Mudança
É nossa arte, tradição e bravura!
E alguns assim o descrevem.
A verdade é que até hoje dura,
Mas para lá ir poucos se atrevem.
Há quem traga a causa ao peito,
Há quem vibre de entretenimento.
A pergunta que nasce do conceito:
Afinal o bicho deu consentimento?
Património cultural de velhas raízes,
Da campina até grandes senhores.
Ensinados desde brandos petizes
A ver a actuação e a atirar flores.
Admiração pelo animal e seu combate,
E na contribuição para a economia.
Repugnação pelo sangue no seu abate,
E desvalorização da sua fisionomia.
No campo com uma vida fantástica,
Até o abrir do curro e entrar em cena.
Divergência que apesar de drástica,
Enche de felicidade a plateia da arena.
Sem dúvida um rival de nobreza,
Se merece tal destino é a incerteza.
Algo artístico feito com destreza,
Que não parece parte da sua natureza.
Para este pequeno país é vernáculo
E o apuramento de uma bela raça.
Falamos de festa e de espetáculo,
Quem é a besta no meio da praça?
Há desde o cavaleiro com bandarilha,
À recreação com cordas ao pescoço.
Se acaba por ser arte ou armadilha,
Cada qual desenhará o seu esboço.
Para muitos é o único sustento,
O direito à expressão de liberdade.
Para vários é o maior descontento,
Uma falta crassa de dó e piedade.
Optam pôr a vida em risco os audazes,
Mas esquecem que não apenas a sua.
Ofendidos por quem escreve cartazes
E manifesta opinião diferente na rua.
Corações distantes e pontos de vista,
Vamos tentar equilibrar esta balança.
Investir menos numa mente bairrista,
E mais numa atitude de mudança.
Doutras crenças há que ser tolerante,
Para tantos é um valor significante.
Convém ouvir antes de ser provocante,
Mesmo que para outros seja asfixiante.
Mauro Hilário