Ontem, 12 de agosto, assinalou-se o dia internacional da juventude. Este dia é assinalado desde 1999, após resolução da ONU, como resposta à recomendação feita pelo  Conferência de Ministros responsáveis pela Juventude, que ocorreu em Lisboa em 1998. 

Este dia, tem como um dos principais objetivos chamar à atenção para problemas vividos pela Juventude. Este ano, o tema em foco foi a ação climática, reconhecendo a mobilização de milhares de jovens preocupados com as alterações climáticas antropogénicas. Mobilização essa que também chegou a Setúbal, em que algumas dezenas de jovens se manifestaram em frente ao edifício da Câmara Municipal. 

O dia não passou despercebido no nosso país, com muitas instituições a assinalá-lo e até mesmo a proporcionarem atividades para o efeito. No entanto, aqui na nossa cidade, o dia passou ao lado do muito dinâmico Gabinete de Juventude que não o assinalou, pelo menos diretamente. 

Digo que não o assinalou diretamente porque na verdade fez uma publicação nas redes sociais que tem tudo a ver com o Dia Internacional da Juventude. A Divisão de Juventude da Câmara Municipal de Setúbal anunciou um projecto de voluntariado, onde oferece um lanche e o pagamento de 2,40€ por hora a jovens entre os 18 e os 30 anos, que pretendam “fazer algo diferente” como é dito no cartaz. E o que é “fazer algo diferente”? Limpeza de zonas de mato, reabilitação de espaços verdes e campanhas de sensibilização. 
O que pode parecer à primeira vista como um simples incentivo ao voluntariado, é nada mais nada menos que ajudar a perpetuar uma visão que em muito tem prejudicado os jovens em Portugal. Oferecer um lanche e uns tostões em troca do trabalho que é competência da Câmara Municipal, não é voluntariado, é obter mão de obra barata, utilizando as motivações e preocupações dos jovens para a pintar de ação de beneficência desinteressada. 


Repare-se que esta é a mesma autarquia que nos cobra, por exemplo, um IMI altíssimo. Que paga estatuetas a peso de ouro e não tem problemas em gastar uns milhares para ter uma banca na Festa do Avante. 
Mas para fazer “algo diferente”, e que por acaso é sua competência, como limpar mato, ativa um projecto de voluntários pagos com um lanche e uma nota de dez. 


No fundo, este projecto, patrocinado também pelas juntas de freguesia, foi um assinalar do muito que está errado sobre a juventude não só em Setúbal, mas em Portugal. Aqui, foi só mais um exemplo, do que é ser governado de forma paternalista, por uma autarquia que simula estar interessada no que queremos, mas que continua a definir tudo centralmente. Este é mais um exemplo de como em Portugal, ora nos chamam de geração mais bem preparada de sempre, ora nos estão a oferecer lanches para irmos limpar mato. 
Pode ser que para o ano assinalem este dia de forma mais positiva.

João Conde