplina sem a menor sensibilidade para discernir os comportamentos dos agentes desportivos no calor de um jogo de futebol aplicando multas impiedosas aqueles que diariamente sem qualquer renumeração fazem tudo para que o distrital não acabe e, consequentemente, para que os senhores que os julgam possam usufruir das benesses dos cargos que ocupam.

Se aos árbitros eu desculpo sempre pelos seus erros até porque têm de julgar no calor do momento, aos doutores do conselho de disciplina acredito, verdadeiramente, que falta-lhes inequivocamente conhecimentos. E, alguns dos funcionários associativos têm, cada vez mais, tiques de intelequetalidade e sempre que os dirigentes perguntam alguma coisa limitam-se a dizer: “Leia o comunicado X ou o comunicado Y”. Quanto a mim, estas são umas das muitas razões que levam a que os clubes que disputam os campeonatos distritais sejam cada vez menos e os clubes que disputam a Inatel sejam cada vez mais.

No entanto, que fique bem claro que não tenho, absolutamente, nada contra a Inatel, bem pelo contrário, admiro as pessoas que integram estes campeonatos e tenho lá muitos amigos. Aproveito, inclusivamente, para desejar felicidades a todas as equipas, em especial ao Sporting Vinhense e ao Azul e Ouro.

 

Amândio Jesus

Diretor Desportivo