Anualmente nos noticiários, somos confrontados com a notícia acerca do gasto de recursos naturais do planeta por parte dos humanos, o chamado dia da Sobrecarga da Terra (Earth Overshoot Day). O título “esgotámos os recursos naturais do planeta um mês mais cedo do que o ano passado”, não é propriamente desconhecido. auamas vezes surge em escala mundial, outras vezes especificado só para o nosso país “Portugal esgotou os recursos um mês mais cedo que o ano passado”.
É um indicador que alerta para o nosso exagerado nível de consumo e que lançado desta forma, nos chama à atenção para esse mesmo problema. Arrisco até dizer que cada vez mais nos chama à atenção, e bem.
Lembrei-me deste tradicional momento noticioso por um assunto totalmente diferente, espoletado pelas declarações da ministra da justiça, Francisca Van Dunem, a propósito das vacinações indevidas (ou devidas, já que há muitos crentes na tese “melhor assim que desperdiçar”).
Aquando do aparecimento de casos de vacinação indevida, ou seja, quando finalmente algum português se tentou aproveitar do seu lugar para se vacinar a si, aos amigos ou familiares, antes da população considerada prioritária, Marta Temido, ministra da saúde, alertava para a possibilidade de existirem sanções criminais. Com o andar da carruagem, ou talvez com a crescente descoberta de que os casos de vacinação indevida estavam com uma vincada incidência no grupo de pessoas com cartão de militante do PS, parece que existirá afinal alguma dificuldade em punir as pessoas.
Sobre a problemática, Francisca Van Dunem avança com uma lógica teoria: “O país é relativamente pequeno, e em certos estratos toda a gente se conhece e tende-se a conceder vantagens a pessoas relativamente próximas”. Mais à frente na entrevista refere que as vacinações indevidas também se deveram a problemas na programação, dando uma achega à teoria de que mais vale uma seringadela no braço de um amigo/familiar que por mero acaso se encontre à porta, que uma vacina estragada. Nesses casos a vacinação indevida é não só devida, como também um dever patriótico, pois é totalmente impossivel saber de antemão se vão sobrar vacinas.
Porém, a resposta da ministra da justiça tem muito mais importância que o que possa parecer. É muito esclarecedora e obriga-nos a, humildemente, reconhecermos que somos injustos e para além disso, burros. É lógico que num país pequeno aconteçam muito mais aproveitamentos, que aliás nem aproveitamentos são, mas sim situações em que as pessoas se veem obrigadas a aproveitar-se dos cargos que ocupam porque infelizmente conhecem toda a gente.
Atente-se por exemplo que no Brasil, um país 90 vezes maior que Portugal, são muito raros os casos de políticos que se aproveitam dos cargos para favorecer amigos e familiares. É um dado mundialmente conhecido que o número de aproveitamentos indevidos é proporcionalmente inverso ao tamanho do país.
É por isso que desde o início da pandemia em Portugal, já tivemos um secretário de estado que pertencia à equipa de coordenação do estado de emergência, a ver-se obrigado a indicar a uma Câmara Municipal a compra de testes à empresa de um amigo. É também pelo reduzido tamanho do país que o governo se viu obrigado a adjudicar a um ex-autarca do partido, nove milhões de euros em máscaras. E é também porque “em certos estratos toda a gente se conhece”, que uma militante utilizou o seu cargo na Segurança Social para se vacinar antes da população prioritária. É apenas o apontar do óbvio num país em que meio governo se compõe de familiares (o próprio marido da ministra da justiça é regularmente escolhido por elementos do governo para executar determinadas tarefas de cariz jurídico). Não é má vontade nem aproveitamento, é o Portugal que é um Portugalinho.
Sarcasmos à parte, a desculpa que a nossa ministra deu para os casos de vacinação indevida são no mínimo uma piada, em que quem se ri é apenas o PS. O que Francisca Van Dunem quis dizer e que se aplica não só aos episódios de chico-espertice, mas a todo um comportamento padrão de membros do Partido Socialista em Portugal, é que o nosso país é muito pequeno para a família PS se poder ajudar sossegadamente.
Sendo uma família unida, é pena que não tentem procurar a solução que as famílias usualmente procuram quando sentem que a casa se torna pequena: Mudar-se. Não o fazem porque o esforço de um ou outro caso exposto, tem valido a pena para a generalidade do agregado socialista. Para além do dia da Sobrecarga da Terra, devíamos ponderar o dia da Sobrecarga de Socialistas para sabermos quantos Portugais são precisos para alimentar o PS.
João Conde