A voragem mediática que nos envolve, aliada à polarização do espectro político nacional, após anos de incerteza e sacríficos de dúbio proveito, devoram a razão e constituem-se como inimigos da clarividência de análise. Numa época de factos alternativo e novas novilínguas, pausar para refletir constitui, mais do que um dever de honestidade intelectual, um imperativo de responsabilidade.

Nos últimos dias Portugal foi presenteado com a divulgação de mais um conjunto de previsões e dados que atestam, por um lado o bom desempenho da nossa Economia e, por outro, a adequação material da política prosseguida pela equipa do Ministério das Finanças.

Em contraste com um passado recente de dolorosa memória, o avolumar de boas novas já não constitui, neste novo tempo, novidade alguma. Debrucemo-nos numa análise mais fina:

  1. As previsões económicas de Inverno, divulgadas no passado dia 13, pela Comissão Europeia, vieram rever em alta o desempenho da nossa economia, sustentado no “forte desempenho na segunda metade do ano, particularmente no turismo e no consumo privado”.

 

  1. No dia seguinte à publicitação da cautelosa aritmética de Bruxelas, o INE publicou as estimativas rápidas das contas nacionais, que vieram confirmar a aceleração da economia portuguesa com um crescimento homólogo do PIB acumulado de 1,9% no quarto trimestre de 2016, mas também um crescimento de 0,6% deste trimestre, face ao anterior. Pelo que representa em termos de sustentabilidade, é fundamental destacar que este desempenho tem como pedra angular o papel do crescimento da procura interna e, em particular, um tão esperado quanto necessário crescimento do investimento.

 

  1. A série de boas notícias teve seguimento com um resultado notável em dois leilões de Bilhetes do Tesouro, promovida pelo IGCP, num volume global de 1,350 milhões de euros em dívida a 3 e 11 meses, com taxas negativas e um assinalável disparo na procura, em ambas as maturidades.

 

  1. Por fim, mas não menos relevante, para espanto dos mais céticos e distraídos, Mário Centeno anunciou, na Comissão de Orçamento e Finanças, que o défice de 2016 não será superior a 2.1% do PIB. Afinal, ao contrário do que aludiu Maria Luís Albuquerque, este resultado não só era aritmeticamente possível como deverá ser um facto consumado.

 

Variando a fonte – das instâncias europeias, à Unidade Técnica de Apoio Ornamental (UTAO), passando pelo INE – a conclusão mantem-se constante: a vastíssima maioria das estimativas sobrestimaram o défice e o desemprego, subestimando a confiança, o investimento, o crescimento e o emprego. Com efeito, em 2017 Portugal abandonará confortavelmente o procedimento de défice excessivo, às mãos do mais baixo défice da história da democracia, de uma taxa de crescimento acima do esperado e da consequente criação acumulada de 82.000 postos de trabalho.

Em suma, os indicadores de crescimento da nossa economia são dos que melhor comparam no contexto europeu, e este facto terá repercussões positivas nas decisões dos investidores no decurso deste ano.

Talvez pelo facto de os números não serem sencientes, sindicalizados ou corporativos, não raras vezes, os agentes políticos dedicaram-lhes as mais variadas práticas de tortura. O exercício era tão néscio quanto simples: travestir o negativo em positivo. Paradoxalmente, uma direita à deriva, cujo sucesso depende do insucesso do país, dedica-se hoje ao mais elaborado dos exercícios: mascarar as crescentes conquistas da nossa economia no ocaso da pátria.

Assim se narra a história do início de um novo ciclo virtuoso que, não estando livre de constrangimentos externos, comprova o essencial: A alternativa existe, e a realidade comprova-o. Acima do ruído estéril de uma oposição perdida nos meandros da sua própria sobrevivência, aos investidores resta o essencial, apostar num Portugal em sustentado crescimento.

 

André Pinotes Batista

Deputado eleito pelo PS e membro da Comissão de Economia, Inovação, Infraestruturas e Obras Públicas.

15-02-2017