Serão, em breve, passados onze anos desde que um titular de uma pasta ministerial decidiu elevar o seu discurso recorrendo a um termo Português com sotaque Francês. Tal como eu, muitos se recordarão da célebre (sic) frase do então ministro das Obras Públicas, Mário Lino: “Aeroporto na margem Sul? Jamais! Na margem sul não há cidades, não há gente, não há hospitais, nem hotéis nem comércio”.
Hoje, tal como então, continuo a reputar a tirada do senhor ministro como infeliz e, francamente, redutora para a região e, sobretudo, para as suas gentes. No entanto, se me debruçar, desapaixonada e racionalmente, sobre os fundamentos da afirmação do senhor ministro, não posso deixar de lhe conferir algum mérito. Senão vejamos:
Comércio: ao focarmo-nos no comércio local, facilmente constatamos que aquele que não morreu, está moribundo. A obrigatoriedade de pagamento do estacionamento, a quase total ausência de iniciativas de dinamização da actividade, entre outras causas, empurraram os pequenos comerciantes para a actual situação de colapso.
Hotéis: é, absolutamente, ridícula a oferta! Quer na vertente empresarial, para a qual encontramos duas, três opções (uma delas, com uma magnífica vista para…a autoestrada), quer na vertente lúdica que proporciona uma mais ampla escolha mas, ainda assim, ridiculamente, escassa em quantidade e qualidade, sobretudo se pensarmos no privilégio de uma margem fluvial e nos 15 kms de praia que continuam “ad eternum” sem serem devidamente preservados e explorados.
Hospitais: com a devida vénia aos profissionais de saúde que, ao longo das décadas, seguem conseguindo impossíveis, é lamentável que a margem Sul, não obstante o massivo aumento demográfico que tem registado, continue a ser servida por um único hospital. Sobretudo se considerarmos que, à altura da sua inauguração, já estaria desajustado face à população que serve.
Deixei para o fim as gentes. São gentes boas, gentes que nada devem ao que de melhor se pode encontrar por este nosso País. São gentes sequiosas de mudanças que tardaram quarenta anos, de melhorias que tardam ainda em concretizar-se.
São gentes que criam aqui os seus filhos com todas as dificuldades que uma escassa rede escolar, uma deficiente rede de transportes públicos acarretam e que os vêm partir para, mais ou menos, longe, porque a região onde nasceram e cresceram não lhes faculta as oportunidades que pretendem e merecem.
São gentes que, orgulhosamente, continuam, diariamente e através do seu exemplo, a provar ao senhor ministro que a (boa) matéria-prima está cá, reside na margem Sul; basta que lhes seja dada a hipótese de o demonstrarem.
*Militante do CDS-PP e Coordenador do Pelouro de Saúde da Concelhia de Almada