O Corona Vírus mostrou que não estamos preparados.
Falemos do mundo que hoje damos por garantido. Em tempo de crise as nossas mordomias podem durar semanas ou apenas dias. O covid-19 é um exemplo destas crises causadoras de dúvida e instabilidade.
A raiz do problema começa na educação. Não basta a falta de preparação para as circunstâncias da vida, em que nos são ensinados os sobretudo inúteis nomes dos reis de Portugal em detrimento dos essenciais primeiros socorros ou de como funciona a sociedade. Sem saber como salvar uma vida em caso de emergência ou de como se operam os nossos direitos base ou impostos, há falhas ainda mais profundas.
Não sabemos os porquês do planeta Terra. Concentramo-nos em viver em comunidades de milhares de pessoas com o foco numa determinada posição, confinados a um canto da sociedade. Somos peças num puzzle imperfeito. A maioria nada sabe de sobrevivência, porque até então não foi preciso.
Quem sabe o que retirar da natureza à sua volta? E quando? No caso de ausência de internet, como se distinguem as plantas medicinais das tóxicas? Como fazer fogo, construir um abrigo ou purificar água? Muito do nosso tempo livre é passado em centros comerciais, à frente dos computadores ou artes muito específicas, e a vivência inserida no nosso ecossistema é esquecida.
E quantos sabem cavar e plantar batatas? Diariamente nas universidades perdem-se agrários para o sexappeal das business schools. O que nos dá dinheiro e põe comida no prato hoje, provém de habilidades que não serão úteis em tempo de urgência com recursos finitos. As gerações mais antigas passavam por grandes dificuldades, mas estavam melhor preparados para eventualidades destas, pois eram saberes básicos, hoje semi-esquecidos.
O surto de covid-19 alertou-nos para a importância da precaução. Então temos de adquirir as ferramentas mentais e manuais para nos desenrascarmos num cenário desorganizado e quiçá, mais próximo do selvagem. Isto, sem ter de o fazer dia-a-dia, apontando para uma abordagem prática e duradoura para todos, humanos e não só.
Mesmo com o nosso nível de difusão de informação e décadas de instrução, poderemos estar inaptos em alturas de risco como esta, em que sentimos na pele de cada um e no alicerce da nossa estrutura mundial. Sim, é uma realidade alternativa assustadora, mas não há certezas absolutas gerir tudo isto.
Fica a pergunta: quanto mais longe estivermos do conhecimento do planeta onde vivemos e da sua natureza e gestão sustentável, aguentaremos um futuro incerto e problemático? Se isto der para o torto, ao menos que aprendamos antes de chegarem as adversidades.
Mauro Hilário